Cenário de visita de Putin a Pequim ganha força. Chefe da diplomacia da China visita Rússia

por Carla Quirino - RTP
Ministros chinês e russo dos Negócios Estrangeiros, Wang Yie e Sergei Lavrov, em Joanesburgo, durante a cimeira dos BRICS, em agosto Reuters

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros inicia esta segunda-feira uma viagem de quatro dias à Rússia. De acordo com Pequim, Wang Yi vai reunir-se com o secretário do Conselho de Segurança, Nikolai Patrushev, para "conversações sobre segurança" e com o homólogo russo, Sergei Lavrov. Wang deverá lançar as bases para a visita de Vladimir Putin à capital chinesa.

A China e a Rússia são aliadas estratégicas e têm acenado com a ideia de uma parceria “sem limites” que abrange os domínios económico e militar.

Wang Yi, que chefia o Ministério das Relações Exteriores da China, bem como o Gabinete de Relações Externas do Partido Comunista, irá reunir-se com o secretário do Conselho de Segurança, Nikolai Patrushev, para “conversações estratégicas sobre segurança”, adiantou o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China em comunicado.A invasão da Ucrânia pelas forças de Moscovo nunca foi criticada por Pequim, aproximando ainda mais os dois países.

Durante a estadia de quatro dias, Wang também tem encontro marcado com Sergei Lavrov. Em cima da mesa está uma “ampla gama de questões” que inclui “contactos a níveis cada vez mais elevados”, indicou, por sua vez, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, na semana passada.

Os dois ministros planeiam "concentrar-se nos esforços para fortalecer a colaboração na cena internacional". “Haverá uma troca detalhada de pontos de vista sobre questões relacionadas com um acordo na Ucrânia, bem como formas de garantir a estabilidade e a segurança na região Ásia-Pacífico”, acrescentou um porta-voz do Ministério.
Encontro entre Putin e Xi e puzzles chineses
A comunidade internacional acredita que a viagem de Wang sirva para a estudar estratégias tendo em vista um encontro entre os presidentes russo, Vladimir Putin, e chinês, Xi Jinping.

No início deste mês, Putin afirmou que esperava encontrar-se com o presidente chinês, Xi Jinping, mas não disse quando.

Putin não viaja para fora da Rússia desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) o visou com um mandado de detenção, depois de ter sido acusado por deportar ilegalmente centenas de crianças da Ucrânia.


O mandado obriga os 123 Estados que reconhecem o Tribunal a prender Putin e a transferi-lo para Haia, caso o presidente russo entre nesses territórios. Porém, a China não é parte no Estatuto de Roma que levou à criação do TPI em 2002.

Entretanto, Pequim tem oferecido a Moscovo uma tábua de salvação diplomática e financeira vital, à medida que o isolamento internacional de Moscovo se aprofunda, mas sempre negou qualquer envolvimento militar ou a envio de armas letais para a Rússia.

Em março, o presidente Xi Jinping fez uma visita de Estado a Moscovo e declarou que as relações entre os dois países estavam a entrar numa nova era.

No mês passado, o ministro chinês da Defesa, Li Shangfu, visitou a Rússia e a Bielorrússia, onde apelou a uma cooperação militar mais estreita.

Há uma semana, durante a reunião anual no Fórum Económico do Leste, em Vladivostok, Putin, dirigindo-se ao vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Guoqing, afirmou que os laços entre a Rússia e a China "atingiram um nível histórico absolutamente sem precedentes".

Antes da visita desta semana à Rússia, Wang viajou para Malta, onde tiveram lugar “horas de conversações construtivas” com o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Jake Sullivan.

As conversações do fim de semana foram as últimas de uma série de reuniões de alto nível entre autoridades dos EUA e da China que podem lançar as bases para uma reunião apontada ainda para este ano entre Xi e o presidente dos EUA, Joe Biden.
O triângulo Pequim, Moscovo e Pyongyang
A China, para além das boas relações com a Rússia, tem também garantido apoio económico à Coreia do Norte. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China recusou-se a comentar a recente visita do líder da Coreia do Norte à Rússia, afirmando que era “algo entre os dois países”.

"O que quer que esteja a acontecer com a Rússia e a Coreia do Norte não pode estar a acontecer sem que a China saiba. Não creio que eles cooperem militarmente sem a aprovação de Pequim", sublinhou Alexander Korolev, especialista em relações entre China e Rússia da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, citado pela BBC.

A China pode ver a Coreia do Norte como um “representante útil” para ajudar a Rússia na guerra da Ucrânia, acrescentou.

“Dar luz verde à Coreia do Norte para desenvolver a cooperação militar com a Rússia é uma forma de ajudar a Rússia, garantindo custos de reputação (para Pequim) muito baixos
. Poderia culpar o regime desonesto da Coreia do Norte (cujas ações) nada têm a ver com eles. Seria uma jogada inteligente, se esse for o caso", argumentou Korolev.
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