Em Madrid encontra-se a linha da frente na luta contra as doenças animais que estão a dizimar várias espécies em quintas por todo o mundo. Apesar de inofensiva para os humanos, a febre suína africana chegou em força e está a levar muitos produtores a abaterem milhões de animais, especialmente porcos.
Acredita-se que o potencial pandémico coloque em perigo mais de três quartos das populações suínas do mundo. Só na China, onde existe mais de metade dos porcos de todo o mundo, acredita-se que em 2019 mais de 100 milhões de suínos morreram. Pouco depois, a doença chegou à Alemanha, um dos países da União Europeia onde existem mais porcos.
Foram mais de 45 os países que reportaram o aparecimento do doença, o que levou muitos proprietários a abates de porcos, deixando várias quintas familiares devastadas e os mercados a sofrerem com proibições na exportação da carne.
“Este é o maior surto animal que alguma vez tivemos no planeta”, explicou Dirk Pfeiffer, um epidemiologista veterinário da Universidade de Hong Kong. Até agora, a única maneira eficaz de rastrear e batalhar contra o vírus é consciencializando os agricultores e produtores de gado para uma melhor biossegurança.
Com a ameaça a alastrar, investigadores começam a sentir a pressão para criar uma nova vacina, tal como reporta o Guardian.
“Mesmo sendo possível erradicar a FSA sem vacinação, vai levar muito tempo até chegar a esse ponto. Temos de conhecer o vírus muito bem e perceber onde se esconde e como atua”, explicou José Manuel Sánchez-Viscaíno, professor de saúde animal da Universidade Complutense de Madrid.
Portugal e Espanha são um exemplo singular no que toca à criação de uma vacina. Uma primeira variante da febre suína africana foi identificada em 1957 em Portugal. Na altura, tanto o governo português como o espanhol aceitaram encetar uma batalha contra a doença, usando o abate preventivo. O vírus acabou por ser erradicado em 1995.
Sánchez-Viscaíno acredita que a vacina é a melhor opção para atacar o problema e lidera o consórcio financiado pela União Europeia que criou três vacinas com potencial para serem usadas em javalis e porcos domésticos.
O foco agora é levar a cabo testes em massa para saber como os candidatos interagem com outras doenças. Outras questões continuam a ser levantadas na investigação, como a de a vacina criada em Espanha poder ser eficaz noutras regiões. No entanto, não é só em Espanha que se tenta criar uma vacina.
Na China, no Instituto de Investigação Veterinária de Harbin, há ecos de que uma outra vacina pode estar prestes a ser lançada. No Reino Unido, uma outra equipa do Instituto de Pirbright está a ultimar detalhes de uma possível vacina.
Linda Dixon, virologista que lidera a equipa, diz que existem alguns receios devido a novas variantes que vão ser lançadas sobre os animais com as novas vacinas.
“As pessoas estão bastantes nervosas porque o que acontece com variantes em vacinas é que estamos a lançá-las no terreno. E não há dados suficientes para perceber como é que o processo vai decorrer”.
O Vietname anunciou que em junho próximo vai tornar-se no primeiro país a administrar uma vacina contra a febre suína africana. Depois de um surto em 2019 ter levado ao abate de mais de dois milhões de porcos, o governo planeia administrar vacinas em mais de 600 mil animais em mais de 20 províncias.
No entanto, pouco tempo depois, os meios de comunicação vietnamitas reportaram que a vacinação foi suspensa temporariamente depois da morte de 750 porcos inoculados. Não se sabe quantas mortes estão relacionadas com a vacina e as notícias rapidamente viajaram pela comunidade científica.
“Foi como um banho de água gelada. Ninguém esperava algo do género”, comentou Sánchez-Viscaíno.