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Brexit sem acordo ameaça esvaziar supermercados no Reino Unido
O cenário de saída da União Europeia sem acordo poderá colocar em risco a segurança alimentar em território britânico. O Consórcio britânico do Retalho (British Retail Consortium) alerta para as dificuldades que algumas empresas e cadeias alimentares poderão enfrentar no curto prazo, em caso de Brexit sem entendimento entre Londres e Bruxelas.
Na véspera do voto decisivo na Câmara dos Comuns que irá determinar os próximos passos de um novo plano do Governo britânico para o Brexit, chega um aviso por parte do consórcio retalhista no Reino Unido. A British Retail Consortium alertou esta segunda-feira para os perigos de uma saída da União Europeia, com “consequências para milhares de consumidores”.
“Como estes produtos são frescos e perecíveis, devem ser transferidos rapidamente das quintas para as nossas lojas. Esta cadeia de alimentação rápida será significativamente interrompida caso não haja acordo”, avisa o grupo na missiva que é dirigida à Câmara dos Comuns.
Numa carta dirigida aos membros do Parlamento britânico, o consórcio avisa que “não é possível mitigar todos os riscos das cadeias de fornecimento” e que partilha os “receios de uma disrupção no curto prazo”. “Receamos que os nossos clientes sejam os primeiros a passar pela experiência de um Brexit sem acordo”, diz a carta enviada
pelo British Retail Consortium ao Parlamento.
A Câmara dos Comuns vota na terça-feira um plano do Governo para tentar avançar com o Brexit. Há duas semanas, o acordo negociado entre Londres e Bruxelas foi chumbado pelo Parlamento britânico.
Agora, os deputados iniciam a votação de uma série de emendas, que a serem aprovadas poderão dar azo à aprovação de um acordo final antes de 29 de março, a data definida para a saída do Reino Unido.
Um terço dos alimentos chega da UE
“As nossas cadeias de fornecimento estão intimamente ligadas à Europa – quase um terço dos alimentos que consumimos no Reino Unido chega da União Europeia. Em março, a nossa situação ainda será mais complicada, uma vez que a produção do Reino Unido estará fora da época”, alerta o consórcio na carta que foi divulgada esta segunda-feira.
O consórcio sublinha que, neste mês do ano, “90 por cento das nossas verduras, 80 por cento dos nossos tomates e 70 por cento das nossas frutas são provenientes da UE nessa altura do ano”.
De acordo com os dados do Governo, citados por este consórcio, uma saída sem acordo poderá resultar numa descida de cerca de 87 por cento do comércio nas zonas de passagem de Calais a Dover, no Canal da Mancha.
“Para os consumidores, este cenário vai reduzir a disponibilidade e o prazo de validade de muitos produtos nas prateleiras das nossas lojas”, alerta o British Retail Consortium, assinada por algumas das maiores cadeias de supermercado e restauração a operar no Reino Unido, incluindo a Sainsbury’s, Lidl, McDonald’s ou KFC.
O conglomerado aponta ainda as preocupações com os “riscos significativos em manter a possibilidade de escolha, a qualidade e a durabilidade” da alimentação disponível nas lojas e cadeias de compra. “Haverá pressão inevitável nos preços da alimentação devido aos custos de transporte, desvalorização da moeda e tarifas aduaneiras”, sublinham. No ano passado, o Governo britânico revelou um plano de contingência para o caso de um Brexit sem acordo. O plano concreto prevê a tonelagem de transporte marítimo para mercadorias e o destacamento de 3.500 homens e mulheres das Forças Armadas, prontos a responder a qualquer tipo de disrupção.
Nesse sentido, a missiva alerta também para o impacto que as tarifas poderão trazer aos consumidores, uma vez que, atualmente, apenas 10 por cento do total de importações na alimentação estão sujeitas às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Se o Reino Unido voltar a adotar na totalidade o quadro da OMC, os custos de importação aumentariam de forma significativa, tornando-se mais um elemento de pressão sobre os bens importados na área da alimentação.
O British Retail Consortium apela ao Parlamento para que “encontre rapidamente uma solução que evite o choque de uma saída sem acordo e desvie os riscos para os consumidores britânicos”.
Uma saída do Reino Unido sem acordo traduzir-se-ia num corte total e imediato das ligações económicas entre Londres e Bruxelas. Caso os deputados não aprovem as alterações ao plano de Theresa May e a União Europeia não conceda mais tempo para as negociações, os britânicos abandonam o espaço comunitário de forma definitiva a 29 de março.
Em caso de corte abrupto dos vínculos existentes, o Reino Unido passaria a seguir as regras da Organização Mundial de Saúde para negociar e fazer comércio com os países da União Europeia.