Bucha. Ucrânia nomeia dez militares russos envolvidos em alegadas violações dos Direitos Humanos

A procuradora-geral da Ucrânia reuniu os nomes de dez militares russos que garante estarem envolvidos em alegadas violações dos Direitos Humanos na cidade de Bucha, ocupada durante cerca de um mês pelas forças de Moscovo. "Mataram civis, bombardearam infraestruturas civis, torturaram e praticaram crimes sexuais", assegurou Iryna Venediktova.

Joana Raposo Santos - RTP /
Investigadores ucranianos identificaram "mais de oito mil casos" de alegados crimes de guerra desde o início da invasão russa. Zohra Bensemra - Reuters

Os investigadores ucranianos identificaram “mais de oito mil casos” de alegados crimes de guerra desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro, adiantou a procuradora-geral a uma estação alemã.

Numa publicação no Facebook na quinta-feira, a responsável identificou dez militares russos – dois sargentos, quatro cabos e quatro soldados – que diz estarem “envolvidos na tortura de pessoas pacíficas” durante a ocupação da cidade de Bucha, a menos de 30 quilómetros de Kiev.

Segundo Venediktova, os militares pertencem à 64.ª Brigada de Fuzileiros Motorizados da Rússia, uma unidade sediada na região de Khabarovsk, na costa do Pacífico.

“Durante a ocupação de Bucha, eles fizeram civis desarmados reféns, mataram-nos com sede e com fome e mantiveram-nos de joelhos com as mãos atadas e os olhos tapados”, acusou. “Temos provas de que, claro, estes soldados do primeiro exército de assaltantes roubaram moradores, levando pertences pessoais e eletrodomésticos como troféus”.

“Os reféns foram humilhados e agredidos com punhos e com armas. Foram espancados em troca de informação sobre a localização das forças armadas ucranianas… e alguns foram torturados sem razão aparente”, denunciou a procuradora-geral.
Especialistas reúnem provas no terreno
Já no início deste mês, o Ministério da Defesa da Ucrânia tinha identificado a 64.ª Brigada de Fuzileiros Motorizados da Rússia como a unidade ocupadora de Bucha, divulgando os nomes, categorias e passaportes de todos os militares.

Esta brigada recebeu em abril um título honorário por Vladimir Putin, que agradeceu o “grande heroísmo e coragem” dos homens que “protegeram a soberania e interesses nacionais da Rússia”.

Agora, Iryna Venediktova pediu ao público que ajudasse a reunir provas dos alegados crimes de guerra e avançou que a polícia e os procuradores ucranianos estão a investigar se algum dos dez militares russos agora nomeados esteve envolvido em homicídios. "Se reconhece estes soldados russos e tem provas do seu envolvimento noutras atrocidades, envie-nos provas", escreveu no Facebook.

As declarações da procuradora-geral chegam numa altura em que o Tribunal Internacional de Crimes de Guerra (ICC), nos Países Baixos, está a investigar alegadas violações por Moscovo. O Governo holandês já avançou que irá, “muito em breve”, enviar uma equipa de várias dúzias de especialistas forenses à Ucrânia em nome do ICC para que reúnam provas destes abusos.

Reunir tais provas não deverá ser uma missão difícil, dado que a retirada das forças russas de Kiev no início deste mês deixou para trás cenários de atrocidades em várias regiões dos subúrbios, com corpos de civis espalhados pelas ruas ou enterrados em enormes valas comuns.
“Provas extensas de execuções”
Os investigadores ucranianos já no terreno estão também a trabalhar com as vítimas sobreviventes na tentativa de identificarem mais alegados autores de crimes contra os Direitos Humanos.

“Suspeitamos de pessoal militar da Federação Russa”, explicou Stanislav Kozynchuk, vice-diretor da Procuradoria da região de Kiev. “Já percebemos quem esteve lá, o que aconteceu, e agora estamos a analisar as unidades militares que participaram em assassinatos”.

Segundo Kozynchuk, alguns dos militares suspeitos de crimes de guerra foram entretanto destacados por Moscovo para outras regiões da Ucrânia, pelo que se teme que os alegados massacres não fiquem por aqui.

Num relatório recente, a organização não-governamental Human Rights Watch escreveu que “as forças russas cometeram uma série de aparentes crimes de guerra durante a sua ocupação” de Kiev.

“Os investigadores encontraram provas extensas de execuções, desaparecimentos e tortura, que constituem crimes de guerra e possíveis crimes contra a humanidade”, lê-se no documento.

Moscovo tem, porém, negado quaisquer ações criminosas. A televisão estatal russa tem, aliás, avançado que as imagens de civis mortos em Bucha foram encenadas por Kiev ou que resultaram de crimes cometidos pelas forças ucranianas.

Numa reunião na quinta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, disse ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que “as forças russas não possuem qualquer ligação a Bucha”. “Sabemos quem o fez. Sabemos quem preparou esta provocação”, disse o líder da Rússia.
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