Como a inteligência artificial pode ser importante para a vida selvagem

por RTP
Reuters

É uma das três tecnologias emergentes para o futuro e tem dado que falar como uma das possíveis razões para acabar com a raça humana. No entanto, a inteligência artificial é cada mais popular entre ativistas ambientais que veem nesta tecnologia uma maneira de combater os défices na crise que a biodiversidade está a enfrentar.

São cinco os parâmetros em que a inteligência artificial pode ser uma aliada para salvar parte da vida selvagem, sujeita a grandes pressões, especialmente por parte do homem.

Num artigo de The Guardian é explicado como a inteligência artificial pode ajudar, desde a instalação de câmaras em habitats a imagens de satélite e gravações de áudio.

“A inteligência artificial pode identificar entre milhares de fotografias, aquelas que têm espécies raras, o que reduz significativamente o trabalho que dá reunir dados sobre conservação”, aponta um relatório da Wildlabs.net.

A tecnologia está a permitir a proteção de várias espécies de animais, de baleias e coalas a leopardos das neves, dando um grande apoio a cientistas e investigadores. Assim, a inteligência artificial permite fazer o trabalho de centenas de pessoas de uma maneira mais barata e com resultados mais eficazes.

Uma dessas maneiras é conseguir controlar o aparecimento de caçadores furtivos. Por exemplo, na Zâmbia, no Parque Kafue, com mais de 22 mil quilómetros quadrados, é difícil controlar os caçadores. A pesca ilegal também é um problema, já que muitos caçadores se mascaram de pescadores para poderem entrar no parque sem serem detetados.

Numa parceria entre várias associações ambientais e de conservação da natureza, a inteligência artificial está a ser utilizada para criar uma cerca digital, com câmaras térmicas, que detetam barcos entrados pelo lago Itezhi-Tezhi, dando ideia de quem pode entrar na reserva como caçador furtivo.

As câmaras foram instaladas em 2019, manualmente, e os guardas do parque têm maior facilidade em responder a atividades ilegais, levando à redução da necessidade de vigilância presencial. As câmaras também detetam a entrada de pássaros e ondas no lago, pelo que a inteligência artificial tem de ser ensinada a eliminar esses alertas.

Uma outra forma de proteger a biodiversidade com inteligência artificial está na monitorização de perda de água em várias regiões do mundo. The Guardian apresenta o exemplo do Brasil, país que perdeu mais de 15 por cento da superfície aquática nos últimos 30 anos.

Uma crise apenas conhecida através da inteligência artificial. Rios e lagos têm sofrido cada vez mais pressão devido ao crescimento da população, desenvolvimento económico e desflorestação. Apenas em agosto passado houve conhecimento do problema.

Um projeto de monitorização da água, que processou mais de 150 mil imagens geradas pela NASA desde 1985 até 2020, mostrou a perda de água em vários territórios. Sem a inteligência artificial seria muito difícil analisar estes dados.
O Rio Negro, um dos maiores afluentes do Amazonas, e um dos maiores do mundo em volume, perdeu cerca de 22 por cento da sua superfície. O Pantanal perdeu cerca de 74 por cento das suas terras com água. As perdas estão a devastar a vida selvagem na região, atingindo espécies como jaguares ou anacondas.

As baleias também são uma das espécies que beneficia com esta tecnologia. Conhecer as áreas por onde vagueiam é o primeiro passo para criar espaços protegidos para a espécie. Apesar de ser difícil ver estes mamíferos através do mar, os seus cânticos viajam por quilómetros e quilómetros de mar.

A Associação Nacional dos Oceanos e da Atmosfera, da zona do Pacífico, usa gravadores acústicos para monitorizar populações de baleias em locais remotos, perto de ilhas sem qualquer acesso.

“Em 14 anos acumulámos perto de 190 mil horas de gravações. Levaria uma quantidade de tempo exorbitante para um humano conseguir deslindar o som das vocalizações das baleias”, explicou Ann Allen.

Em 2018, a associação juntou-se à Google para a criação de um modelo para reconhecer os cânticos das baleias. “Tivemos um grande sucesso a identificar estes cânticos na nossa base de dados, estabelecemos padrões da sua presença nas ilhas do Havai e das Marianas. Também encontrámos evidências de cânticos em recifes, locais onde nunca tínhamos documentado a presença de baleias. Este tipo de análise intensiva não seria possível sem a inteligência artificial.

Esta tecnologia também está a permitir a proteção de coalas e a contagem de espécies por todo o mundo. No caso dos coalas, na Austrália, a população deste marsupial encontra-se em decréscimo, pelo que já foi considerada uma espécie em perigo de extinção no país.

Grant Hamilton, professor associado de ecologia da Universidade de Queensland, criou um gabinete de inteligência artificial com fundos federais para contar coalas e outras espécies em perigo. Para isso, são utilizados drones com imagens com infravermelhos e um algoritmo associado mostra rapidamente se se trata de um coala ou de outro animal.

O sistema começou a ser usado em 2019, depois dos violentos incêndios que assolaram a Austrália.

“Aqui está uma mudança significativa para proteger coalas. Algoritmos poderosos associados à inteligência artificial estão a dar a oportunidade de analisar horas incontáveis de vídeos. Vamos ouvir cada vez mais a inteligência artificial em várias conversas”, declarou Hamilton.

Em África, salvar espécies em vias de extinção numa das maiores florestas do mundo é complicado. Em 2020, a empresa Appsilon juntou-se à Universidade de Stirling, na Escócia, e à Agência de Parques Nacionais do Gabão para desenvolver o Mbaza.

Uma tecnologia de inteligência artificial, cujo algoritmo permite ver e identificar em grande escala várias espécies de animais com uma precisão de 96 por cento - um trabalho, que manualmente, podia levar vários anos.

Elefantes, gorilas, chimpanzés ou pangolins são alguns dos animais capturados em imagem. Numa zona que perde em média 150 elefantes por dia devido a caçadores furtivos, o tempo é um bem precioso para proteger estes animais.

O Mbaza, em 2020, foi usado para analisar mais de 50 mil imagens retiradas de sete mil quilómetros quadrados de floresta. A inteligência artificial consegue catalogar mais de três mil imagens por hora e os guardas dos parques podem rapidamente encontrar anomalias ou sinais alarmantes.

Assim, a ação para proteger espécies em risco é cada vez maior. O algoritmo também pode ser utilizado offline, num pequeno portátil, uma ajuda para a utilização da tecnologia em lugares remotos com ligações fracas de internet.
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