Canal do Panamá. Seca restringe tráfego de navios durante um ano

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Dezenas de navios esperam no Pacífico para navegar no Canal do Panamá, a 22 de agosto de 2023 Bienvenido Velasco - EPA

O acesso ao Canal do Panamá, afetado pela seca e pelo fenómeno El Niño, continuará restringido à passagem de navios de carga entre os oceanos Atlântico e Pacífico durante pelo menos um ano.

A falta de chuvas, em consequência das alterações climáticas e do fenómeno El Niño, obrigaram à restrição do tráfego marítimo no canal que liga os dois oceanos. Desde 30 de julho que só é autorizada a navegação a 32 navios, em vez de 40, com um máximo de 13,4 metros de altura (44 pés). A medida que provocou um engarrafamento marítimo sem precedentes foi agora prorrogada. 

"Temos restrições no Panamá, mas o canal não está fechado” confirmou Laurentino Cortizo, presidente do Panamá na quarta-feira, desmentindo o seu homólogo colombiano que tinha afirmado o contrário.
“Planear melhor”

"Hoje, pretendemos prolongar estas medidas por um ano, a menos que chova muito na bacia hidrográfica do canal em setembro, outubro e novembro e encha os lagos", disse Ilya Espino, administradora adjunto do canal, à agência France Presse (AFP).

O anúncio da medida pretende ajudar os clientes do canal “a planear melhor” as futuras travessias, de modo evitar a repetição do cenário dos últimos dias, acrescentou Espino. As restrições causaram longas filas de espera de navios para poderem atravessar, o número subiu para 160 durante o mês de agosto.
"Podemos gerir facilmente uma fila de 90 navios", mas "130 ou 140, isso causa-nos problemas e atrasos", avançou Espino.
Os tempos de espera também atingiram o seu máximo em agosto: aumentando de três a cinco dias para 19 dias, atualmente mantém-se nos onze dias.
“Adaptar ou morrer”
O canal do Panamá movimenta seis por cento do comércio marítimo mundial, sendo utilizado principalmente pelos Estados Unidos, a China e o Japão e constitui uma importante fonte de receitas para o país, através da cobrança de portagens aos navios que nele circulam.
"Precisamos de encontrar soluções para que possamos continuar a ser uma rota importante para o comércio internacional. Se não nos adaptarmos, morreremos", garantiu o administrador do canal, Ricaurte Vasquez.
A passagem dos navios nas eclusas só é possível e sustentável com a ocorrência de chuva,
sem a qual não é possível atravessarem a cordilheira continental do istmo. Cada navio obriga à descarga de cerca de 200 milhões de litros de água doce, proveniente de uma bacia hidrográfica formada pelos lagos Gatún e Alajuela, também afetada pela seca.

Esta bacia é igualmente responsável pelo fornecimento de água potável a metade dos 4,2 milhões de habitantes do país.

A imposição de restrições, como a limitação do número de navios e da redução da capacidade de carga no canal, é um sinal “à indústria que estamos a tomar medidas definitivas para resolver o problema", disse o antigo administrador do canal, Jorge Quijano, em entrevista à AFP.

O número de toneladas de mercadorias em trânsito será "inferior a 500 milhões", contra 518 milhões em 2022. Tal representará uma quebra de receitas na ordem dos 185 milhões de euros, face a um volume total de portagens de quase 3 mil milhões de euros no ano passado, de acordo com a previsão da autoridade que gere o canal.

"Esta é uma situação que vai durar um ano, por isso não creio que seja pior do que a que vivemos durante a pandemia de Covid-19", acrescentou Ilya Espino.

c/agências

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