Confrontos no Kosovo. Soldados da KFOR feridos por manifestantes sérvios

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

Mais de 30 soldados da manutenção da paz da NATO que defendiam três localidades no norte de Kosovo ficaram feridos em confrontos com manifestantes sérvios, na segunda-feira. O presidente da Sérvia colocou o exército no nível mais alto de alerta de combate. A situação continua tensa, esta terça-feira, no norte do território kosovar, onde os manifestantes sérvios continuam a aglomerar-se em frente ao município de Zvecan.

Depois do boicote às eleições municipais, a população sérvia do Kosovo quer impedir a instalação dos autarcas kosovares eleitos. Mas as manifestações de segunda-feira escalaram para confrontos violentos entre os manifestantes e as forças de segurança presentes.

Durante os protestos os soldados da tropa de choque da KFOR, a força multinacional liderada pela NATO, formaram uma barreira de metal em redor da prefeitura para impedir o acesso das várias centenas de sérvios que tentavam invadir o edifício.

Apesar do reforço de segurança nos protestos de segunda-feira, mais de 50 pessoas sofreram ferimentos ligeiros no norte do Kosovo, dispersado com gás lacrimogéneo e granadas de fumo por forças da missão KFOR da NATO.Os sérvios, minoria no Kosovo mas grupo maioritário no norte do país, manifestavam-se em frente à Câmara Municipal da localidade de Zvecan para exigir a demissão do novo presidente da autarquia, pertencente à maioria albanesa.

Em abril, os eleitores sérvios boicotaram as eleições municipais nesta região, o que resultou na eleição de prefeitos albaneses com uma participação inferior a 3,5 por cento.

Segundo o portal digital Kossev, a KFOR (Kosovo-Force) estava a intervir quando a multidão se recusou, apesar do apelo dos líderes políticos, a permitir a passagem de dois veículos da polícia especial kosovar que estavam bloqueados entre os manifestantes desde a manhã. Os manifestantes exigiam a retirada de todos os agentes da polícia especial que se encontravam no edifício da Câmara Municipal e alguns meios de comunicação relataram disparos.
Vučić defende posição sérvia

Os soldados da missão KFOR, encarregada de zelar pela segurança no Kosovo, estavam entre unidades da polícia especial kosovar, que se encontrava em frente ao edifício municipal e os manifestantes, e quase 30 tropas sofreram ferimentos: alguns sendo atingidos por cocktails molotov, outros sofreram fraturas.
O presidente sérvio, Aleksandar Vučić, reagiu entretanto aos confrontos e defendeu a posição sérvia, apontando a culpa destes desacatos ao primeiro-ministro kosovar Albin Kurti.

Vučić passou a noite junto das tropas sérvias estacionadas junto à fronteira com o Kosovo e afirmou: "Mobilizámos as nossas forças de acordo com a situação, em locais onde pensamos ser necessário. Vamos visitar muitos locais com o nosso exército".

A Aliança Atlântica também já condenou os acontecimentos de no norte do Kosovo, classificando-os como “inaceitáveis”.

A NATO condena firmemente os ataques não-provocados às tropas da KFOR no norte do Kosovo, que fizeram vários feridos. Tais ataques são totalmente inaceitáveis. A violência deve parar imediatamente”, declarou um porta-voz da organização de defesa ocidental.
"Redução das tensões"

Os Estados Unidos e a União Europeia juntaram-se também às condenações dos ataques no norte do Kosovo, pela voz do embaixador norte-americano em Pristina, Jeffery Hovenier, e do chefe da delegação da UE no país, Tomas Szunyog.

“Os Estados Unidos condenam energicamente as ações dos manifestantes hoje em Zvecan, incluindo o uso de explosivos, contra as tropas da KFOR que querem manter a paz. Reiteramos o nosso apelo para que cessem a violência e as ações que estão a aumentar as tensões e a promover o conflito”, escreveu Hovenier na rede social Twitter.


Szunyog instou também ao “cessar imediato da violência e a uma redução das tensões”.

Recorde-se que os sérvios do norte do Kosovo não reconhecem a autoridades dos novos presidentes das câmaras, eleitos em abril num escrutínio em que a participação foi de apenas 3 por cento, devido ao boicote da população sérvia, que é uma minoria no país, mas constitui uma larga maioria em quatro municípios do norte kosovar.

As eleições foram convocadas depois de os representantes dos sérvio-kosovares terem abandonado em novembro passado as instituições do Kosovo em protesto contra a discriminação de que, asseguram, são alvo por parte do Governo central.

Os incidentes já tinham começado na sexta-feira, quando autarcas albaneses kosovares tomaram posse acompanhados por polícias.

Soldados da KFOR, armados com escudos e bastões, inicialmente tentaram separar os dois lados antes de começar a dispersar a multidão, mas os manifestantes responderam e atiraram pedras e bombas incendiárias improvisadas ("cocktail molotov") contra os soldados, antes de serem empurrados para fora daquela zona.

Recorde-se que a Sérvia nunca reconheceu a independência proclamada em 2008 pela sua antiga província e as tensões surgem regularmente entre Belgrado e Pristina. Cerca de 120 mil sérvios vivem em Kosovo, cerca de um terço destes no norte do território.

Os dois países estão a negociar a normalização das suas relações com base num novo plano da UE, apoiado por Washington, num processo com frequência interrompido pela ocorrência de confrontos.
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