Covid-19. Nova variante do vírus obriga Alemanha a prolongar confinamento

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Kai Pfaffenbach - Reuters

A chanceler alemã, Angela Merkel, e os governadores dos 16 Estados federados concordaram esta terça-feira em prolongar o confinamento no país até 14 de fevereiro. Apesar de uma ligeira diminuição dos números relativos à pandemia, as autoridades de saúde alemãs estão preocupadas com uma nova estirpe do vírus detetada no país.

A Alemanha parece estar agora numa fase descendente da curva epidémica. O número de novos casos tem diminuído nos últimos dias e a pressão sobre as unidades de cuidados intensivos também registou uma ligeira diminuição.

No entanto, os virologistas estão preocupados com a propagação de variantes mais infecciosas do vírus SARS-CoV-2, como a estirpe detetada no Reino Unido e outra na África do Sul.

“Os números de infeções estão a diminuir há várias semanas, ou a estagnar, o que é bom”, disse o presidente da Câmara de Berlim, Michael Mueller, à televisão alemã. “Mas agora estamos a enfrentar uma mutação muito agressiva [do vírus] à qual temos de responder”, acrescentou.

As autoridades de saúde alemãs estão atualmente a investigar uma nova estirpe detetada em 35 pessoas no Estado da Baviera, a sul do país. A variante foi detetada na segunda-feira no hospital Garmisch-Partenkirchen, depois de 73 pacientes e profissionais de saúde terem testado positivo à Covid-19.

As autoridades do hospital confirmaram que esta nova variante detetada é diferente das duas mutações altamente infecciosas que estão a causar preocupação em todo o mundo. No entanto, para além disso, pouco se sabe ainda sobre esta nova estirpe.

O vice-diretor do hospital, Clemens Stockklausner, disse aos jornalistas que ainda não estava claro se esta nova variante do coronavírus é mais letal ou infecciosa.

Não podemos dizer no momento se esta [mutação] tem alguma relevância clínica”, afirmou Stockklausner. “Temos de esperar pelo sequenciamento genético completo”, concluiu.

Amostras desta nova estirpe foram enviadas para o Hospital Charité, em Berlim, para análises complementares.
Governo prolonga confinamento
Perante esta ameaça de uma nova estirpe, a chanceler alemã, Angela Merkel, e os chefes de Governo dos 16 Estados federados concordaram esta terça-feira em prolongar o confinamento no país até 14 de fevereiro.

A Alemanha fechou as escolas, o comércio não-essencial, bares, restaurantes e instalações de lazer e culturais desde que foi imposto o confinamento, no início de novembro. Desde então, têm sido anunciadas medidas cada vez mais restritas.

As medidas parecem estar a ter efeito, com os números de infeções e vítimas mortais a diminuírem nos últimos dias. Segundo o Ministério alemão da Saúde, a ocupação de camas nos cuidados intensivos por doentes com Covid-19 diminui entre dez a 15 por cento desde que foram decretadas medidas mais restritivas.

“Os números [de infeções] parecem estar a diminui, o que é bom, mas ainda estamos muito longe de onde queremos estar”, disse o ministro da Saúde da Alemanha, Jens Spahn, ao canal televisivo ARD na segunda-feira.

Esta terça-feira, a Alemanha registou 11.369 novos casos de Covid-19 e 989 mortos – uma diminuição em mais de cinco mil casos em relação à semana anterior. Segundo o Instituto Robert Koch (RKI), desde o início da pandemia, o país registou 2,05 milhões de casos confirmados de Covid-19 e 47.622 vítimas mortais.
Mutações: a nova ameaça
O mundo ganhou agora um novo adversário na luta contra a pandemia: as novas variantes. Novas mutações do novo coronavírus, que são mais contagiosas, estão a surgir e a propagar-se rapidamente, o que está a preocupar as autoridades de todo o mundo.

O SARS-CoV-2 está a multiplicar-se geneticamente e as autoridades de saúde explicam que o alto índice de novos casos é o principal motivo para o surgimento de novas estirpes. Tal como explica a agência Associated Press, cada nova infeção dá ao vírus a oportunidade de sofrer uma mutação enquanto faz cópias de si mesmo, ameaçando destruir o progresso que o mundo fez até ao momento para controlar a pandemia.

É, por isso, normal que os vírus sofram pequenas alterações ou mutações na sua genética à medida que se reproduzem. O que os especialistas alertam é que nos últimos meses “começamos a ver uma evolução impressionante” do vírus SARS-CoV-2. “O facto de termos observado três variantes preocupantes a surgir desde setembro sugere que provavelmente há mais por vir”, alertou Trevor Bedford, do Fred Hutchinson Cancer Research Center, em Seattle.

Numa altura em que a grande maioria dos países está ainda numa fase inicial da vacinação, teme-se o surgimento de uma mutação que as vacinas não consigam combater.

Até agora, as vacinas parecem permanecer eficazes, mas há sinais de que algumas das novas mutações podem reduzir a eficácia dos tratamentos com anticorpos.

“Estamos numa corrida contra o tempo”, porque o vírus “pode tropeçar numa mutação” que o torna mais perigoso
, disse Pardis Sabeti, biólogo do Broad Institute.

As variantes do coronavírus identificadas inicialmente no Reino Unido e na África do Sul são particularmente contagiosas e circulam agora por dezenas de países, com uma nova vaga de contaminações e confinamentos, enquanto decorrem as campanhas de vacinação.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de países e territórios onde já foi detetada a variante britânica ascende a 50 e a variante identificada na África do Sul surgiu em 20, mas a organização considera que esta avaliação pode estar subestimada.

O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) afirmou na semana passada que a nova variante identificada no Reino Unido – que pode ser até 70 por cento mais infecciosa – pode tornar-se dominante nos EUA em março, o que leva as autoridades norte-americanas a alertarem para “uma nova fase de crescimento exponencial”.

Estamos a ver muitas variantes, diversidade viral, porque há muitos vírus por aí”, e reduzir novas infeções é a melhor maneira de contê-las, explicou Adam Lauring, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Michigan.

Os especialistas apelam, por isso, à população para que continue a adotar as regras de higienização básicas: usar máscara, lavar frequentemente as mãos, cumprir com o distanciamento físico e evitar ajuntamentos.

c/agências
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