Clima em 2024 condicionou mais 20 milhões de crianças em África no acesso à escola - Unicef
As perturbações climáticas em 2024 colocaram mais 20 milhões de crianças em risco de abandono escolar em África, anunciou a Unicef num relatório sobre os riscos climáticos e o ensino divulgado hoje, Dia Internacional da Educação.
O estudo "Aprendizagem interrompida: panorama global das interrupções escolares relacionadas com o clima em 2024", do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), indica que em África mais de 107 milhões de crianças já não frequentam, de todo, a escola.
Esta investigação "apresenta, pela primeira vez, uma análise, entre janeiro e dezembro de 2024, dos riscos climáticos que causaram o encerramento de escolas ou interrupções significativas nos calendários escolares" e o seu impacto nas crianças, do pré-escolar ao ensino secundário em 85 países, explicou a Unicef.
No Brasil por exemplo, cerca de um milhão de alunos ficaram afetados por perturbações climáticas em 2024, tendo as inundações sido a causa principal, segundo dados do relatório.
"As alterações climáticas estão a agravar a crise global de aprendizagem e a ameaçar a capacidade de aprendizagem das crianças", lamentou.
"Atualmente, estima-se que dois terços das crianças em todo o mundo não conseguem ler com compreensão até aos dez anos de idade. Quase metade das crianças do mundo - cerca de mil milhões de crianças - vive em países com riscos extremamente elevados de choques climáticos e ambientais", acrescentou.
Os países da África Austral sofreram, em 2024, a pior seca em mais de 100 anos devido aos impactos do fenómeno meteorológico El Niño, contextualizou.
"No Zimbabué, a seca prolongada afetou a escolaridade de 1,8 milhões de crianças", referiu.
Embora as secas possam não levar ao encerramento imediato das escolas, ou não se refletir sempre nos dados mensais, o seu impacto prolongado na assiduidade dos alunos, nas matrículas e nos resultados de aprendizagem torna-se evidente ao longo do tempo, disse.
A África Ocidental e Central e a África Oriental e Austral sofreram principalmente perturbações relacionadas com inundações, com impacto em 12 milhões e oito milhões de alunos, respetivamente.
No Sul da Ásia e na África Oriental, os fenómenos climáticos estão associados a um aumento das taxas de casamento infantil, o que prejudica permanentemente a educação de milhões de raparigas adolescentes, frisou.
Já o Médio Oriente e o Norte de África sofreram interrupções escolares causadas por tempestades e inundações, afetando mais de oito milhões de alunos, prosseguiu.
A educação é um dos serviços mais frequentemente afetados por fenómenos relacionados com o clima, mas é constantemente ignorada nos debates políticos, apesar do seu papel crucial na atenuação e adaptação às alterações climáticas, lamentou.
"As escolas e os sistemas educativos estão mal equipados para proteger os alunos dos impactos das alterações climáticas, particularmente em contextos frágeis, e os investimentos em financiamento climático na educação continuam a ser surpreendentemente baixos", alertou.
Moçambique é citado no estudo como sendo um exemplo do que deve ser feito, através de "práticas promissoras".
Neste país africano lusófono, "construir escolas resistentes às alterações climáticas (...) terá um impacto enorme na educação", salientou.
Em Moçambique, ciclones intensos, como o Chido e o Freddy, são frequentes.
"Cerca de 40% das infraestruturas escolares em Moçambique foram construídas com materiais de qualidade inferior. Esta vulnerabilidade foi claramente vista durante os recentes ciclones de 2023 e 2024, que causaram danos significativos em diferentes regiões", disse.
O ciclone Chido, em dezembro de 2024, causou danos ou destruição em pelo menos 1.126 salas de aula em 250 escolas, afetando o regresso de cerca de 110.000 alunos.
"As lições aprendidas com os ciclones Freddy e Chido realçam a importância de investir em infraestruturas fortes, mas que são também necessárias outras melhorias, muitas vezes dispendiosas, para suportar condições extremas", refletiu.
Os riscos não centrados no clima ou as catástrofes geofísicas, incluindo terramotos, tsunamis, atividades vulcânicas e movimentos de massa, não foram incluídos neste estudo da Unicef.