Clima. Procura de combustíveis fósseis "demasiado elevada" para cumprir metas da ONU

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Matthew Childs - Reuters

A Agência Internacional da Energia (AIE) divulgou, esta terça-feira, um novo relatório a advertir que "a procura de combustíveis fósseis deverá continuar a ser demasiado elevada" para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, o objetivo climático mais ambicioso do Acordo de Paris de 2015. O alerta é dado apenas a um mês antes da conferência sobre o clima COP28, no Dubai, onde o futuro dos combustíveis fósseis estará no centro do debate dos líderes mundiais.

A aposta na transição energética, através do investimento nas tecnologias limpas, parece não ser suficiente para conter o aquecimento global e cumprir os objetivos climáticos previstos na Agenda 2030 das Nações Unidas, uma vez que é provável que a procura de combustíveis fósseis continue a ser “demasiado elevada”.

"Apesar do impressionante crescimento das energias limpas"
, que se verifica nas políticas atuais, as emissões de gases com efeitos de estufa continuariam a ser “suficientemente elevadas” para aumentar a temperatura média global em cerca de 2,4 graus Celsius neste século.

Ainda é possível "inverter a curva das emissões" para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, mas o caminho a seguir parece "muito difícil", alertou a Agência Internacional da Energia (AIE).
"Custos da inação podem ser enormes"
O relatório é divulgado a menos de um mês da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, que se realizará de 30 de novembro a 12 de dezembro nos Emirados Árabes Unidos, onde o futuro dos combustíveis fósseis deverá estar no centro das negociações dos líderes mundiais.

No documento de 354 páginas, a Agência Internacional da Energia apresenta uma projeção de como será o mundo da energia em 2030 e adverte para o perigo da inação governamental.  “Os custos da inação podem ser enormes” alertou.
Transição energética é "inevitável"
A AIE estima que, nessa altura, o número de veículos elétricos em circulação no mundo seja dez vezes superior ao atual e que a percentagem de energias renováveis no cabaz energético mundial se aproxime dos 50 por cento (contra os atuais 30 por cento).

Apesar dos progressos que se têm verificado, com o investimento em energias limpas a aumentar 40 por cento desde 2020, “são necessárias políticas mais fortes” para atingir o objetivo de aquecimento máximo de 1,5 graus Celsius, sublinhou a AIE no relatório, reforçando o seu apelo para que a capacidade de energias renováveis triplique nos próximos sete anos.

"A transição para as energias limpas está a decorrer em todo o mundo e é inevitável”, afirmou Fatih Birol, diretor executivo da AIE, num comunicado de imprensa que acompanha o lançamento do relatório, de acordo com a agência France Presse.  “Não é uma questão de se, é apenas uma questão de quando - e quanto mais cedo melhor para todos", acrescentou.

De acordo com as previsões da AIE, a procura de gás, petróleo e carvão deverá atingir o seu máximo na próxima década. Com base nas políticas atuais estima que a parte dos combustíveis fósseis no aprovisionamento energético mundial, que se manteve em cerca de 80 por cento durante décadas, caíra para 73 por cento até 2030, com as emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a energia a atingirem o seu pico em 2025.

"Dadas as tensões e a volatilidade que caracterizam atualmente os mercados tradicionais da energia, as afirmações de que o petróleo e o gás representam escolhas seguras para o mundo são infundadas", alertou Fatih Birol, enquanto a Organização dos Países Exportadores de Petróleo estima que o mundo continuará a precisar de combustíveis fósseis durante muitos anos. "O desafio urgente é acelerar o ritmo dos novos projetos de energias limpas, em especial em muitos países emergentes e em desenvolvimento" segundo o relatório da AIE.


O relatório da Agência Internacional da Energia reforça a necessidade de os países terem de “redobrar a sua colaboração e cooperação” para combaterem as alterações climáticas.

Fatih Birol defende que “os governos, as empresas e os investidores devem apoiar as transições para as energias limpas em vez de as bloquear", citando os diversos "benefícios" em termos de segurança do aprovisionamento, emprego e qualidade do ar do desenvolvimento de tecnologias energéticas descarbonizadas.

c/ agências
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