Brexit. Johnson e Von der Leyen concordam com "importância" de alcançar acordo comercial

por RTP
Reuters

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reuniu-se este sábado à tarde por videoconferência com o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, para avançar com as negociações bilaterais, dias depois de Bruxelas ter avançado com uma ação legal contra o Reino Unido. O governo britânico e a UE concordaram em "trabalhar intensamente" para alcançar um acordo comercial pós-‘Brexit’.

Boris Johnson e Ursula von der Leyen aprovaram mais um mês de negociações para o Brexit, depois de ambos concordarem que se justifica "um último esforço" para chegar a um acordo comercial. Os dois lados consideram que houve progresso nas negociações entre a UE e o Reino Unido, mas que as "diferenças significativas" mantém-se, segundo um comunicado conjunto de Downing Street e da Comissão Europeia.

Durante um encontro realizado por videoconferência, os dois líderes "deram instruções aos (seus) principais negociadores para trabalhar intensamente de forma a tentar ultrapassar as diferenças", lê-se ainda no comunicado.

"Foram feitos progressos nas últimas semanas, mas persistem diferenças significativas, não só no domínio das pescas, mas também em termos de regulação ou de governação", prosseguiu a nota informativa conjunta, precisando que as duas partes "acordaram em falar regularmente sobre este assunto".

Um porta-voz de Downing Street disse à BBC que, tanto o primeiro-ministro britânico como a líder do executivo comunitário, concordaram quanto à importância de se chegar a um acordo "como uma base sólida para uma relação estratégica UE-Reino Unido no futuro".

Esta reunião entre Johnson e Von der Leyen ocorreu um dia depois da nona sessão de discussões conduzida pelo principal negociador europeu, Michel Barnier, e pelo seu homólogo britânico, David Frost, a última agendada no atual calendário.

As duas partes já se tinham manifestado, na sexta-feira, preocupadas com o pouco tempo que resta para alcançar um acordo antes do dia 15 de outubro ou no final do mês, os prazos estabelecidos por Boris Johnson e pela União Europeia para conseguir colocar em vigor um potencial acordo comercial antes do fim do ano.
Negociações continuam nas próximas semanas

Dirigindo-se aos jornalistas ainda antes da videoconferência com Von der Leyen, durante uma visita a Leeds, Johnson disse que pretendia um acordo como o firmado entre a UE e o Canadá, mas relembrando que o Reino Unido está pronto caso tenha que sair sem acordo.

"Estamos decididos em qualquer rota, estamos preparados para qualquer um dos cursos e faremos com que funcione, mas depende muito dos nossos amigos e parceiros"
, disse Johnson.

Na próxima semana, Michel Barnier vai deslocar-se a Londres para prosseguir com as negociações com o seu homólogo britânico David Frost. Mas na sexta-feira, o principal negociador europeu disse aos membros do Parlamento Europeu que acreditava que as duas últimas semanas de outubro seriam o "período de crise", tendo, no entanto, a esperança de que houvesse um acordo pronto, entretanto, para ratificação no início de novembro.

Ambas as partes estão vinculadas pela obrigação de cooperar de boa-fé no cumprimento do Acordo de Saída.

A fase de transição que foi negociada após a saída formal do Reino Unido da UE (processo que ficou conhecido como 'Brexit'), a 31 de janeiro deste ano, e que manteve o acesso do país às estruturas europeias e ao mercado único europeu termina a 31 de dezembro. Se a UE e o seu antigo parceiro não conseguirem chegar a um acordo, apenas as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), nomeadamente os direitos aduaneiros, serão aplicáveis a partir de janeiro de 2021 às relações comerciais entre Londres e os 27.

O encontro deste sábado aconteceu depois da Comissão Europeia ter decidido instaurar, na quinta-feira, um procedimento de infração contra o Reino Unido por causa de uma proposta de lei controversa que anula parcialmente o Acordo de Saída do Reino Unido da UE. Depois de o bloco comunitário ter estipulado como prazo até final de setembro para que Londres retirasse dessa proposta de lei as partes mais polémicas, o que não aconteceu, Bruxelas decidiu avançar com uma ação na justiça, como já tinha ameaçado.

O executivo comunitário entende, assim, que o Reino Unido está a violar as suas obrigações decorrentes do Acordo de Saída e do direito internacional, pelo que dá agora ao Governo britânico um mês para responder e mudar tal atitude.

O artigo 5.º do Acordo de Saída prevê que o Reino Unido tome todas as medidas adequadas para garantir a execução das obrigações decorrentes do documento e que se abstenha de tomar qualquer medida que possa afetar a realização desses objetivos.

Destinada a substituir as normas europeias por regras para o comércio entre as diferentes regiões do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) após a saída da UE, a legislação dá ao executivo britânico poderes para ignorar cláusulas que estão no Acordo.
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