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China responde "nim" a avisos europeus contra eventual apoio à Rússia

por Graça Andrade Ramos - RTP
A 23ª cimeira UE/China decorreu por videoconferência dia 1 de abril de 2022 com a Ucrânia a dominar a agenda Reuters

Os líderes da União Europeia abordaram esta tarde o conflito na Ucrânia em videoconferência com o presidente e o primeiro-ministro da China. Face aos avisos europeus Xi Jinping sugeriu um estreitamento de laços para formar uma relação estabilizadora entre ambas as potências no atual mundo "turbulento".

Pequim mantém que o conflito ucraniano interessa sobretudo aos Estados Unidos e aconselhou a União Europeia a "forjar a sua própria perceção da China".

Os europeus lembraram por seu lado aos chineses a importância das trocas comerciais entre ambos e o risco da China “perder a face” em caso de apoio a Moscovo para a Rússia contornar as sanções impostas pelo ocidente. A China foi avisada para não prestar auxílio militar ou económico à Rússia. Bruxelas prometeu ficar “alerta” a tais apoios.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, frisou que "ficou claro que este não é apenas um momento decisivo para o continente [europeu], mas é também um momento decisivo para a relação [da UE] com o resto do mundo".

Pode estar em risco o respeito por uma “ordem global baseada em regras" numa altura em que "nada ficará como era antes da guerra" afirmou von der Leyen.

Já o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alertou que o apoio chinês aos russos terá como resultado prolongar o conflito.

"Pedimos à China para ajudar a acabar com a guerra na Ucrânia, a China não pode fazer de conta que não vê a Rússia a violar a lei internacional", afirmou.

Esta foi a 23.ª cimeira UE-China, a primeira em dois anos, focada sobretudo no conflito na Ucrânia. A pandemia de Covid-19, as alterações climáticas, as relações comerciais e os direitos humanos e laborais foram outros tópicos em discussão.

Pequim tem mantido uma posição ambígua em relação à invasão russa da Ucrânia, que recusou condenar. Tentou somente distanciar-se da guerra iniciada pelo presidente russo, Vladimir Putin, apelando ao diálogo e ao respeito pela soberania dos outros países.
"Atmosfera sóbria"
Os líderes europeus terão exigido mais.

Em conferência de imprensa após a cimeira, o presidente do Conselho Europeu considerou que todos os passos “positivos” dados por Pequim para ajudar o fim do conflito “serão bem-vindos”. Uma ajuda a Moscovo por outro lado "irá levar a mais perdas de vidas e a um impacto económico ainda maior, o que não beneficia ninguém a longo prazo" disse Charles Michel.

Von der Leyen afirmou que a cimeira decorreu “numa atmosfera muito sóbria e num contexto da guerra russa na Ucrânia e foi bom termos tido hoje um diálogo muito aberto e muito franco com o presidente Xi e o primeiro-ministro Li".

"A China, como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem uma responsabilidade muito especial" no fim do conflito pela sua proximidade à Rússia, argumentou.

"Nós, UE, estamos determinados a apoiar a ordem multilateral juntamente com os nossos parceiros internacionais", vincou ainda a presidente da Comissão Europeia.
Conselhos da China
O presidente chinês respondeu que a União Europeia deveria adotar um ponto de vista independente sobre os seus laços com Pequim, de forma a favorecer a paz global e o desenvolvimento.

De acordo com um comunicado difundido à imprensa, que refere apenas o “conflito na Ucrânia”, o Presidente chinês disse esperar “que a EU passa forjar a sua própria perceção da China e seguir de forma autónoma a sua própria política face a Pequim”.O conflito na Ucrânia reforça a urgência do desenvolvimento e aprofundamento de laços entre as duas potências, sublinhou Xi Jinping.


Para o regime comunista chinês, os europeus deixaram-se arrastar para um conflito do qual Washington seria o principal instigador.

A China e a UE “enquanto grandes potências, grandes mercados e civilizações maiores devem desempenhar um papel construtivo nas grandes questões ligadas à paz e aos seu desenvolvimento no mundo, e trazer fatores de estabilização a um mundo turbulento”, acrescentou Xi Jinping.
O peso dos mercados
A pressão económica poderá ser o argumento que mais pesará junto de Pequim, a quem não interessa perder mercados nem uma crise global onde será uma das principais potências afetadas.
Von der Leyen referiu aos jornalistas que durante a Cimeira, foi deixado “muito claro” aos dois líderes chineses “que a China deveria, senão apoiar, pelo menos não interferir com as nossas sanções", apoiadas por mais de 40 países.

"Discutimos isso e também o facto de que nenhum cidadão europeu compreenderia qualquer apoio à capacidade da Rússia para fazer a guerra" algo que "levaria a um grande prejuízo para a reputação da China aqui na Europa", alertou.

Ursula von der Leyen lembrou que "todos os dias a China e a UE transacionam quase dois mil milhões de euros de bens e serviços", ao passo que "o comércio entre a China e a Rússia é de apenas 330 milhões de euros por dia”. “Um prolongamento da guerra e as perturbações que esta traz à economia mundial não é do interesse de ninguém", argumentou.

A UE exportou para a China bens num total de 223 mil milhões de euros e importou 472 mil milhões de euros mercadorias em 2021.

Os dois blocos foram ainda os maiores parceiros no comércio de mercadorias do mundo, num total de 1,9 mil milhões de euros movimentados por dia.

Com agências
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