Cimeira de Helsínquia. Trump sob ataque nos EUA

por RTP
Grigory Dukor - Reuters Reuters

“Traição”, “cobarde”, “fraca”, “vergonhosa”, “erro trágico”. Estas são algumas das palavras usadas nos EUA para criticar a atuação de Donald Trump na cimeira de Helsínquia com o Presidente russo Vladimir Putin. As palavras do Presidente norte-americano ao lado de Putin geraram uma vaga de críticas de republicanos, democratas e até mesmo dos serviços de informações.

Lado a lado com Putin, Donald Trump incendiou as críticas nos EUA ao referir-se ao alegado envolvimento da Rússia nas eleições presidenciais americanas, em 2016, que ele próprio venceu.
Na passada sexta-feira, 12 agentes dos serviços secretos russos foram indiciados por interferências nas eleições americanas de 2016, que deram a vitória a Trump.

Depois de o líder russo dizer que até preferia ter Trump na Casa Branca, mas que não ordenou qualquer interferência nas eleições, o Presidente americano quase secundou as afirmações de Putin: “Eles dizem [serviços de inteligência americanos] que é a Rússia; Eu tenho o presidente Putin, ele acaba de dizer que não foi a Rússia. Vou dizer uma coisa. Eu tenho grande confiança no meu pessoal da inteligência, mas vou dizer-vos que o presidente Putin foi extremamente forte e poderoso na sua negação”, afirmando que ele não tinha razões para intervir.

As críticas não tardaram. O próprio chefe da equipa de inteligência de Trump, o Diretor de Inteligência Nacional Dan Coats, veio afirmar em público que a “Rússia é responsável por “continuadas tentativas de infiltração” para minar a democracia norte-americana, reforçando que os serviços foram claros na avaliação de que houve uma efetiva interferência russa nas eleições.

“Não foi nada menos do que traição”, garantiu o ex-diretor da CIA John O. Brennan no Twitter. “Os comentários de Trump não foram apenas imbecis, ele está totalmente no bolso de Putin”, afirmou.


John McCain, senador republicano e antigo candidato presidencial, classificou a prestação de Trumo como “uma das mais vergonhosas performances de um presidente americano de que há memória. O dano provocado pela ingenuidade, egoísmo, falsa equivalência e simpatia por autocratas do presidente Trump é difícil de calcular. A cimeira em Helsínquia foi um erro trágico”. “Nenhum presidente se humilhou de forma mais abjeta perante um tirano”, reforçou.

Paul Ryan, o republicano presidente da Câmara dos Representantes, advogou que houve interferência russa e lembrou ao presidente que “a Rússia não é nossa aliada. Não há equivalência moral entre os Estados Unidos e a Rússia, que permanece hostil aos nossos mais básicos valores e ideias”.

O senador republicano Lindsey Graham argumentou que a cimeira foi “uma oportunidade perdida” para Trump responsabilizar Putin pela interferência nas eleições de 2016 e enviar um forte aviso. “A resposta do presidente Trump vai ser vista pela Rússia como um sinal de fraqueza e criar mais problemas do que resolve”, acrescentou.


A líder democratas na Câmara dos Representantes Nancy Pelosi considerou que a “fraqueza do presidente Trump perante Putin foi embaraçosa e prova que a Rússia tem algo sobre o presiente, pessoal, financeira ou politicamente”. O chefe dos democratas no Senado, Chuck Shumer, disse nunca ter visto um presidente dos EUA a apoiar um adversário da forma que Trump o fez, considerando que o ataque às autoridades norte-americanas foi “impensado, perigoso e fraco”. "Preferiu a palavra do KGB à da CIA". 

O democrata Adam Schiff considerou que o presidente atacou as agências de inteligência e autoridades dos Estados Unidos, enquanto “estava ao lado de um ditador que interferiu nas nossas eleições para ajudar a eleger Trump”. “Putin vai assumir isto como uma luz verde para interferir em 2018. Cobarde e vergonhoso”, acrescentou.

O senador republicano Jeff Flake, no Twitter, disse que nunca tinha imaginado o dia em que o presidente americano iria estar ao lado do presidente russo a colocar a culpa nos Estados Unidos pela agressão russa. “Foi vergonhoso”, considerou.


Na conferência de imprensa conjunta de 45 minutos, Donald Trump considerou que tantos os EUA como a Rússia são responsáveis pelo estado de degradação a que chegaram as relações bilaterais e não proferiu qualquer palavra de condenação ou crítica sobre qualquer dos assuntos que dividem EUA e Rússia, numa atitude que contrasta com a apresentada na semana anterior face aos aliados da NATO e na visita ao Reino Unido.

“Isto é bizarro e completamente errado. Os EUA não são culpados. A América quer uma boa relação com o povo russio, mas Vladimir Putin e os seus homens são reponsáveis pelo estilo de agressão do género soviético”, considerou o senador republicano Ben Sasse.

De regresso aos Estados Unidos, no avião, o presidente ainda tentou acalmar as críticas.


“Como disse hoje e muitas vezes antes, ‘Tenho grande confiança no MEU pessoal da inteligência’. No entanto, também reconheço que para construir um futuro mais brilhante, não nos podemos focar apenas no passado – como duas das maiores potências nucleares do mundo, temos de conviver”, publicou Trump na rede social Twitter.

O senador republicano Rand Paul apoiou o presidente na CNN, dizendo que a comunidade americana de inteligência “está cheia de gente enviesada”.

A Casa Branca anunciou que o presidente vai reunir-se com os membros do Congresso, não adiantando mais detalhes sobre o encontro.
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