Budapeste. Centenas de milhares de pessoas participaram na Marcha LGBTQ+ proibida por Orbán

Centenas de milhares de pessoas participaram este sábado numa marcha pelos direitos LGBTQ+ e contra o Governo húngaro, que em março aprovou uma lei a proibir este evento anual, argumentando que as crianças devem ser protegidas. O presidente Viktor Orbán rejeitou o uso de violência física pelas autoridades, mas garantiu consequências para quem participasse em manifestações ilegais.

RTP /
Foto: Bernadett Szabo - Reuters

De acordo com os organizadores, cerca de 200 mil pessoas marcharam em Budapeste, um número sem precedentes para a Marcha do Orgulho na Hungria.

"Estimamos que estiveram presentes entre 180 mil a 200 mil pessoas. É difícil estimar o número exato porque nunca houve tanta gente no Orgulho de Budapeste", disse à agência France-Presse a presidente do evento, Viktoria Radvanyi.

O presidente ecologista da Câmara de Budapeste, Gergely Karacsony, também saudou a afluência recorde de pessoas. "Obrigado, Viktor Orbán, por promover uma sociedade mais tolerante", ironizou no Facebook.
Num ambiente festivo, as multidões desafiaram a proibição da marcha, considerada um retrocesso sem precedentes para os direitos LGBTQ+ na União Europeia.
Na última década, o Governo de Orbán restringiu gradualmente os direitos da comunidade LGBTQ+ e aprovou uma lei em março que proibe a realização da marcha anual, alegando a necessidade de proteger as crianças.

"Tenho orgulho em ser homossexual e tenho muito medo que o Governo nos queira deitar abaixo. Estou muito surpreendido por haver tanta gente", disse à AFP um dos participantes, de 66 anos, visivelmente emocionado.

Nos cartazes erguidos pelos participantes liam-se frases como "a liberdade e o amor não podem ser proibidos".Eurodeputados acusam Orbán de espezinhar direitos
Após o apoio de 33 países à manifestação, o ministro húngaro da Justiça avisou os diplomatas em Budapeste que, se participassem neste evento proibido, teriam de enfrentar as consequências.

Pelo menos 70 eurodeputados, entre os quais as portuguesas Ana Catarina Mendes e Catarina Martins, anunciaram a sua presença "para dizer a Viktor Orbán que não vamos tolerar que ele desmantele o projeto europeu e espezinhe os direitos fundamentais", apontou o eurodeputado francês Raphaël Glucksmann.

Foram instaladas câmaras ao longo do percurso e o reconhecimento facial poderá permitir às autoridades aplicar multas até 500 euros, enquanto a organização ou o apelo à participação é punível com uma pena de prisão de até um ano. Segundo o Governo da Hungria, os menores não devem ser expostos à homossexualidade e à transidentidade, e muito menos a cenas de "devassidão".

Para o analista político Daniel Mikecz, ouvido pela AFP, este procedimento tem como objetivo "intimidar as pessoas" e, a nível jurídico, a proibição viola os tratados europeus assinados pela Hungria aquando da sua adesão à UE, em 2004.

Para além da lei aprovada em meados de março, que proíbe este tipo de manifestações, o Governo de Orbán alterou a Constituição para garantir a sua proteção.

Apesar de a marcha estar proibida, um pequeno número de contramanifestantes de extrema-direita obteve autorização para marchar no mesmo local, tendo colocado uma cruz em frente ao ponto de partida.

c/ agências
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