Conflito no Sudão. Ex-ministro preso por crimes de guerra escapa da prisão

por Carla Quirino - RTP
Zonas residenciais de Cartum destruídas Reuters

Ahmad Harun, ex-ministro do governo do anterior presidente sudanês Omar Hassan al-Bashir, já não está preso. O ex-ministro é acusado pelo Tribunal Penal Internacional de liderar uma campanha de assassínios e violações em massa na região sudanesa de Darfur, o que ele refuta.

No início desta semana, surgiram relatos de uma fuga da prisão em Kober - onde Ahmad Harun cumpria pena ao lado de Omar al-Bashir, ex-presidente do Sudão.

Na terça-feira, Haroun acabou por anunciar num comunicado transmitido pela TV Tayba do Sudão que, tanto ele como outros ex-funcionários que serviram sob Bashir tinham deixado a prisão de Kober.

Dizem ter assumido a responsabilidade da sua própria proteção, mas Harum acrescenta que estará pronto para comparecer perante o tribunal quando voltar a funcionar.

Segundo a Al Jazeera, a polícia do Sudão também veio confirmar que as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares do Sudão invadiram cinco prisões e libertaram detidos.

O Ministério do Interior confere que a prisão de Kober esteve incluída nessa operação armada da fação rival. O ataque provocou a morte e ferimentos de vários funcionários da prisão. Acrescentou que o "RSF libertou todos os que lá estavam detidos".

De acordo com a Reuters, “o paradeiro do ex-presidente Omar al-Bashir está a ser questionado” nesta quarta-feira.

Bashir é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), e está acusado por liderar uma campanha de assassínios e violações em massa na região sudanesa de Darfur, o que ele nega.

Harun também rejeita as acusações do TPI contra ele, que estão associadas à alegada incitação à violência contra civis em Darfur. O ex-ministro foi preso em 2019 após o golpe contra Bashir.

Desde então, o Sudão mergulhou em consecutivas tentativas de golpes de Estado.
“Criaram uma catástrofe humanitária”
Os combates recomeçaram no Sudão na noite de terça-feira, apesar de uma declaração de cessar-fogo das fações em guerra. Muita população continua a fugir de Cartum devido ao conflito armado.

Não há nenhum sinal de que as partes rivais estejam prontas para 'negociar seriamente', diz o enviado da ONU ao Sudão, Volker Perthes.

As Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Apoio Rápido paramilitares (RSF) concordaram com um cessar-fogo de 72 horas a partir de terça-feira, após negociações mediadas pelos EUA e pela Arábia Saudita.

Mas o acordo não está a ser cumprido, já que há relatos de confrontos armados em locais estratégicos na capital Cartum e em outras zonas do país.

Perthes deixa claro que ambos os lados do conflito acreditam que “é possível uma vitória militar de um sobre o outro”.

Durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU na cidade de Nova Iorque na terça-feira, o enviado da ONU, interveio por videoconferência a partir de Port Sudan, no leste do país, e denunciou o caos na cidade de Cartum.

Descreveu o conflito como “desrespeito às leis e normas da guerra entre os combatentes que transformaram a capital do Sudão numa zona de guerra” desde o início das batalhas a 15 de abril. Os combates “criaram uma catástrofe humanitária com os civis a arcar com o peso” relata Perthes.

“Ambas as partes em guerra lutaram com desrespeito às leis e normas da guerra, atacando áreas densamente povoadas, com pouca consideração pelos civis, pelos hospitais ou mesmo pelos veículos que transportam feridos e doentes”, disse o enviado da ONU.

Em Cartum, já morreram, pelo menos, 459 pessoas e há mais de 4.000 feridos. A região não tem energia nem água e a distribuição de alimentos está limitada.

Este conflito soma-se à grave crise que o país já enfrentava onde um terço dos 46 milhões de habitantes contavam com ajuda alimentar.
“Pavio que pode detonar além fronteiras”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu a violência e o caos no Sudão como “de partir o coração” e alertou na mesma reunião que os combates podem alastrar aos países vizinhos.

“O Sudão faz fronteira com sete países, todos os quais estiveram envolvidos em conflitos ou sofreram graves distúrbios civis na última década”, sublinhou Guterres.

E deixa um alerta: “A luta pelo poder no Sudão não está apenas a colocar em risco o futuro daquele país. É acender um pavio que pode detonar além das fronteiras, causando imenso sofrimento durante anos e atrasar o desenvolvimento nas próximas décadas”.

c/agências
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