Covid-19. Adolescente de 17 anos morre nos EUA após clínica recusar tratá-lo

por RTP
Uma pessoa caminha em Antelope Valley, ao longo da Reserva de Papoilas da Califórnia, condado de Lancaster, a 26 de março de 2020 Reuters

Um rapaz de Los Angeles County pode ser a primeira vítima adolescente da pandemia nos Estados Unidos. Fica de qualquer forma para a história por outro motivo mais grave, pois viu o socorro ser-lhe negado numa clínica de urgências, por não ter seguro de saúde.

O caso provocou inúmeros rumores na cidade de Lancaster, California, onde o rapaz vivia, levando o mayor da cidade, R.Rex Parris, a prestar esclarecimentos públicos.

"Ele não tinha seguro, por isso não o trataram", afirmou Parris num vídeo publicado no You Tube.

Em vez disso, os funcionários da clínica disseram-lhe para se dirigir às urgências do Hospital de Antelope Valley, um hospital público na mesma área, explicou o mayor.

"A caminho do hospital, entrou em paragem cardíaca, quando lá chegou conseguiram reanima-lo e mantê-lo vivo por cerca de seis horas", acrescentou. "Mas quando ele chegou lá já era demasiado tarde".

Parris afirma também que, tanto quanto sabe, o adolescente era saudável antes de ficar com problemas respiratórios.

"Estava doente há uns dias, não tinha quaisquer problemas de saúde prévios. Na sexta-feira antes de morrer, estava de boa saúde, a conviver com amigos", afirmou. "Na quarta-feira seguinte, estava morto".A primeira explicação para a morte do rapaz foi choque séptico devido a complicações de covid-19. O pai do adolescente também testou positivo para o novo coronavírus.

Nem o adolescente, de que só se sabe a idade, nem a clínica que recusou trata-lo,  foram para já identificados.

O caso do rapaz ilustra o perigo que o vírus sars-CoV-19 representa para toda a população e não apenas para os mais idosos ou com morbilidades.

Nos Estados Unidos,as circunstâncias da sua morte poderão ainda em breve ser replicadas milhares de vezes, uma vez que não existem serviços federais ou estatais de saúde, e estes cuidados só são prestados a quem tenha seguros ou garanta outras formas de pagar os tratamentos, orçados em dezenas de milhares de dólares.

O rapaz testou positivo para covid-19, mas o centro federal norte americano para doenças e epidemias, o CDC, está a investigar o caso, para determinar se a morte se ficou a dever a outra causa.

O óbito foi entretanto removido da lista de mortos oficial nos EUA devido à pandemia, afirmou em conferência de imprensa a dra Barbara Ferrer, diretora de saúde pública, dia 25 de março.
Dados contraditórios
Profissionais de saúde nos Estados Unidos têm acusado as autoridades de não estarem a fazer a contagem correcta dos casos
, à medida que os hospitais começam a ser inundados de doentes, alguns dos quais têm de esperar horas até serem testados.

"Simplesmente, não sabemos. Os números são francamente sub declarados. Eu sei que tivemos três óbitos num único condado e apenas um está registado no website", denunciou ao Buzz Feed News, esta semana, uma enfermeira californiana.

De acordo com o New York Times, em Nova Iorque há quem morra nas salas de urgência à espera de camas nos cuidados intensivos.

E em condados e cidades por todos os Estados Unidos, as autoridades começam a preparar-se para o pior, convertendo ginásios e salões públicos em centros de quarentena.

A própria cidade de Lancaster criou centros de triagem com dezenas de camas, como se pode ver nas imagens, por trás do mayor.

R.Rex Parris tem publicado diversos vídeos dirigidos à população de Lancaster, com conselhos e informações sobre a pandemia.



O exemplo do mayor
O caso do adolescente serviu para deixar alguns alertas.

"Sabemos que, quando se têm dificuldades respiratórias, quando se fica sem fôlego e se tem febre, essa é a altura de procurar tratamento médico o mais cedo possível", sublinhou Parris, apelando ao cumprimento de diversas outras medidas de proteção, começando por "ficar em casa".

Além do isolamento social, o mayor de Lancaster usa o seu próprio exemplo nos cuidados a ter com familiares, incluindo, quando regressa a casa, despir na garagem as roupas que usou, tomar banho e só depois cumprimentar a mulher, que tem problemas respiratórios.

"Este é o grau de gravidade com que estamos a tratar isto e esperamos que vocês também tenham os mesmos cuidados", apela o autarca, para garantir que "vamos ultrapassar isto juntos".

Sem comentar diretamente a atitude da clínica, Parris aplaude a unidade e o apoio mútuo já demonstrados pelos seus concidadãos e conclui a mensagem dizendo que esta crise irá criar uma comunidade mais forte e revelar uns aos outros "quem na verdade somos".

"Vamos ver coisas em cada um que nunca sonhamos ser possíveis. Não vai ser terrível, quando tudo tiver passado, mas ainda falta para lá chegar. Nos próximos meses, temos de nos manter unidos. Temos de ser fortes. E, mais importante que tudo, ficar em casa."
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