Carta a Trump. Ex-chefe das secretas venezuelanas expõe guerra "narcoterrorista" contra os EUA

Em carta ao presidente e ao povo dos Estados Unidos, Hugo "El Pollo" Carvajal denuncia mais de duas décadas de narcoterrorismo, espionagem e manipulação eleitoral, validando assim as decisões de Donald Trump sobre a Venezuela.

Joana Raposo Santos - RTP /
Leonardo Fernandez Viloria - Reuters

O antigo chefe da inteligência venezuelana, Hugo Carvajal, enviou esta semana uma carta ao presidente norte-americano, Donald Trump, na qual descreve o regime da Venezuela como “organização narcoterrorista” que tem os Estados Unidos como alvo. “El Pollo”, alcunha pela qual é conhecido, assegura que Nicolás Maduro transformou a cocaína numa arma e exportou redes criminosas violentas para os EUA.

Hugo “El Pollo” Carvajal foi, no passado, um dos principais assessores do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez e do atual líder Nicolás Maduro.

Em junho deste ano, declarou-se culpado num tribunal federal norte-americano por ser cúmplice de uma conspiração que transportava cocaína da Venezuela para os Estados Unidos e fornecia apoio aos guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Agora, detido numa prisão norte-americana, decidiu escrever uma carta “ao presidente Trump e ao povo dos Estados Unidos” para se “redimir” e para que os EUA “possam proteger-se dos perigos” que o próprio diz ter testemunhado durante longos anos.

“O meu nome é Hugo Carvajal Barrios. Durante muitos anos fui um alto funcionário do regime venezuelano”, começa por escrever. “Rompi publicamente com o regime de Maduro em 2017 e fugi do meu país sabendo que enfrentava acusações penais nos Estados Unidos. Ao fazê-lo, tornei-me seu inimigo”, relata. “Conhecendo os riscos, atuei com a mais firme convicção de desmantelar o regime criminoso de Maduro e devolver a liberdade ao meu país”.

Carvajal aproveita a missiva, a que o site Dallas Express teve acesso, para declarar apoio às políticas de Donald Trump, considerando-as “corretas e absolutamente necessárias para a segurança nacional dos Estados Unidos”.

Confirmando a existência de redes de narcoterrorismo apoiadas pelo Governo venezuelano, o ex-chefe das secretas diz ter sido “testemunha direta de como o Governo de Hugo Chávez se transformou numa organização criminosa que hoje é dirigida por Nicolás Maduro”.

“O propósito desta organização, hoje conhecida como o Cartel dos Sóis, é usar as drogas como arma contra os Estados Unidos. As drogas que chegaram às vossas cidades por novas rotas não foram acidentes de corrupção nem obra apenas de traficantes independentes; foram políticas deliberadas coordenadas pelo regime venezuelano contra os Estados Unidos”, assegura.

Este alegado plano foi, segundo “El Pollo”, sugerido a Chávez pelo regime cubano em meados da década de 2000 e executado com a ajuda dos guerrilheiros das FARC e do Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia, assim como de “operativos cubanos e do Hezbollah”.

“O regime forneceu-lhes armas, passaportes e impunidade para que estas organizações terroristas operem livremente a partir da Venezuela contra os Estados Unidos”, lê-se na carta.“Pessoal obediente e armado” nos EUA
Hugo Carvajal diz ainda ter estado presente quando “foram tomadas as decisões de organizar e armar grupos criminosos em toda a Venezuela para proteger o regime, entre eles o grupo conhecido como Tren de Aragua”.

Contando que foram recrutados criminosos dentro e fora das prisões, explica que Maduro exportou a criminalidade para o exterior de modo a “perseguir exilados políticos venezuelanos e reduzir artificialmente as estatísticas de delinquência dentro da Venezuela”.

“Foi ordenado aos líderes destes grupos que enviassem milhares de membros para fora do país”, revela, acrescentando que “quando a política de fronteiras abertas de [Joe] Biden e [Kamala] Harris se tornou amplamente conhecida, aproveitaram a oportunidade para enviar estes elementos para os Estados Unidos”.

“Agora têm pessoal obediente e armado em território norte-americano. Para financiar as suas operações, foi-lhes ordenado explicitamente que continuassem a raptar, extorquir e matar. Cada crime que cometem no vosso solo é um ato ordenado pelo regime”, realça.Espionagem venezuelana e cubana nos EUA
“El Pollo” afirma também que as inteligências venezuelana e cubana se infiltraram em instituições americanas durante duas décadas, incluindo em instalações militares.

“Estive presente quando a inteligência russa chegou a Caracas para propor a Hugo Chávez a intervenção dos cabos submarinos de internet que ligam a maior parte da América do Sul e das Caraíbas aos Estados Unidos, com o propósito de penetrar nas comunicações do Governo norte-americano”, escreveu na carta.

Durante vinte anos, o regime venezuelano enviou espiões para o vosso país; muitos continuam lá, alguns disfarçados de membros da oposição venezuelana”, prossegue, adiantando que a inteligência cubana chegou a mostrar-lhe as redes que possuía dentro das bases navais norte-americanas.

A missiva refere ainda que diplomatas norte-americanos e elementos da CIA foram pagos para ajudar Chávez e Maduro a manterem-se no poder. “Estes norte-americanos atuaram como espiões para Cuba e para a Venezuela, e alguns continuam ativos até hoje”, pode ler-se.Denúncias de manipulação eleitoral
Carvajal alega que a multinacional Smartmatic, que implementa sistemas de votação eletrónica, foi desenvolvida dentro da Venezuela como uma ferramenta de manipulação eleitoral posteriormente implantada no exterior.

“A Smartmatic nasceu como uma ferramenta eleitoral do regime venezuelano, mas rapidamente se tornou um instrumento para manter o regime no poder para sempre. Sei disso porque eu próprio coloquei o chefe de informática do Conselho Nacional Eleitoral no seu cargo, e ele reportava diretamente à minha pessoa”, refere.

O venezuelano explica que a tecnologia da Smartmatic foi posteriormente exportada para o estrangeiro, incluindo os EUA, onde terá também servido para manipular resultados eleitorais.

“Não afirmo que todas as eleições sejam roubadas, mas afirmo com certeza que as eleições podem ser manipuladas com esse software e que ele tem sido usado para esse fim”, vinca.
“Apoio absolutamente a política do presidente Trump”
Carvajal termina a missiva, assinada com a data de 2 de dezembro, frisando que a Venezuela “está em guerra” com o povo americano, usando “drogas, gangues, espionagem e até os processos democráticos como armas”.

As políticas do presidente Trump contra o regime criminoso de Maduro não só estão justificadas, como são necessárias e proporcionais à ameaça. Poderá até estar a subestimar o que o regime está disposto a fazer para se agarrar ao poder. Têm planos de contingência para todos os cenários extremos para garantir que nunca cedam o controlo”, alerta o venezuelano.

“Apoio absolutamente a política do presidente Trump para a Venezuela, porque é em legítima defesa e porque está a agir baseado na verdade”, insiste, dizendo estar disponível para fornecer mais detalhes ao Governo norte-americano.

Se os procuradores federais considerarem a sua cooperação como substancial, “El Pollo” poderá ver a sua pena reduzida.

A carta é conhecida numa altura de crescente tensão entre Washington e Caracas, especialmente depois de os Estados Unidos terem ordenado um duplo ataque fatal a uma embarcação alegadamente venezuelana nas Caraíbas, que disseram ser usada para tráfico de droga.
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