Covid-19 duplica incidência em Espanha. Governo descarta novo confinamento

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
A terceira vaga da pandemia é já responsável por meio milhão de casos positivos em apenas um mês Marta Perez - EPA

Nos primeiros 15 dias de 2021, o número de infeções por Covid-19 duplicou em Espanha, com mais 300 mil novos casos e 2.477 mortes. Na sexta-feira, o país registou um novo máximo de contágios, com 40 mil casos num só dia. O Governo reconhece que estes números “são muito preocupantes”, mas descarta a imposição de um novo confinamento.

Segundo números do Ministério da Saúde espanhol, a terceira vaga da pandemia é já responsável por meio milhão de casos positivos em apenas um mês, desde 14 de dezembro, tendo passado de 193 casos por cada 100 mil habitantes para os 575, o triplo.

Os números refletem, na sua maioria, o impacto das reuniões sociais e da mobilidade provocada pelas festas natalícias, que segundo o Governo, foram responsáveis pelo aumento sem precedentes do número de infetados. As autoridades sanitárias espanholas estimam que a subida do número de infetados se prolongue por mais três semanas.

Estamos a ver as consequências do relaxamento das festas de Natal e a tendência vai durar muitos mais dias. Cada vez mais pessoas são infetadas e isto multiplica os contágios. Isto continuará até que sejam aplicadas medidas mais rigorosas”, explicou ao jornal El País Santiago Moreno, chefe do serviço de doenças infecciosas do Hospital Ramón y Cajal, em Madrid.

A subida do número de infetados está também a pressionar os hospitais, o que preocupa as autoridades e faz adiar o número de cirurgias consideradas não urgentes Espanha tem atualmente 19.657 infetados hospitalizados, quase mais cinco mil do que há apenas uma semana, o que representa uma ocupação de 15,69 por cento.

Nas unidades de cuidados intensivos (UCI), os infetados representam 30 por cento da ocupação, sendo já quase três mil doentes (2.953).

O futuro é problemático porque esta terceira vaga, ao contrário da segunda, começou com níveis de ocupação das UCI ainda muito elevados. E com a incidência tão alta, os internamentos vão continuar a aumentar por muitos dias”, prevê Quique Bassat, investigador do instituto ISGlobal, de Barcelona.

Por sua vez, o sistema de saúde espanhol está a enfrentar esta terceira vaga com um esforço de testagem sem precedentes. Na semana de 5 a 11 de janeiro, os centros de saúde realizaram um total de 1.061.000 testes PCR e testes de antigénio.

Espanha também inicia na próxima semana a administração da segunda dose da vacina contra a Covid-19, havendo neste momento registo de 768.950 pessoas vacinadas desde o início do programa de vacinação que arrancou a 5 de janeiro. O ministro espanhol da Saúde espera chegar ao verão com 70 por cento da população vacinada.
Governo descarta novo confinamento
A saúde é um setor que está descentralizado em Espanha e o aumento da taxa de contágio levou praticamente todas as comunidades autónomas a anunciar nas últimas horas novas medidas de luta contra a pandemia. As comunidades estão agora a apertar as restrições que tinham relaxado semanas atrás para “salvar o Natal”.

A região de Madrid, por exemplo, anunciou que a partir da próxima segunda-feira vai endurecer as medidas de luta contra a Covid-19, antecipando para as 23h00 o recolher obrigatório e pedindo que só entrem em casa as pessoas do agregado familiar.


Na comunidade autónoma em que se encontra a capital espanhola, o recolher obrigatório será assim antecipado das 24h00 para as 23h00 horas e a hora de encerramento do setor da restauração e similares é antecipada para as 22h00. As medidas, que afetam esta região espanhola, vão estar em vigor, pelo menos, durante 14 dias.

No entanto, alguns dirigentes nacionais e regionais temem que estas medidas não sejam suficientes e apelam ao Governo central a estudar a possibilidade de voltar a impor o confinamento domiciliário. Regiões como Galiza, Castela e Leão, Andaluzia e La Rioja têm pedido à população para que fique em casa.

A questão do confinamento é, no entanto, um assunto de discórdia. “Já estamos a demorar a decretar um confinamento rigoroso. Continuar com as restrições atuais conterá o vírus, mas vamos demorar mais tempo. E isso afetará a economia e custará mais internamentos e mortes”, defende Jesús Molina Cabrillana, epidemiologista da Sociedade Espanhola de Medicina Preventiva, Saúde Pública e Higiene (Sempsph).

Com os números que temos, devemos tomar medidas semelhantes à do confinamento extremo ou aplicar um confinamento total radical por um curto período de tempo”, defendeu ainda Julián Domínguez, chefe de Medicina Preventiva do Hospital de Ceuta.

Por sua vez, o Governo insiste que, por agora, um novo confinamento não é necessário. O ministro espanhol da Saúde, Salvador Illa, reconheceu este sábado que “os números desta semana são muito preocupantes” e que Espanha está numa “situação muito preocupante”, mas anunciou que não será decretado nenhum confinamento, considerando que o estado de emergência em vigor até maio é suficiente.


“Não propomos nenhum confinamento domiciliário. Vencemos a segunda vaga sem um confinamento”, disse Illa. “O estado de emergência permite restrições de mobilidade noturna entre as 22h00 e as 07h00. Se for preciso reavaliar este horário vamos fazê-lo”, acrescentou o ministro da Saúde.
Encontros de amigos são a origem de 56% dos contágios
Segundo os dados recolhidos entre outubro e dezembro pelo serviço de vigilância epidemiológica do Departamento de saúde, o domicílio é o local onde mais pessoas foram infetadas pelo vírus SARS-CoV-2 (70 por cento).

Por sua vez, segundo La Vanguardia, os encontros com amigos ou familiares que não vivem na mesma residência são a origem de 56 por cento das infeções no domicílio.

“É o principal foco de transmissão do vírus evitável”, afirma o vice-diretor de Vigilância Epidemiológica, Jacobo Mendioroz. “Se esses encontros fossem feitos à distância, em número reduzido e com máscara, grande parte dessas 56 por cento de infeções seria evitada”, acrescentou o epidemiologista.

Segundo o jornal, 14.461 pessoas infetadas com Covid-19 explicaram a investigadores a origem da infeção. Setenta por cento afirmam ter sido infetados em casa e, por sua vez, onze por cento dos casos explicam que na origem da infeção estão encontros e refeições na própria casa com amigos e familiares que não fazem parte da “bolha” familiar.

Cerca de 30 por cento das infeções ocorreram fora de casa, sendo que 14 por cento identificam a fonte de contágio em atividade sociais e sete por cento no local de trabalho. As infeções entre profissionais de saúde são as mais numerosas, uma vez que, tal como explica La Vanguardia, apesar das medidas de proteção, estão mais expostos ao vírus.

A atividade escolar está associada a cinco por cento das infeções e o contágio em centros de saúde corresponde a apenas 2,5 por cento dos casos.

c/agências
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