Burcas e caixas de correio. Boris Johnson gera polémica

por RTP
Johnson comentava num artigo a proibição do véu islâmico na Dinamarca Yves Herman - Reuters

Numa crónica para o jornal The Telegraph, Boris Johnson comparou as mulheres que usam burca a “caixas de correio”, uma habilidade que já levantou críticas dentro do Parlamento britânico.

O ex-ministro britânico dos Negócios Estrangeiros utilizou uma crónica no The Telegraph para comparar as mulheres que utilizam burca a “caixas de correio” e “ladrões de bancos”.

A crónica dava conta da opinião de Johnson sobre o facto de a Dinamarca proibir na passada quarta-feira o uso de burcas e nicabes – um cobre todo o corpo da pessoa enquanto o outro apenas cobre a cabeça, deixando uma faixa para os olhos.

Boris Johnson afirmou estar contra a medida. No entanto, fê-lo de uma forma peculiar.

“Se optam por uma proibição total, arriscam-se a cair nas mãos daqueles que querem politizar e dramatizar o tão chamado choque de civilizações. Arriscam-se a transformar as pessoas em mártires e arriscam-se à repressão geral de qualquer símbolo ou afiliação religiosa pública”, defendeu Boris Johnson.

Mas o ex-ministro foi mais longe nas suas considerações, afirmando que achava “absolutamente ridículo que as pessoas decidissem andar por aí como caixas de correio”.

Disse ainda que, caso uma constituinte se apresentasse à sua frente no Parlamento com a cara tapada, sentir-se-ia “plenamente no direito” de lhe pedir que retirasse o véu de forma a poder “falar com ela em condições”.

Mencionou ainda a situação das raparigas que decidem utilizar burcas ou nicabes nas escolas: “Se uma rapariga estudante aparecesse na escola ou na universidade como um ladrão de bancos, por assim dizer, as autoridades deveriam ter permissão para conversar abertamente com aqueles que estão a pedir para ser instruídos”, referiu Boris Johnson.
Johnson, a “versão barata de Trump”
As opiniões de Boris Johnson já originaram críticas de vários membros trabalhistas do Parlamento britânico. David Lammy comparou-o a uma “versão barata de Trump”, defendendo que este está a” inflamar as chamas da islamofobia” para dar força às suas ambições eleitorais.



Naz Shah, deputada trabalhista desde 2015, também criticou o texto de Johnson: “Os últimos insultos racistas de Boris Johnson não podem ser ridicularizados, como é costume fazer-se. Dizer que as mulheres muçulmanas parecem caixas de correio, compará-las com ladrões de bancos e descrever o Islão como um problema foi um ataque calculado e publicado num jornal nacional”.

Um outro membro do partido trabalhista, Jess Philips, declarou num tweet que ia denunciar Johnson à Comissão de Igualdade e Direitos Humanos.



O Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha disse em comunicado que o texto de Johnson era “lamentável”: “Os seus comentários são particularmente lamentáveis no atual ambiente, onde a islamofobia e o ódio anti-muçulmano estão a tornar-se preocupantemente disseminados, com pouca ação do atual Governo”.

O porta-voz oficial da primeira-ministra Theresa May declarou entretanto que o Governo britânico não apoia a proibição do véu em público: “Essa abordagem prescritiva não estaria de acordo com os valores britânicos de tolerância religiosa e igualdade de género”.

Na passada quarta-feira, a Dinamarca proibiu a utilização pública de qualquer objeto que cubra o rosto. A medida engloba as burcas e os nicabes, mas também máscaras e barbas falsas. Uma mulher de 28 anos foi a primeira vítima da medida, tendo sido multada em mil coroas dinamarquesas (134 euros) depois de outra mulher ter tentado arrancar-lhe o nicabe.
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