Comando Militar diz que tomou poder na Guiné-Bissau "para evitar guerra civil"
O líder do Alto Comando Militar que tomou o poder na Guiné-Bissau no dia 26 de novembro passado, general Horta Inta-A, justificou a ação como medida "para evitar uma guerra civil" no país em decorrência de disputas eleitorais.
Em conferência de imprensa, transmitida nas redes sociais e acompanhada pela Lusa, o general Inta-A que é também o Presidente guineense de transição, apresentou, pela primeira vez ao país, as motivações do golpe de Estado.
"Havia um perigo iminente de uma guerra civil no país. Há divisão na sociedade, em todos os grupos étnicos e nas famílias por causa das eleições", declarou Horta Inta-A, para quem os processos eleitorais, "sempre desembocam em problemas" na Guiné-Bissau.
O general apresentou um conjunto de elementos que na sua opinião produziram conflitos, crises e golpes militares, a partir das eleições ocorridas desde 1994 a esta parte.
Horta Inta-A afirmou que os militares "anteciparam um grande problema" que, disse, poderia assolar a Guiné-Bissau, onde, afirmou, seriam os principais vítimas.
O autodenominado Alto Comando Militar para a Restauração da Segurança Nacional e Ordem Pública tomou o poder no dia 26 de novembro, vésperas da divulgação dos resultados das eleições legislativas e presidenciais, realizadas no dia 23 do mesmo mês.
"As eleições não são solução para a Guiné-Bissau enquanto não falarmos a verdade uns aos outros", observou o general Inta-A, salientando que as Forças Armadas "não vão entregar o país a nenhum bandido ou vendedor de droga".
O general afirmou que os elementos que integram as estruturas da transição fixada num ano, até a realização de novas eleições, não estão preocupadas com as ameaças de sanções anunciadas pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Os chefes de Estado e de Governo da CEDEAO, reunidos em cimeira extraordinária no domingo passado, na Nigeria, ameaçam aplicar sanções individuais a quem impedir a que o período de transição na Guiné-Bissau seja encurtado, que seja retomada a ordem constitucional e que os presos políticos, detidos no golpe de Estado, sejam libertados.
"Não estamos preocupados com as ameaças de sanções (da CEDEAO). Preferimos levar com as sanções de que deixar que inocentes morram neste país", sublinhou o general Inta-A.
A Guiné-Bissau está suspensa da CEDEAO, assim como de outra organização regional, a União Africana, consequência do golpe de Estado em 26 de novembro que destituiu o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, que deixou o país.
O país também foi suspenso da Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e a presidência rotativa da comunidade que ocupava foi lhe retirada, tendo sido atribuída a Timor-Leste.
As eleições gerais, presidenciais e legislativas, tinham decorrido sem incidentes, mas na véspera da divulgação dos resultados oficiais, um tiroteio em Bissau.
O general anunciou que o período de transição terá a duração máxima de um ano e nomeou como primeiro-ministro e ministro das Finanças Ilídio Vieira Té, antigo ministro de Embaló.
Um novo Governo de transição foi, entretanto, empossado, com nomes do executivo deposto e cinco militares entre os 23 ministros e cinco secretários de Estado.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) se mostrou indisponível para dar continuidade ao processo eleitoral e divulgar os resultados das legislativas e presidenciais de 23 de novembro, devido a alegados atos de vandalismo às suas instalações.
Na voz do seu secretário executivo adjunto, o juiz Idriça Djaló, a CNE disse que os alegados atos teriam sido protagonizados por "homens armados e encapuzados" no dia 26 de novembro, véspera do anúncio dos resultados provisórios.
A candidatura de Fernando Dias da Costa, atualmente exilado na embaixada da Nigéria em Bissau, condena o "posicionamento ilegal" do secretariado executivo da CNE, que acusa de "usurpação de competências" da plenária do órgão que deveria, defende, ter sido convocada a pronunciar-se sobre o processo.