Bug Y2K, o temor de há 15 anos

O Y2K, o Bug de há 15 anos, não acabou com o mundo mas abriu portas a uma nova etapa na informática. Em 2000, o teste foi ultrapassado e em 2038 há uma nova prova de fogo: o Y2K38.

Marcos Celso e Rui Mendes, RTP /
DR

Até podia ter sido o fim do mundo. O Bug do ano 2000 consistiu num erro informático designado para explicar um erro de lógica nos computadores. A  priori, e a julgar pela apreensão dos peritos informáticos, o fim dos tempos ou algo similar até podia estar próximo. No entanto, com algum tempo de antecedência, os programadores informáticos arregaçaram as mangas e puseram-se em campo para efetuar as alterações necessárias, visando solucionar a compatibilidade entre os diversos tipos de hardware e software.

O referido Bug – conhecido tecnicamente por Y2K - veio assustar pela sua complexidade nos sistemas informáticos utilizados pela maior parte dos computadores do planeta. Estava diretamente relacionado com os relógios que trabalham com duas casas decimais: os PC arriscavam ler 2000 como 00, isto é, como sendo o ano de 1900. Ou seja, em plena noite de folia, um computador podia ler "19" + "00", ou seja, 1900 - uma porta aberta para o “caos”.

Ninguém pode esconder que muitos especialistas não dormiram. Houve desassossego com o que podia acontecer à vida tecnológica dos nossos tempos. O Y2K veio criar uma certa “histeria” em todos os cantos do globo. A população não ficou imune e houve quem se rendesse às teorias sobre o “fim do mundo” e adaptasse o Natal e a passagem de ano como se das últimas se tratassem.

Portugal preparou-se para o pior, mas o otimismo reinou na noite de todas as respostas. A prova foi ultrapassada com sucesso, como registou a RTP nesse dia de 31 de dezembro de 1999.
Na verdade, nos últimos dias de 1999 – data simbólica para o mundo da fição científica – e com a aproximação do desconhecido ano 2000, estiveram bem patentes os temores e as risadas sobre o Bug.

Na prática, nesse dia de 31 de dezembro, fosse numa maternidade, num serviço de segurança, ou um outro qualquer serviço que funcionasse 24 horas por dia, havia caras apreensivas, mais ou menos otimistas, à medida que as horas iam passando, pois as notícias chegadas dos países asiáticos – a viverem já o novo ano milenar – traziam as mais agradáveis novidades sem registo de problemas fosse em semáforos, fosse em transportes, hospitais ou mesmo sistemas informáticos dos bancos.

A Ásia foi a primeira a receber o Y2K, uma experiência que serviu para o mundo ocidental acalentar maiores esperanças e respirar de alívio, pois tudo correu bem, sem problemas nos voos aéreos, nos transportes metropolitanos ou mesmo nas telecomunicações.
A origem do problema do Bug 2000 remonta ao surgimento dos primeiros computadores, uma vez que muitos utilizavam a linguagem COBOL.

Em causa estava a compatibilidade entre os diversos tipos de harware e software, datados dos anos 60 e seguintes, pois essas “máquinas” recebiam informação e dados muito limitados, o que implicava a formatação do tamanho das datas com a redução dos dois primeiros dígitos referentes aos anos. Desse modo, poupavam-se alguns bytes (unidade de informação digital equivalente a oito bits), algo muito útil na época.

Como as mentalidades não mudaram com o passar dos anos, criaram-se novos programas compatíveis com os anteriores e rapidamente chegou-se ao Bug do ano 2000. No entanto, as sociedades foram-se informatizando, nas empresas, nos serviços públicos, hospitais, sistemas de segurança - incluindo armamento atómico -, ou seja, todo o mundo já vivia de forma dependente dos computadores, utilizando sistemas e aplicações informáticas mais desenvolvidos e com representação de datas em dois dígitos.

Assim, o não solucionamento do Bug do ano 2000 poderia vir a ter consequências muito graves, algumas inimagináveis. Em termos práticos, este problema nunca foi equacionado até ao ano 2000. Foi necessário adaptar os sistemas "antigos" para a passagem de século, o que ocorreu sem grandes problemas, uma vez que a maior parte dos sistemas já estavam preparados para o ano 2000.

Os diversos "cenários apocalípticos", por exemplo, e caso o mundo "voltasse" a 1900, poderiam atingir contas bancárias, aplicando juros negativos, os credores passavam a devedores. Ao caos informático poderíamos passar para outro tipo de ameaça que pusesse em causa a segurança mundial.



Um pouco por todo o planeta, o pânico coletivo deu lugar ao sucesso informático, havendo apenas a registar alguns problemas em computadores de pequenas redes ou mesmo em redes pessoais. Como era de esperar, algo tão popular e mundialmente falado serviu para grandes lucros para as empresas de informática e de imensas estórias na imprensa.

O Bug do milénio até pode merecer estudos em teses de comportamento coletivo, pois gerou uma onda  de temores que em nada foram justificados, embora a Europa Medieval já tivesse assistido, em menor escala como rezam os livros, a um sentimento de medo coletivo de quem assistiu à passagem de ano de 999 para o ano 1000.
E ele vem aí outra vez

Os especialistas olham já para o preciso ano de 2038 e referenciaram uma situação semelhante à do ano 2000. Desta vez, e na linha do Y2K, estaremos diante do Y2K38, tratando-se de uma falha na representação de datas em computadores que poderá causar problemas em alguns programas.

Em causa estão os programas de representação de tempo POSIX por utilizarem referências temporais (data) baseadas no número de segundos (ignorando os segundos bissextos) desde 1 de janeiro de 1970 . Segundo os especialistas esta representação "é padrão nos sistemas operacionais do tipo Unix e afeta a maioria dos sistemas".

Desse modo, a maioria dos sistemas de 32 bits, o tipo de dados time t, utilizado para armazenar esta contagem de segundos, é um inteiro de 32 bits do tipo signed (considera o sinal). O último registo de tempo que pode ser representado por este formato, seguindo o padrão POSIX, é 03:14:07 na terça-feira 19 de janeiro de 2038 (UTC). Após este momento, a data será representada por um número decimal negativo que, dependendo da implementação, corresponderá ao ano 1970 ou 1901.

Assim, os programas referenciados correm sérios riscos relativamente à data corrente apresentada pois arriscam-se a sofrer erros de cálculo e de funcionamento.



A solução para este problema não é fácil, mas o fator tempo pode ajudar. Os técnicos entendem que o caminho a seguir passa por alterar a definição do time_t para 64 bits.

A maioria dos sistemas que suportam a arquitetura de 64 bits já suportam o time_t de 64 bits. A migração de sistemas já está a ocorrer e até 2038 há tempo para efetuar alterações fundamentais. Os especialistas informáricos alertam, no entanto, que milhões de sistemas de 32 bits foram instalados até 2006, o que pode complicar a respetiva substituição até 2038.



A esperança - dizem- reside no facto dos chamados "sistemas embarcados" poderem operar sem alterações por toda a vida do sistema que controlam. A utilização do time_t de 32 bits foi codificada em alguns formatos de arquivo, como o ZIP, o que significa que o problema pode permanecer por um longo período após a expiração da vida útil das máquinas envolvidas.
Portugal passou o milénio e viveu avanços e recuos

Se na primeira década do novo milénio o país viveu um consumismo desenfreado graças à moeda única (euro), com juros baixos e inflação controlada, esse cenário alterou-se substancialmente com o resgate financeiro de 2011, levando a novos hábitos de consumo.

O desemprego é o reflexo disso mesmo, alcançando valores nunca vistos em Portugal. Surgiu a recessão económica, acentou-se a tendência de queda de poder de compra dos portugueses e isso espelhou-se, por exemplo, na média da idade do parque automóvel, que já foi um dos mais renovados da Europa, para em 2013 ser um dos mais envelhecidos.
Indicadores em Portugal da última década e meia:


Fonte: Ine/Pordata

(nota: receita impostos diretos)

Um século adiado, o início de uma nova era - 2000

A chegada do ano 2000 não significou festejos para muitos matemáticos, por não aceitarem de bom grado que essa fosse, de facto, a entrada no novo milénio.

A culpa é da contagem dos séculos, uma vez que muitos consideram que o século I compreende os acontecimentos ocorridos entre o ano 1 e o ano 100, o que implica que o século II se refira aos acontecimentos iniciados no ano 101 até ao final do ano 200.



Assim, com esta tese matemática, apenas no ano 2001 ocorreu a entrada no novo século e milénio. Uma ideia difícil de aceitar num mundo mercantilizado, globalizado e ávido de celebrações. A folia do ano 2000 não deixou vingar essa teoria na prática.
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