China e Rússia dão mais um passo para "reforçar cooperação estratégica"

por Cristina Sambado - RTP
Ministério russo dos Negócios Estrangeiros via AFP

O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, afirmou esta terça-feira ao homólogo russo, Sergei Lavrov, que Pequim quer "reforçar a cooperação estratégica" com Moscovo e apoia o "desenvolvimento estável da Rússia" sob a liderança de Vladimir Putin.

Segundo Wang Yi, “Pequim reforçará a cooperação com Moscovo e defenderá a equidade e a justiça" com o seu vizinho.

"Como vizinho amigável e parceiro estratégico absoluto da Rússia, apoiaremos firmemente o desenvolvimento estável e o rejuvenescimento da Rússia sob a liderança do seu presidente”, afirmou.

Wang Yi acrescentou que "Pequim e Moscovo vão continuar a reforçar a cooperação estratégica na cena internacional e a apoiar-se mutuamente".

O chefe da diplomacia russa chegou à China na segunda-feira para uma visita oficial de dois dias, numa altura em que a Rússia prossegue a sua ofensiva na Ucrânia.

Pequim e Moscovo intensificaram a sua cooperação económica, militar e diplomática nos últimos anos e a sua "parceria estratégica" tornou-se mais forte desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, no final de fevereiro de 2022. No entanto, o poder económico e diplomático da China dá-lhe vantagem sobre uma Rússia isolada pela maioria dos países ocidentais. "Pequim e Moscovo continuarão a reforçar a cooperação estratégica na cena mundial e a apoiar-se mutuamente", acrescentou o ministro chinês.

Para Wang Yi, "o apoio do povo é uma fonte de progresso na Rússia. Acredito que sob a liderança firme do Presidente Putin, o povo russo terá um futuro brilhante”.

No encontro, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros criticou as “sanções ilegais” do Ocidente, nomeadamente contra Moscovo.

“O Ocidente está a impor sanções ilegais contra uma série de Estados, sendo a Rússia um deles", afirmou Lavrov acrescentando que "esta política também está a ser ativamente aplicada contra a China".“Os nossos amigos chineses”
Por seu lado, num vídeo publicado pelo meio de comunicação Izvestia no Telegram, Sergei Lavrov agradeceu a Pequim o "apoio" dado a Vladimir Putin após a sua recente reeleição, num escrutínio em que nenhum verdadeiro rival se conseguiu candidatar.

O presidente chinês "Xi Jinping (...) foi um dos primeiros a enviar felicitações ao presidente eleito Putin, e estamos gratos aos nossos amigos chineses por este apoio", acrescentou Lavrov.

Segundo o chefe da diplomacia russa, "os resultados das eleições confirmaram a profunda confiança do povo no nosso líder e nas atuais políticas interna e externa".
Em março de 2023, Xi Jinping visitou Moscovo, reafirmando com Vladimir Putin a "amizade ilimitada" entre os seus países, unidos pela denúncia comum do que consideram ser a hegemonia ocidental na cena internacional. Os dois presidentes também se encontraram à margem do fórum Novas Rotas da Seda, em Pequim, em outubro.
"Enquanto membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas e grandes potências emergentes, a China e a Rússia devem posicionar-se claramente ao lado do progresso histórico, da equidade e da justiça", realçou o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, durante uma conferência de imprensa, juntamente com Sergei Lavrov, após a reunião bilateral.

"Devemos opor-nos a qualquer hegemonia, tirania ou intimidação, à mentalidade da Guerra Fria e a qualquer incitamento à divisão e ao confronto", acrescentou Wang Yi.
Ucrânia e na Faixa de Gaza em cima da mesa

Wang Yi revelou ainda que discutiu a situação na Faixa de Gaza e na Ucrânia com o seu homólogo russo. "O ministro dos Negócios Estrangeiros Lavrov e eu tivemos uma troca de pontos de vista aprofundada sobre uma série de questões internacionais e regionais importantes, incluindo a Ucrânia e o conflito israelo-palestiniano", acrescentou Wang Yi.

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros explicou também que, "como um país grande e responsável, a China decide sempre a sua posição de forma independente e autónoma, tendo em conta os meandros do problema".

"Ao mesmo tempo, como força de paz e estabilidade, a China desempenhará sempre um papel construtivo na cena internacional e nos assuntos multilaterais, sem nunca deitar achas para a fogueira e muito menos tirar partido dela."

Nos últimos anos, a Rússia e a China intensificaram a sua cooperação económica e os seus contactos diplomáticos. A parceria estratégica também se tornou mais forte desde a invasão da Ucrânia.

A China defende uma solução política para acabar com os combates na Ucrânia e apresenta-se como uma parte neutra no conflito.

Pequim apela ao respeito pela integridade territorial de todos os Estados, incluindo a Ucrânia, mas nunca condenou publicamente a Rússia pela sua operação militar.Um ano após o início da guerra na Ucrânia, a China publicou em 2023 um documento de posição de 12 pontos sobre a resolução da crise na Ucrânia. A Rússia afirmou que a posição da China é razoável.

Wang foi citado por agências noticiosas russas como tendo dito que a China queria que a Rússia e a Ucrânia se sentassem numa conferência internacional para discutir uma forma de cessar a guerra na Ucrânia.

Segundo Lavrov, “a Rússia e a China vão continuar a cooperar na luta contra o terrorismo como parte da sua relação cada vez mais forte”, após o ataque de março passado a uma sala de concertos nos arredores de Moscovo, que causou a morte de mais de 140 pessoas, e um ataque no Paquistão que causou a morte de cinco trabalhadores chineses.

"A nossa cooperação na luta contra o terrorismo vai continuar, incluindo no âmbito das instituições multilaterais", sublinhou Lavrov.

A China também apela regularmente a um cessar-fogo na Faixa de Gaza para garantir a segurança dos civis.
Segurança na Eurásia

Moscovo e Pequim concordaram também em discutir formas de aprofundar a cooperação de segurança na Europa e na Ásia para combater as tentativas dos Estados Unidos de impor sua vontade na região, acrescentou Lavrov.A China e a Rússia declararam uma parceria "sem limites" em fevereiro de 2022, quando o presidente Vladimir Putin visitou Pequim, alguns dias antes de enviar dezenas de milhares de tropas para a Ucrânia, desencadeando a guerra terrestre mais mortífera na Europa desde a II Guerra Mundial.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros recordou que Putin tinha sugerido o reforço da segurança euro-asiática e que a China e a Rússia tinham concordado em "iniciar um diálogo com o envolvimento das nossas outras pessoas com ideias semelhantes sobre esta questão".


"Durante muito tempo, houve uma estrutura de segurança euro-atlântica sob a forma da NATO, é claro, bem como da OSCE, mas está a retirar-se da lista de estruturas relevantes dentro das quais é possível conduzir negociações significativas e chegar a acordo sobre algo baseado num equilíbrio de interesses", realçou Lavrov.

Segundo as agências noticiosas russas, Wang terá afirmado que “a aliança da NATO liderada pelos EUA não deveria alargar as suas atividades na região da Ásia-Pacífico nem promover o confronto”.

Os Estados Unidos apresentam a China como o seu maior concorrente e a Rússia como a sua maior ameaça de Estado-Nação, enquanto o presidente americano Joe Biden argumenta que este século será definido por uma disputa existencial entre democracias e autocracias.
Parceria russo-chinesa
A China reforçou os seus laços comerciais e militares com a Rússia nos últimos anos, à medida que os Estados Unidos e os seus aliados impuseram sanções contra ambos os países, particularmente Moscovo pela invasão da Ucrânia.

O comércio entre a China e a Rússia atingiu um recorde de 240,1 mil milhões de dólares em 2023, um aumento de 26,3 por cento em relação ao ano anterior, de acordo com os dados aduaneiros chineses. As remessas chinesas para a Rússia aumentaram 46,9 por cento em 2023, enquanto as importações da Rússia aumentaram 13 por cento.

Já o comércio entre a China e os Estados Unidos caiu 11,6 por cento para 664,5 mil milhões de dólares em 2023, segundo a mesma fonte.

A Reuters noticiou no mês passado que Putin se deslocará à China em maio para conversações com Xi, no que poderá ser a primeira viagem do seu novo mandato presidencial.

c/ agências internacionais
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