A calma regressou a Sana durante a tarde de segunda-feira, após um novo anúncio de cessar-fogo entre as tropas governamentais e as milícias xiitas Houthis. A capital do Iémen foi esta manhã palco de tiroteios e de confrontos entre as duas forças após uma aparente tentativa de golpe de Estado.
Mas tanto a comitiva do primeiro-ministro Khalid Bahah como a de altos representantes Houthis foram atacadas no final de uma reunião entre ambas as partes. A ministra da Informação, Nadia al-Saqqaf, admite que os ataques tenham sido a ação de uma "terceira parte", sem conseguir nomear as suas suspeitas.O novo cessar fogo deverá ser ainda olhado com prudência, devido à desconfiança mútua entre forças governamentais e Houthis.
Observadores afirmaram que os confrontos de hoje foram mais intensos e caóticos do que os de setembro, quando as milícias Houthis tomaram a cidade.
As batalhas de artilharia duraram toda a manhã perto do palácio presidencial. A zona residencial do chefe da segurança nacional e do ministro da Defesa registaram também confrontos.
Caos em Sana
"Quando ia trabalhar esta manhã na estrada de Hadda, vi homens armados por toda a parte. Estavam de camuflado. As suas bazucas ostentavam os símbolos de "Morte à América, Morte a Israel", que pertencem aos Houthis", afirmou um trabalhador hoteleiro à Agência Reuters.
O Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi estaria em casa no início dos confrontos, noutra zona da cidade.
As milícias Houthis capturaram a agência estatal de notícias e a televisão nacional, afirmou à Reuters a ministra da Informação, acusando-as também de tentar tomar o poder. "Se alguém ataca o palácio presidencial, uma atitude agressiva, claro que é um golpe de Estado", referiu Nadia al-Saqqaf.
Contudo houve quem afirmasse que as forças governamentais tinham atacado uma zona residencial usada como base pelas milícias Houthis, que controlam a cidade desde setembro de 2014. Residentes afirmam ter ouvido explosões de morteiros e fumo a elevar-se da zona.
Fontes hospitalares referem cinco mortos e cerca de 20 feridos mas o balanço real das vítimas deverá ser mais elevado.
Escalada de violência
As milícias Houthis, apoiadas pelo Irão, combatem tribos sunitas e a influência da Arábia Saudita na região. Em setembro de 2014, assumiram o controlo da capital iemenita.
Um acordo assinado mais tarde nesse mês apelava à formação de um Governo de unidade com a consequente retirada das milícias Houthis. Não se concretizou.A tensão é crescente com os Houthis a exigirem o cumprimento dos acordos. Saleh al-Sammad refere várias exigências para evitar uma nova escalada de violência.
"Se o acordo anterior não for honrado, existe a promessa de escalar a situação", afirmou Saleh al-Sammad, conselheiro Houthi nomeado em setembro. "E é difícil desfazer uma escalada, que irá ter um preço alto", concluiu.
Entre as exigências Houthi, está uma maior participação, "justa" e inclusiva, do seu braço político o Ansarallah, no Governo, assim como a retirada de diversos artigos da nova Constituição que está a ser preparada.
O Governo do Iémen tinha agendado para sábado passado o lançamento formal do projeto da nova Constituição, que pretende alegadamente devolver autoridade para as regiões do Iémen, resolvendo assim diversos diferendos políticos, regionais e sectários.