Como Lagerfeld afastou a Chanel de ideais antissemitas

por Joana Raposo Santos - RTP
O sucesso de Lagerfeld impediu que a Chanel acabasse por falir Charles Platiau - Reuters

A Chanel, que o estilista Karl Lagerfeld conduziu como diretor criativo durante quase quatro décadas, nem sempre foi vista pelo público apenas como sinónimo de moda e luxo. Acredita-se que a francesa Gabrielle Chanel – ou Coco Chanel, nome que adotou inspirando-se numa canção –, fundadora da marca, tenha colaborado com o regime nazi durante a II Guerra Mundial, levando a que empresa estivesse, durante largos anos, associada ao conceito de antissemitismo, tendo corrido o risco de ir à falência.

Foi em 1924 que o nome “Chanel” começou a ser conhecido, depois de o empresário judeu Theophile Bader ter apresentado Gabrielle à família Wertheimer, que se dispôs a financiar a primeira fragrância da marca: o icónico Chanel Nº5.

Em troca, a família receberia uma participação de 70 por cento na empresa, enquanto Bader ficaria com 20 por centro. Gabrielle Chanel foi, assim, deixada com apenas dez por cento das receitas daquela que viria a ser uma das maiores marcas de moda no mundo.

De acordo com o diário israelita Jerusalem Post, Coco Chanel chegou a tentar processar várias vezes a família Wertheimer, tentando aumentar a percentagem dos lucros que lhe chegava, mas sempre sem sucesso.

Apenas uma década após do final da II Guerra Mundial a família Wertheimer decidiu ajudar Gabrielle a reestabelecer a empresa, cuja atividade tinha cessado depois de os Aliados terem invadido França e Coco Chanel se ter mudado para a Suíça.

Foi ainda durante a guerra que Gabrielle terá colaborado com o regime nazi. No livro “Dormir com o Inimigo: A Guerra Secreta de Coco Chanel”, o jornalista Hal Vaughan descreve Chanel como “um ser humano miserável”, “antissemita incorrigível” e “oportunista” pelas suas ações antissemitas.

O autor diz haver provas de que a francesa foi uma agente ativa dos serviços de Inteligência nazis, tendo mantido uma relação com um militar desse regime durante parte da II Guerra Mundial.
O sucesso de Lagerfeld
Com o passar dos anos, o conceito de antissemitismo associado à marca Chanel veio a dissipar-se mas, em 1961, depois da morte de Gabrielle, a marca começou novamente a perder a popularidade e os responsáveis pela empresa não encontravam um sucessor a quem pudessem confiar o legado da empresa.

Foi apenas em 1983, mais de duas décadas depois da morte da criadora da marca, que Karl Lagerfeld, na altura já conhecido na área da moda, foi escolhido para o cargo de diretor criativo.A diversidade das peças de Lagerfeld permitiu à Chanel agradar a um vasto leque de clientes, de diferentes faixas etárias e com variados gostos.

O estilista atribuiu, então, um cunho pessoal às coleções de roupa da Chanel, começando assim a moldar a forma que a marca viria a adquirir nos anos seguintes e pela qual é hoje conhecida.

O sucesso de Lagerfeld impediu que a Chanel acabasse por falir e garantiu-lhe um contrato vitalício com a marca, que terminou na terça-feira, quando o estilista morreu depois de ter estado doente cerca de um mês.

Lagerfeld conseguiu, ainda, fazer o público esquecer as ideias negativas associadas à marca, nomeadamente o alegado antissemitismo da sua fundadora.
Tópicos
pub