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Conclave: Colégio de Cardeais mais diverso numa Igreja a várias velocidades
O Colégio de Cardeais que vai eleger o sucessor de Francisco à frente da Igreja Católica é o mais diverso de sempre, sinal de uma Igreja global com diferentes dinamismos e de um pontificado que nomeou nomes fora do habitual.
Francisco deixou o maior colégio cardinalício da história da Igreja, com 135 cardeais eleitores, sendo que 133 estarão presentes na Capela Sistina.
Em 2013 e 2005 foram 115 os eleitores na Capela Sistina e nos dois conclaves de 1978 foram 111 cardeais. Antes disso, desde 1623 que o número de eleitores não supera os 80 cardeais de 1963, que elegeu Paulo VI.
O sucessor do Papa Francisco será eleito pelo Conclave de cardeais menos europeu e menos italiano de sempre, um sinal das mudanças na Igreja Católica, mas também do dinamismo religioso de outras geografias em comparação com o velho continente.
Francisco deixou um Colégio Cardinalício mais global, menos europeu e menos italiano, retomando a tendência de Paulo VI e João Paulo II, interrompida por Bento XVI.
Nos últimos anos, assumindo-se como o Papa das periferias, Francisco nomeou vários cardeais de países tão diversos como Austrália, Chile, Peru, Sérvia, Japão, Indonésia, Irão, Canadá, Costa do Marfim ou Argélia.
O colégio atual é também feito à imagem da renovação promovida por Francisco: dos 133 cardeais eleitores, 108 (82%) foram escolhidos por si, um sinal de que a sua sucessão será marcada pelo seu carisma.
A forma como o debate interno foi promovido por Francisco ao nível paroquial, diocesano e continental mostrou uma Igreja a várias velocidades.
A igreja latino-americana, particularmente a hispânica, tem dado mostras de defesa de movimentos progressistas, sendo acompanhada pelas dioceses europeias, que se debatem há muitos anos com o abandono da prática religiosa dos fiéis.
Nos anos 1970 e 1980, vários teólogos sul-americanos defenderam ações mais intensas da Igreja na defesa dos direitos humanos, dos povos indígenas, da ecologia e da democracia perante as ditaduras de direita.
Esse movimento foi designado de Teologia da Libertação e foi castigado pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo então cardeal Ratzinger, futuro Bento XVI, que considerou as ideias demasiado próximas do marxismo.
Nos anos 1990, debateu-se a Nova Evangelização da Europa, que teve o então cardeal português José Policarpo como um dos seus ideólogos, e, nesse processo, nasceram movimentos novos nas dioceses, dando mais poder aos leigos face à ausência de vocações sacerdotais.
Este movimento deu frutos, envolveu as comunidades locais e inspirou o Processo Sinodal lançado em 2021 pelo Papa.
A Igreja católica norte-americana é uma das mais ricas do mundo e tem oscilado entre lideranças conservadoras no passado recente e responsáveis mais progressistas, agora nomeados por Francisco.
Tradicionalista, apoiada na herança imigrante de italianos e irlandeses, que se opõe ao pragmatismo protestante e puritano, mas também ao movimento neopentecostal evangélico, a Igreja Católica norte-americana foi fortemente atingida pelos escândalos sexuais.
Em África, apesar do crescimento dos movimentos evangélicos, financiados pelos EUA, a Igreja Católica continua em crescimento, graças aos esforços missionários europeus, apenas ameaçado pelo conflito nas fronteiras com o islão.
Países em guerra civil mais ou menos declarada como a Nigéria, Camarões, República Centro-Africana, Sudão do Sul ou o Quénia constituem as guardas avançadas da resistência cristã contra o avanço islâmico, protagonizado por movimentos como o Estado Islâmico ou o Boko Haram, que são mais rigorosos e têm recusado as práticas sincréticas de boa convivência dos últimos séculos.
Por isso, num continente ferido por guerras religiosas e sem falta de vocações, a hierarquia é pouco sensível aos temas fraturantes, como a abertura às mulheres e homossexuais ou à discussão do celibato sacerdotal.
A única exceção recente neste conservadorismo foi o uso de preservativo, o único momento em que a Igreja africana liderou o debate interno, também por causa dos índices galopantes de HIV.
A Ásia é outro continente conservador, com muitos católicos a defenderem o respeito das normas e tradições, num contexto de disputa com religiões também elas fortemente ritualistas, como o hinduísmo, budismo ou xintoísmo.
Entre os eleitores, o país que tem mais cardeais é Itália, com 17 (12,6% dos votos), seguida dos EUA (10, 7,4% dos votos) e do Brasil (7).
A redução do peso da Itália no colégio cardinalício tem sido uma tendência, com menos 10 eleitores do que em 2013 (23,1% dos votos).
Em 1978, aquando da eleição do último papa italiano (João Paulo I), os italianos representavam 22,5% e em 1939, a maioria (54,8%) do colégio eleitoral tinha nacionalidade italiana.
O peso da Igreja italiana também foi reduzido por Francisco. O Papa nomeou menos cardeais e ordenou a fusão de parte das 227 organizações diocesanas do país. Portugal, por exemplo, tem apenas 21 dioceses.
Perante a falta de decisão dos bispos italianos de reorganizarem o seu mapa administrativo, Francisco recusou nomear novos responsáveis para as dioceses que ficam com lideranças vagas, ordenando a outros prelados a acumulação de funções em mais do que uma estrutura.
No total, há 42 dioceses italianos sem bispos, um sinal do ‘braço-de-ferro’ entre Francisco e a Conferência Episcopal Italiana, liderada por Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e um dos candidatos à sucessão de Francisco.
Em 2013 e 2005 foram 115 os eleitores na Capela Sistina e nos dois conclaves de 1978 foram 111 cardeais. Antes disso, desde 1623 que o número de eleitores não supera os 80 cardeais de 1963, que elegeu Paulo VI.
O sucessor do Papa Francisco será eleito pelo Conclave de cardeais menos europeu e menos italiano de sempre, um sinal das mudanças na Igreja Católica, mas também do dinamismo religioso de outras geografias em comparação com o velho continente.
Francisco deixou um Colégio Cardinalício mais global, menos europeu e menos italiano, retomando a tendência de Paulo VI e João Paulo II, interrompida por Bento XVI.
Nos últimos anos, assumindo-se como o Papa das periferias, Francisco nomeou vários cardeais de países tão diversos como Austrália, Chile, Peru, Sérvia, Japão, Indonésia, Irão, Canadá, Costa do Marfim ou Argélia.
O colégio atual é também feito à imagem da renovação promovida por Francisco: dos 133 cardeais eleitores, 108 (82%) foram escolhidos por si, um sinal de que a sua sucessão será marcada pelo seu carisma.
A forma como o debate interno foi promovido por Francisco ao nível paroquial, diocesano e continental mostrou uma Igreja a várias velocidades.
A igreja latino-americana, particularmente a hispânica, tem dado mostras de defesa de movimentos progressistas, sendo acompanhada pelas dioceses europeias, que se debatem há muitos anos com o abandono da prática religiosa dos fiéis.
Nos anos 1970 e 1980, vários teólogos sul-americanos defenderam ações mais intensas da Igreja na defesa dos direitos humanos, dos povos indígenas, da ecologia e da democracia perante as ditaduras de direita.
Esse movimento foi designado de Teologia da Libertação e foi castigado pela Congregação para a Doutrina da Fé, liderada pelo então cardeal Ratzinger, futuro Bento XVI, que considerou as ideias demasiado próximas do marxismo.
Nos anos 1990, debateu-se a Nova Evangelização da Europa, que teve o então cardeal português José Policarpo como um dos seus ideólogos, e, nesse processo, nasceram movimentos novos nas dioceses, dando mais poder aos leigos face à ausência de vocações sacerdotais.
Este movimento deu frutos, envolveu as comunidades locais e inspirou o Processo Sinodal lançado em 2021 pelo Papa.
A Igreja católica norte-americana é uma das mais ricas do mundo e tem oscilado entre lideranças conservadoras no passado recente e responsáveis mais progressistas, agora nomeados por Francisco.
Tradicionalista, apoiada na herança imigrante de italianos e irlandeses, que se opõe ao pragmatismo protestante e puritano, mas também ao movimento neopentecostal evangélico, a Igreja Católica norte-americana foi fortemente atingida pelos escândalos sexuais.
Em África, apesar do crescimento dos movimentos evangélicos, financiados pelos EUA, a Igreja Católica continua em crescimento, graças aos esforços missionários europeus, apenas ameaçado pelo conflito nas fronteiras com o islão.
Países em guerra civil mais ou menos declarada como a Nigéria, Camarões, República Centro-Africana, Sudão do Sul ou o Quénia constituem as guardas avançadas da resistência cristã contra o avanço islâmico, protagonizado por movimentos como o Estado Islâmico ou o Boko Haram, que são mais rigorosos e têm recusado as práticas sincréticas de boa convivência dos últimos séculos.
Por isso, num continente ferido por guerras religiosas e sem falta de vocações, a hierarquia é pouco sensível aos temas fraturantes, como a abertura às mulheres e homossexuais ou à discussão do celibato sacerdotal.
A única exceção recente neste conservadorismo foi o uso de preservativo, o único momento em que a Igreja africana liderou o debate interno, também por causa dos índices galopantes de HIV.
A Ásia é outro continente conservador, com muitos católicos a defenderem o respeito das normas e tradições, num contexto de disputa com religiões também elas fortemente ritualistas, como o hinduísmo, budismo ou xintoísmo.
A principal exceção é Antonio Tagle, o cardeal filipino que chegou a ser criticado pelo seu próprio episcopado por querer promover um caminho sinodal que dava prioridade às propostas dos leigos por contraponto aos religiosos.
Sucessor de Francisco escolhido por 133 cardeais eleitores com menos de 80 anos
O Conclave tem início na quarta-feira, dia 7 de maio, e caberá aos 133 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, a responsabilidade de escolher o sucessor de Francisco. Todos os dias serão feitas quatro votações e o futuro Papa deverá ter pelo menos dois terços dos boletins contados.
No conclave, a Europa tem 53 cardeais eleitores (39% do universo eleitoral), um número muito abaixo do habitual nos colégios anteriores. Em 2013, aquando da eleição de Francisco, o número de europeus era de 60 (52,2%), e em 2005, esse número era de 58 (49,5%).
Entre os eleitores, o país que tem mais cardeais é Itália, com 17 (12,6% dos votos), seguida dos EUA (10, 7,4% dos votos) e do Brasil (7).
A redução do peso da Itália no colégio cardinalício tem sido uma tendência, com menos 10 eleitores do que em 2013 (23,1% dos votos).
Em 1978, aquando da eleição do último papa italiano (João Paulo I), os italianos representavam 22,5% e em 1939, a maioria (54,8%) do colégio eleitoral tinha nacionalidade italiana.
O peso da Igreja italiana também foi reduzido por Francisco. O Papa nomeou menos cardeais e ordenou a fusão de parte das 227 organizações diocesanas do país. Portugal, por exemplo, tem apenas 21 dioceses.
Perante a falta de decisão dos bispos italianos de reorganizarem o seu mapa administrativo, Francisco recusou nomear novos responsáveis para as dioceses que ficam com lideranças vagas, ordenando a outros prelados a acumulação de funções em mais do que uma estrutura.
No total, há 42 dioceses italianos sem bispos, um sinal do ‘braço-de-ferro’ entre Francisco e a Conferência Episcopal Italiana, liderada por Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha e um dos candidatos à sucessão de Francisco.
O Brasil é o país lusófono com mais cardeais eleitores (7), seguido de Portugal (4), numa lista que inclui Cabo Verde e Timor-Leste, com um cada.
Herança de Francisco disputada por conservadores e progressistasA Igreja Católica que Francisco deixa ao seu sucessor está hoje dividida como poucas vezes sucedeu no passado, entre quem defendeu mudanças estruturais e quem quer um regresso a um passado.
“É também, de certo modo, a herança do Concílio Vaticano II que está em causa”, admitiu Austen Ivereigh, um dos biógrafos de Francisco.
O Concílio Vaticano II, no início dos anos 1960, marcou mudanças estruturais na doutrina da Igreja, com o fim de práticas antigas (como os ritos em latim) e o incremento do diálogo ecuménico (com outras confissões cristãs) e diálogo inter-religioso, alterações que não foram bem vistas por vários setores.
Mais do que qualquer Papa, Francisco tentou implementar uma política de diálogo interno, numa lógica muito semelhante ao modelo de centralismo democrático habitual em partidos marxistas-leninistas, a partir de discussões nas células-base da Igreja até à elaboração de propostas programáticas de alterações que serão apresentadas na Assembleia Eclesial de 2028.
Em 2021, o Papa lançou um “debate sem temas tabu”, denominado Processo Sinodal, que visava promover a discussão interna, em particular entre os leigos, retirando aos religiosos o papel de fiscalizar ou condicionar as propostas a apresentar em 2028.
Esta discussão interna, uma tradição que surge de muitos movimentos católicos latino-americanos, influenciados pela teologia da libertação – um movimento de reflexão teológica sobre o papel da Igreja face à injustiça do mundo e dos governos que foi duramente reprimido por Joseph Ratzinger, antes de ter sido eleito Bento XVI -, teve eco em vários países onde se assiste a um divórcio cada vez maior entre as novas gerações e a fé.
A Igreja Católica tem vivido, a nível mundial, um processo sinodal convocado pelo Papa e dividido em três fases, entre outubro de 2021 e outubro de 2023, com uma etapa diocesana e outra continental, antes do encontro mundial no Vaticano.
Nos debates internos estão temas como o celibato dos padres, o papel da mulher, o lugar dos divorciados ou a homossexualidade.
No caso das relações, Francisco aprovou o documento doutrinal Fiducia Supplicans, que abre a possibilidade de abençoar casais em situação “irregular”, algo fortemente criticado pelos mais conservadores.
Apesar de um recuo, em que o Vaticano insistiu na bênção das pessoas e não das relações propriamente ditas, Francisco, na sua autobiografia “Esperança”, contestou as críticas feitas e reafirmou a abertura de uma Igreja a “todos, todos, todos”.
“Na Igreja, são todos convidados, mesmo as pessoas divorciadas, mesmo as pessoas homossexuais, mesmo as pessoas transexuais”, escreveu Francisco. “Se o Senhor diz todos, quem sou eu para excluir alguém?”, acrescentou.
“Abençoam-se as pessoas, não as relações”, precisa o Papa.
Francisco lamentou que mais de 60 países no mundo criminalizem homossexuais e transexuais, “uma dezena até com a pena de morte, que por vezes é efetivamente aplicada”.
“A homossexualidade não é um crime, é um facto humano e a Igreja e os cristãos não podem, por isso, permanecer indolentes diante desta injustiça criminosa”, escreveu.
Se Francisco pode ser recordado como progressista, muitos movimentos católicos consideram que não o foi suficiente.
E neste equilíbrio de sensibilidades, movimentos mais radicais, que pedem o regresso às práticas pré-Concílio Vaticano II, como a Fraternidade São Pio X, têm aproveitado estes dias para criticar algumas das decisões, como o Caminho Sinodal, que retira à hierarquia o papel decisivo na aprovação das conclusões.
Depois da morte de Francisco, o movimento, fundado por Marcel Lefebvre, publicou uma nota contra o Concílio Vaticano II: “As lojas [maçónicas] podem regozijar-se: o seu sucesso é sensacional, os próprios clérigos decidiram a grande mutação que a Igreja deve sofrer; deve procurar uma expressão do seu dogma adaptada ao espírito moderno, isto é, ao ateísmo prático”.
Mas se estes radicais têm menos eco no colégio cardinalício, há muitos nomes que estão associados ao conservadorismo, como é o caso do norte-americano Raymond Leo Burke ou do alemão Gerhard Muller, que foram desautorizados hierarquicamente por Francisco.
Os cardeais mais conservadores que, segundo vários analistas, entre os quais o jornal La Stampa, têm um quarto dos votos do conclave, são maioritariamente nomeados por Bento XVI e alinham-se em torno do conceito da “hermenêutica da continuidade”, um termo apresentado pelo antecessor de Francisco, propondo que o Concílio Vaticano II deve ser interpretado em total coerência com a doutrina que sempre foi ensinada pelos papas predecessores.
Ou seja, “uma mudança que nunca seria concretizada de facto”, disse à Lusa um dos bispos portugueses.
“É também, de certo modo, a herança do Concílio Vaticano II que está em causa”, admitiu Austen Ivereigh, um dos biógrafos de Francisco.
O Concílio Vaticano II, no início dos anos 1960, marcou mudanças estruturais na doutrina da Igreja, com o fim de práticas antigas (como os ritos em latim) e o incremento do diálogo ecuménico (com outras confissões cristãs) e diálogo inter-religioso, alterações que não foram bem vistas por vários setores.
Mais do que qualquer Papa, Francisco tentou implementar uma política de diálogo interno, numa lógica muito semelhante ao modelo de centralismo democrático habitual em partidos marxistas-leninistas, a partir de discussões nas células-base da Igreja até à elaboração de propostas programáticas de alterações que serão apresentadas na Assembleia Eclesial de 2028.
Em 2021, o Papa lançou um “debate sem temas tabu”, denominado Processo Sinodal, que visava promover a discussão interna, em particular entre os leigos, retirando aos religiosos o papel de fiscalizar ou condicionar as propostas a apresentar em 2028.
Esta discussão interna, uma tradição que surge de muitos movimentos católicos latino-americanos, influenciados pela teologia da libertação – um movimento de reflexão teológica sobre o papel da Igreja face à injustiça do mundo e dos governos que foi duramente reprimido por Joseph Ratzinger, antes de ter sido eleito Bento XVI -, teve eco em vários países onde se assiste a um divórcio cada vez maior entre as novas gerações e a fé.
A Igreja Católica tem vivido, a nível mundial, um processo sinodal convocado pelo Papa e dividido em três fases, entre outubro de 2021 e outubro de 2023, com uma etapa diocesana e outra continental, antes do encontro mundial no Vaticano.
Nos debates internos estão temas como o celibato dos padres, o papel da mulher, o lugar dos divorciados ou a homossexualidade.
No caso das relações, Francisco aprovou o documento doutrinal Fiducia Supplicans, que abre a possibilidade de abençoar casais em situação “irregular”, algo fortemente criticado pelos mais conservadores.
Apesar de um recuo, em que o Vaticano insistiu na bênção das pessoas e não das relações propriamente ditas, Francisco, na sua autobiografia “Esperança”, contestou as críticas feitas e reafirmou a abertura de uma Igreja a “todos, todos, todos”.
“Na Igreja, são todos convidados, mesmo as pessoas divorciadas, mesmo as pessoas homossexuais, mesmo as pessoas transexuais”, escreveu Francisco. “Se o Senhor diz todos, quem sou eu para excluir alguém?”, acrescentou.
“Abençoam-se as pessoas, não as relações”, precisa o Papa.
Francisco lamentou que mais de 60 países no mundo criminalizem homossexuais e transexuais, “uma dezena até com a pena de morte, que por vezes é efetivamente aplicada”.
“A homossexualidade não é um crime, é um facto humano e a Igreja e os cristãos não podem, por isso, permanecer indolentes diante desta injustiça criminosa”, escreveu.
Se Francisco pode ser recordado como progressista, muitos movimentos católicos consideram que não o foi suficiente.
E neste equilíbrio de sensibilidades, movimentos mais radicais, que pedem o regresso às práticas pré-Concílio Vaticano II, como a Fraternidade São Pio X, têm aproveitado estes dias para criticar algumas das decisões, como o Caminho Sinodal, que retira à hierarquia o papel decisivo na aprovação das conclusões.
Depois da morte de Francisco, o movimento, fundado por Marcel Lefebvre, publicou uma nota contra o Concílio Vaticano II: “As lojas [maçónicas] podem regozijar-se: o seu sucesso é sensacional, os próprios clérigos decidiram a grande mutação que a Igreja deve sofrer; deve procurar uma expressão do seu dogma adaptada ao espírito moderno, isto é, ao ateísmo prático”.
Mas se estes radicais têm menos eco no colégio cardinalício, há muitos nomes que estão associados ao conservadorismo, como é o caso do norte-americano Raymond Leo Burke ou do alemão Gerhard Muller, que foram desautorizados hierarquicamente por Francisco.
Os cardeais mais conservadores que, segundo vários analistas, entre os quais o jornal La Stampa, têm um quarto dos votos do conclave, são maioritariamente nomeados por Bento XVI e alinham-se em torno do conceito da “hermenêutica da continuidade”, um termo apresentado pelo antecessor de Francisco, propondo que o Concílio Vaticano II deve ser interpretado em total coerência com a doutrina que sempre foi ensinada pelos papas predecessores.
Ou seja, “uma mudança que nunca seria concretizada de facto”, disse à Lusa um dos bispos portugueses.
Secretário de Estado de Francisco é o favorito das apostas para ser o novo Papa
O secretário de Estado de Francisco, Pietro Parolin, é o favorito destacado na maioria das bolsas de apostas online para ser o novo Papa eleito no Conclave de Cardeais, que tem início no Vaticano na quarta-feira.
Numa consulta pelas principais bolsas de apostas, agregadas na plataforma oddschecker.com, Parolin segue destacado nas 16 casas online que permitem apostar no futuro Papa, o que mostra a força do cardeal nascido em Roma e que era secretário de Estado de Francisco há mais de 10 anos e tem sido considerado o mais consensual na sua sucessão.
A criação de cardeais de várias nacionalidades - o consistório tem um recorde de nomes – e a maior diversidade de formação dos escolhidos cria um dos conclaves mais imprevisíveis na história mais recente da Igreja Católica.
Parolin é um dos poucos cardeais que conhece a totalidade dos nomeados por Francisco, devido ao seu papel na diplomacia do Vaticano, tem tido abordagens de continuidade em relação ao Papa argentino nos temas mais fraturantes e tem como pontos mais fracos a falta de experiência administrativa – nunca foi pároco ou bispo diocesano - e o acordo celebrado com a China para o reconhecimento da hierarquia católica naquele país.
A seguir a Parolin, na quase totalidade das casas de apostas, segue o filipino Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, um dos ministérios mais importantes da Cúria romana, conhecido por ser progressista num continente que tem uma Igreja mais conservadora.
Com experiência pastoral e de gestão diocesana, Tagle é o favorito de muito dos que defendem as periferias e tem um estilo pessoal mais informal, muito próximo de Francisco.
A partir destes dois, os nomes na oddschecker.com já são mais variados, com destaque ligeiro para o ganês Peter Turkson, nomeado por João Paulo II e antigo presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, que já era um dos nomes em ascensão durante a eleição de Bergoglio, em 2012, e o italiano Matteo Zuppi, cardeal de Bolonha, presidente da Conferência Episcopal Italiana e considerado o mais progressista entre os nomes mais fortes do conclave.
Seguem-se o italiano Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, o húngaro Peter Erdo e o guineense Robert Sarah, vistos com bons olhos por alguns setores menos progressistas.
O maltês Mario Grech (atual secretário do Sínodo dos Bispos), o francês Jean-Marc Aveline (arcebispo de Marselha) e congolês Fridolin Besungu (presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar) fecham o ‘top-ten’ de favoritos, com os dois primeiros a estarem muito ligados ao processo de diálogo interno iniciado por Francisco.
O português Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura, é o único que aparece na lista da oddschecker.com, ocupando o 25.º lugar, com os que vão de 1 para 25 na PaddyPower, Ladbrokes, Betfair Sportsbook, Starr Sports ou Coral, de 1 para 50 na Unibet, BetVictor, BetMGM ou LiveScore.
Na plataforma Polymarket, outro grande agregador de apostas mundial, Tolentino de Mendonça está mais bem classificado, ocupando o oitavo lugar, com dois por cento de hipóteses de ser o novo Papa, uma lista liderada por Parolin (27%), Tagle (19%), Turkson (13%) e Zuppi (12%).
O secretário de Estado de Francisco, Pietro Parolin, é o favorito destacado na maioria das bolsas de apostas online para ser o novo Papa eleito no Conclave de Cardeais, que tem início no Vaticano na quarta-feira.
Numa consulta pelas principais bolsas de apostas, agregadas na plataforma oddschecker.com, Parolin segue destacado nas 16 casas online que permitem apostar no futuro Papa, o que mostra a força do cardeal nascido em Roma e que era secretário de Estado de Francisco há mais de 10 anos e tem sido considerado o mais consensual na sua sucessão.
A criação de cardeais de várias nacionalidades - o consistório tem um recorde de nomes – e a maior diversidade de formação dos escolhidos cria um dos conclaves mais imprevisíveis na história mais recente da Igreja Católica.
Parolin é um dos poucos cardeais que conhece a totalidade dos nomeados por Francisco, devido ao seu papel na diplomacia do Vaticano, tem tido abordagens de continuidade em relação ao Papa argentino nos temas mais fraturantes e tem como pontos mais fracos a falta de experiência administrativa – nunca foi pároco ou bispo diocesano - e o acordo celebrado com a China para o reconhecimento da hierarquia católica naquele país.
A seguir a Parolin, na quase totalidade das casas de apostas, segue o filipino Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, um dos ministérios mais importantes da Cúria romana, conhecido por ser progressista num continente que tem uma Igreja mais conservadora.
Com experiência pastoral e de gestão diocesana, Tagle é o favorito de muito dos que defendem as periferias e tem um estilo pessoal mais informal, muito próximo de Francisco.
A partir destes dois, os nomes na oddschecker.com já são mais variados, com destaque ligeiro para o ganês Peter Turkson, nomeado por João Paulo II e antigo presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, que já era um dos nomes em ascensão durante a eleição de Bergoglio, em 2012, e o italiano Matteo Zuppi, cardeal de Bolonha, presidente da Conferência Episcopal Italiana e considerado o mais progressista entre os nomes mais fortes do conclave.
Seguem-se o italiano Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, o húngaro Peter Erdo e o guineense Robert Sarah, vistos com bons olhos por alguns setores menos progressistas.
O maltês Mario Grech (atual secretário do Sínodo dos Bispos), o francês Jean-Marc Aveline (arcebispo de Marselha) e congolês Fridolin Besungu (presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar) fecham o ‘top-ten’ de favoritos, com os dois primeiros a estarem muito ligados ao processo de diálogo interno iniciado por Francisco.
O português Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura, é o único que aparece na lista da oddschecker.com, ocupando o 25.º lugar, com os que vão de 1 para 25 na PaddyPower, Ladbrokes, Betfair Sportsbook, Starr Sports ou Coral, de 1 para 50 na Unibet, BetVictor, BetMGM ou LiveScore.
Na plataforma Polymarket, outro grande agregador de apostas mundial, Tolentino de Mendonça está mais bem classificado, ocupando o oitavo lugar, com dois por cento de hipóteses de ser o novo Papa, uma lista liderada por Parolin (27%), Tagle (19%), Turkson (13%) e Zuppi (12%).
C/ Lusa