Combate à corrupção é arma de rival de Órban para teste sobre mudança política em 2026

por Lusa

O popular líder do novo partido Respeito e Liberdade da Hungria, Péter Magyar, concorre às eleições europeias para combater a corrupção, esperando que este primeiro teste nas urnas seja presságio do fim da liderança de Órban, em 2026.

É quinta-feira de manhã na pequena cidade de Paks, localizada a 120 quilómetros de Budapeste, mas a calmaria daquele que seria um dia normal na localidade com cerca de 19 mil habitantes dá lugar a burburinhos à medida que se aproximam as 11:00 locais, a hora marcada através das redes sociais para a visita de Péter Magyar, do recém-criado Respeito e Liberdade (TISZA).

À hora marcada, são centenas os populares que aguardam a chegada deste novo rival do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, que se tornou popular há cerca de três meses quando um escândalo de pedofilia abalou o governo conservador e levou à demissão da ministra da Justiça, Judit Varga, a sua ex-mulher, e da Presidente da Hungria, Katalin Novák.

"O povo húngaro está farto da corrupção, das mentiras e da propaganda. [...] Já tivemos a maior manifestação desde 2010, em que centenas de milhares de pessoas se reuniram em Budapeste no dia 06 de abril, manifestando-se por uma Hungria livre, democrática, europeia, pacífica, uma nova Hungria. Estão fartos da corrupção, isso é certo", diz Péter Magyar à agência Lusa.

Numa das poucas entrevistas concedidas até agora à imprensa internacional, e falando à Lusa após ter tirado dezenas de fotografias e de ter discursado por 45 minutos na ação de campanha em Paks, o líder do novo partido TISZA admite a popularidade, não só na capital húngara, como "também nas zonas rurais", isto "embora digam que [o partido] só existe em Budapeste".

"Não sei se sou popular ou não, mas talvez o facto de eu vir de dentro [do círculo próximo de Viktor Órban] torna-me um pouco diferente dos ex-políticos que tentaram fazer o mesmo", explica Péter Magyar.

Segundo o antigo diplomata, anterior membro de conselhos de administração de empresas estatais e ex-diretor executivo de uma instituição de crédito pública, fazer o mesmo significa "estar no centro e derrotar Viktor Órban".

Este que é, para já, visto pelos analistas como um "espetáculo a solo" usa técnicas como publicações recorrentes (e amadoras) no Facebook e Instagram a dar conta das ações de campanha, várias fotografias com populares e constantes diretos de discursos feitos na parte de trás de uma carrinha de caixa aberta. Tudo filmado e organizado por uma pequena equipa com menos de 10 pessoas - um dos quais o seu irmão -, da qual fazem parte um videógrafo, um fotógrafo, seguranças, técnicos e uma responsável pela comunicação, constatou a Lusa no local.

"De acordo com as mais recentes sondagens, temos agora 26%, o que é muito importante, sabendo que somos um partido com 20 dias de existência e o Fidesz [partido nacional-conservador de Órban] tem 36 anos, milhares de milhões de dólares estrangeiros e propaganda [...] e uma maioria de dois terços" no governo, realça Péter Magyar.

A cerca de um mês das eleições europeias, marcadas para 09 de junho na Hungria (a mesma data que em Portugal), o oponente de Viktor Órban quer que este seja um primeiro teste nas urnas para, aquando das eleições legislativas de 2026, pôr fim ao monopólio do Fidesz, no poder há 14 anos.

"Será um passo importante se conseguirmos obter um resultado significativo no dia 09 de junho, o que significa ter entre 20% e 30% [dos votos] e cinco ou seis lugares, esse seria um bom ponto de partida", vinca.

Ainda assim, a luta será feita a partir de Budapeste, já que este antigo diplomata na Representação Permanente da Hungria junto da UE (entre 2010 e 2018) rejeita voltar a Bruxelas, embora encabece a lista do TISZA às europeias.

"Tenho de estar aqui, mas claro que também estarei a negociar com Bruxelas. Gostaríamos de nos juntarmos ao Partido Popular Europeu, de trazer de volta os fundos da UE que são tão importantes para a economia húngara [...] e de nos juntarmos à Procuradoria Europeia. Estaremos prontos para negociar com quem quer que seja, com a nova Comissão, com o novo Parlamento Europeu, mas eu ficarei na Hungria", adianta.

Apesar de ter saltado para a ribalta por desavenças com a sua ex-mulher e ex-governante do governo de Órban, o rival diz à Lusa que ter conhecido de perto o executivo húngaro é o seu maior trunfo.

"De acordo com as pessoas, essa é [a maior vantagem]. Eu conheço o sistema, conheço a propaganda, eu sei tudo [...] e conheço toda a gente pessoalmente, incluindo o primeiro-ministro", elenca.

Garantindo estar "muito otimista", Péter Magyar conclui, nesta entrevista à Lusa: "Por agora é um espetáculo de um homem só, mas depois das eleições não será mais. Iremos construir um partido, uma sociedade e, depois, teremos cerca de dois anos até às eleições legislativas, que deverão ser suficientes para os derrotar".

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