Cimeira sobre Inteligência Artificial reúne líderes políticos e peritos em Paris

por Andreia Martins - RTP
Hans Lucas via AFP

Até terça-feira, a capital francesa recebe a Artificial Intelligence Action Summit, uma cimeira que junta líderes políticos e da área tecnológica. No Grand Palais, esperam-se debates sobre os perigos e as oportunidades de uma tecnologia cada vez mais presente nas sociedades.

“Já chegou a hora de passarmos da ficção cientifica para o mundo real no que diz respeito à aplicação da Inteligência Artificial”. As palavras são de Anne Boulverot, enviada especial da presidência francesa para a cimeira que se realiza entre os dias 10 e 11 de fevereiro em Paris.

Mais de dois anos após o lançamento público do ChatGPT e menos de um mês desde a disponibilização do primeiro grande concorrente, o modelo chinês DeepSeek, a inteligência artificial continua a gerar discussão no mundo das startups e tecnologias, mas também no mundo do trabalho e na política. 

É isso mesmo que mais de 1.500 participantes vão fazer em Paris ao longo de dois dias, num encontro onde vão estar o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, o vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Guoqing, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, e o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, entre muitos outros. 

Também o criador do ChatGPT, Sam Altman, e o CEO da Google, Sundar Pichai, vão estar presentes nesta cimeira. As discussões vão evocar não só as oportunidades da Inteligência Artificial, tal como os perigos e os desafios desta tecnologia. “Ataques cibernéticos e integridade da informação”, “Inteligência Artificial e Ciência” ou “O Futuro do Trabalho” são alguns dos tópicos em discussão.

Desde a tomada de posse do novo presidente norte-americano, Donald Trump, que tem arrasado com as regulações de IA criadas pelo antecessor, a pressão tem aumentado sobre a União Europeia para que adote uma abordagem mais permissiva em relação às empresas europeias de tecnologia, para que tenham competitividade no contexto da corrida tecnológica global.

“Se queremos crescimento, empregos e progresso, temos de permitir que os inovadores inovem, os construtores construam e os desenvolvedores desenvolvam”
, vincou o CEO da Open AI e co-criador do ChatGPT, Sam Altman, num artigo de opinião publicado no domingo no jornal Le Monde.
IA "mais transparente e segura"

A par desta conferência, vários países incluindo França anunciaram no domingo o lançamento de uma iniciativa de Inteligência Artificial “de interesse público”, que conta também com a participação de 11 líderes tecnológicos.

A denominada “Current AI” é uma iniciativa que conta com a participação de países como a Alemanha, Suíça, Eslovénia, Finlândia, Nigéria, Marrocos, Quénia e Chile. Do lado empresarial participam a Google, a start-up francesa Mistral AI, a plataforma norte-americana de entrega de compras Instacart e a Salesforce.

Com um investimento inicial de 400 milhões de dólares, esta plataforma espera angariar um total de 2,5 mil milhões de dólares nos próximos cinco anos para desenvolver o acesso a bases de dados privadas e públicas em áreas como a saúde e a educação, mas também investir em ferramentas e infraestruturas de código aberto para uma Inteligência Artificial mais “transparente e segura”, segundo o comunicado divulgado no domingo.

“A Current AI contribuirá para o desenvolvimento dos nossos próprios sistemas de inteligência artificial em França e na Europa para diversificar o mercado e promover a inovação em todo o mundo”, disse o Presidente francês Emmanuel Macron, citado no comunicado.

O projeto quer também desenvolver “sistemas para avaliar o impacto social e ambiental” da Inteligência Artificial.

A conferência que junta os principais peritos e decisores em matéria de Inteligência Artificial na capital francesa acontece escassas semanas após o lançamento do modelo chinês DeepSeek, que veio abalar e surpreender Sillicon Valley, ao igualar as capacidades dos concorrentes norte-americanos a um custo muito mais baixo.

Emmanuel Macron procura, com a iniciativa e a cimeira destes dias, liderar o esforço europeu neste campo. “Queremos ir muito mais rápido e com mais força”, vincou o presidente francês, ao revelar um investimento de 109 mil milhões de euros por parte de empresas privadas francesas em Inteligência Artificial. 

Na antecâmara desta cimeira, a França fechou também um acordo com os Emirados Árabes Unidos para um grande centro de dados de IA, representando um investimento até 50 mil milhões de dólares. Já no fim-de-semana, a startup francesa Mistral, apoiada pela Nvidia, anunciou a abertura de um data center na região de Paris.

c/ agências
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