Caos ameaça Bolívia enquanto Evo Morales chega ao México

por Graça Andrade Ramos - RTP
Uma apoiante do Presidente demissionário da Bolívia, Evo Morales, protesta nas ruas de La Paz brandindo uma bandeira Wiphala, a 12 de novembro de 2019 Reuters

Os sindicatos bolivianos exigiram esta terça-feira o regresso do país à normalidade num prazo de 24 horas, pouco tempo depois do Presidente demissionário, Evo Morales, ter aterrado no México, país ao qual pediu asilo por recear pela própria vida. Em La Paz está marcada para as próximas horas uma sessão no Senado para eleger um Presidente interino, medida que pode vir a ser anulada por boicote do MAS, o partido do Presidente.

Isso mesmo anunciou o líder do MAS no Congresso, Sergio Choque, ao revelar à Agência Reuters a intenção dos deputados de não estarem presentes nessa sessão.

"Sem nós não haverá quórum e essa é a posição de todo o partido a nível nacional", garantiu Choque.

A Bolívia arrisca por isso cair num impasse político, ecoando o que se passa nas ruas de La Paz, ainda bloqueadas por barricadas e manifestantes.

Só as patrulhas contínuas de polícias e soldados, cujo apoio foi pedido pelas forças da ordem da capital administrativa do país, impedem confrontos entre grupos políticos rivais e pilhagens como as que irromperam após a demissão do Presidente.
Sindicatos exigem regresso à normalidade em 24 horas
O impasse poderá ficar resolvido antes de ocorrer, se os deputados do MAS desistirem do boicote, em resposta à ameaça emitida nas últimas horas pela maior central sindical boliviana.

A Central dos Trabalhadores da Bolívia anunciou a intenção de avançar para uma greve geral por tempo indeterminado, se a paz e a ordem constitucionais e civis não forem restauradas num prazo de 24 horas.

"Aos líderes políticos e civis que causaram todo este caos... Damo-vos 24 horas para restaurar a ordem constitucional, a paz social e a unidade do povo boliviano", declarou o líder da Central, Juan Carlos Huarachi, numa mensagem vídeo.

"O nosso país não merece isto", acrescentou.
Alternativa Jeanine Añez
À demissão de Morales seguiu-se a renúncia de todos aqueles nomeados na Constituição para assumirem a presidência, em caso de partida súbita do chefe do país, nomeadamente o vice-presidente do país, a presidente e o vice-presidente do Senado e o presidente da Câmara dos Deputados.

Neste vazio de poder, resta a segunda-vice presidente do Senado, a líder da oposição Jeanine Añez, que já afirmou esperar ser designada Presidente interina pela Câmara Alta, onde os apoiantes de Morales ocupam 19 dos 36 lugares.

Ser nomeada para o cargo interinamente "é o objetivo", afirmou Añez aos jornalistas, ao chegar ao Parlamento. "Espero que possamos lá chegar", acrescentou, "não podemos ficar sem Governo".
No caso da demissão de um Presidente, a Constituição do país prevê 90 dias para a convocação de um novo ato eleitoral.

A senadora de 52 anos já prometeu "convocar eleições" para ter "um Presidente eleito a 22 de janeiro".

Seria esta a data prevista para a tomada de posse do próximo Chefe de Estado boliviano após as recentes eleições, cuja vitória foi reclamada por Morales, candidato a um quarto mandato, à revelia da Constituição e de um referendo popular.
"A luta continua"
Evo Morales demitiu-se domingo, depois de 10 dias de paralisação com greves, protestos e violência nas ruas, e por não ter recebido o apoio do exército. Anunciou no Twitter a sua partida segunda-feira, para o México, onde chegou terça-feira.


"Todos os povos têm o direito de se libertar", afirmou Evo Morales ao pisar solo mexicano e depois de agradecer ao México por lhe ter "salvado a vida".

"A luta continua", garantiu ainda, afirmando que nunca deixará de "fazer política".

Com o ex-chefe de Estado, viajavam o antigo vice-presidente, Alvaro Garcia Linera e a ex-ministra da Saúde, Gabriela Montaño.
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