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Clima. 2024 deverá ser um ano recorde, com temperaturas superiores em 1,5°C

por Cristina Sambado - RTP
Em julho, os termómetros chegaram aos 46ºC em Sevilha Cristina Quicler - AFP

O ano de 2024 será quase de certeza o ano mais quente de que há registo e o primeiro em que a temperatura média global subirá 1,5°C acima do período pré-industrial, segundo dados do serviço europeu Copernicus publicados após o segundo mês de outubro mais quente.

Os dados do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus da União Europeia (C3S) foram divulgados antes da cimeira da ONU sobre o clima COP29, a realizar na próxima semana no Azerbaijão, onde os países tentarão chegar a acordo sobre um enorme aumento do financiamento para combater as alterações climáticas.

Segundo o C3S, de janeiro a outubro, a temperatura média global foi tão elevada que 2024 será certamente o ano mais quente do mundo - a menos que a anomalia de temperatura no resto do ano caia para quase zero.

“A causa fundamental e subjacente ao recorde deste ano são as alterações climáticas”, disse à Reuters o diretor do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus da União Europeia, Carlo Buontempo.

“O clima está a aquecer, em geral. Está a aquecer em todos os continentes, em todas as bacias oceânicas. Por isso, estamos destinados a ver esses recordes serem quebrados”, esclareceu.
Os cientistas afirmam que 2024 será também o primeiro ano em que o planeta estará mais de 1,5ºC mais quente do que no período pré-industrial de 1850-1900, quando os seres humanos começaram a queimar combustíveis fósseis à escala industrial.

As emissões de dióxido de carbono resultantes da queima de carvão, petróleo e gás são a principal causa do aquecimento global.

No Acordo de Paris de 2015, os países concordaram em tentar impedir que o aquecimento global ultrapasse 1,5°C (2,7 graus Fahrenheit), para evitar as suas piores consequências.


O mundo não ultrapassou essa meta - que se refere a uma temperatura média global de 1,5ºC ao longo de décadas - mas o C3S espera agora que o mundo ultrapasse o objetivo de Paris por volta de 2030.

“Está basicamente ao virar da esquina”, disse Buontempo.
Os registos do C3S remontam a 1940 e são cruzados com os registos de temperatura global que remontam a 1850.
Os cientistas afirmam que um único ano acima do limiar não significa que se tenha falhado o objetivo de Paris, uma vez que o aumento da temperatura é medido ao longo de décadas e não de anos, mas alertam para o facto de que isso forçará mais pessoas e ecossistemas a ficarem à beira da sobrevivência.

A nossa civilização nunca teve de lidar com um clima tão quente como o atual”, realçou Carlo Buontempo. “Isto leva inevitavelmente a nossa capacidade de resposta a fenómenos extremos - e de adaptação a um mundo mais quente - ao limite absoluto.”

As conclusões do Copernicus baseiam-se em milhares de milhões de medições meteorológicas efetuadas por satélites, navios, aviões e estações meteorológicas. As análises de temperatura no conjunto de dados ERA5 em que o boletim se baseia diferem ligeiramente de outros conjuntos de dados importantes utilizados por cientistas do clima nos EUA e no JapãoCOP29 arranca dia 11 em Baku
A COP, que começa a 11 de novembro em Baku, no Azerbaijão, será dedicada à delicada tarefa de encontrar um novo objetivo de financiamento que permita aos países em desenvolvimento reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa e adaptar-se às alterações climáticas.

Sonia Seneviratne, cientista climática da universidade pública de investigação ETH Zurique, disse não estar surpreendida com este marco e exortou os governos na COP29 a acordarem ações mais fortes para libertar as suas economias dos combustíveis fósseis emissores de CO2.

Os limites estabelecidos no Acordo de Paris estão a começar a desmoronar, dado o ritmo demasiado lento da ação climática em todo o mundo”, afirmou Seneviratne à Reuters.

O evento decorrerá também à sombra do próximo regresso à presidência dos EUA de Donald Trump, que no passado descreveu as alterações climáticas como um “embuste”Efeitos das alterações climáticas Em outubro, inundações catastróficas mataram centenas de pessoas em Espanha, incêndios florestais sem precedentes devastaram o Peru e as cheias no Bangladesh destruíram mais de um milhão de toneladas de arroz, fazendo disparar os preços dos alimentos. Nos Estados Unidos, o furacão Milton também foi agravado pelas alterações climáticas causadas pelo homem.

Segundo os últimos cálculos da ONU, o mundo não está de modo algum no bom caminho para atingir este limite, que permitiria evitar os efeitos ainda mais catastróficos das alterações climáticas, como as secas, as vagas de calor e as chuvas torrenciais. Para o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), as políticas atuais conduziriam a um aquecimento “catastrófico” de 3,1°C neste século. E mesmo com todas as promessas de fazer melhor, a temperatura média global aumentaria 2,6°C.

Os efeitos mortais do aquecimento global foram recentemente ilustrados pelas inundações no sul de Espanha, que mataram mais de 200 pessoas, a grande maioria na região de Valência.


O Copernicus refere que a precipitação foi superior à média em outubro, não só na Península Ibérica, mas também em França, no Norte de Itália e na Noruega.

Os cientistas concordam que, na maior parte do planeta, os fenómenos extremos de precipitação se tornaram mais frequentes e mais intensos devido às alterações climáticas.

c/agências
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