Crise migratória. Menina de quatro anos permanece desaparecida na fronteira bielorrussa

Uma menina de quatro anos, filha de um casal iraquiano, desapareceu na zona de floresta na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia. O desaparecimento aconteceu depois de a criança ter sido separada dos pais num confronto com vários guardas fronteiriços polacos.

RTP /
Eileen, de apenas quatro anos, foi dada como desaparecida na noite de segunda-feira. Marcin Obara - EPA

Eileen, de apenas quatro anos, foi dada como desaparecida na noite de segunda-feira, poucas horas depois ter atravessado a fronteira com os seus pais, num grupo com outros migrantes e refugiados.

Segundo relatos transmitidos por ativistas, os pais viram-se tão cansados durante a caminhada que pediram a um dos migrantes que os acompanhava que levasse a criança ao colo durante alguns momentos.

Foi nessa altura que um guarda fronteiriço polaco terá aparecido para dispersar o grupo. O casal de iraquianos foi alegadamente mandado para trás pelos agentes, mas não conseguiu encontrar a filha.

Quando, por fim, os guardas fizeram o grupo de migrantes passar pelo arame farpado para o lado bielorrusso, o homem e a mulher informaram que a sua filha tinha desaparecido. Segundo o casal, os agentes não reagiram a essa informação.

Os iraquianos terão então conseguido contactar o Grupa Granica, coligação de 14 organizações não-governamentais que tem prestado apoio humanitário na fronteira desde que a crise migratória escalou na região, e transmitiu-lhe a situação.

O Granica apressou-se a avisar a Cruz Vermelha Polaca, responsável por reunir famílias de migrantes separadas, mas essa entidade não se terá mostrado útil. “Responderam que os pais deveriam enviar um pedido em Minsk [a capital bielorrussa]”, disse à Al Jazeera Marysia Zlonkiewicz, ativista desse grupo de ajuda humanitária.
Guarda polaca encerrou buscas em poucas horas
Num crescente estado de preocupação, o Grupo Granica avisou o gabinete do provedor responsável para que este informasse a guarda fronteiriça. Apenas assim foi possível iniciar uma operação de busca, mas esta foi dada por concluída apenas algumas horas depois, terminando sem sucesso.

“Não foram encontradas crianças na área monitorizada pela Guarda Fronteiriça”, escreveu a entidade na rede social Twitter. “Durante a noite foi patrulhada toda a fronteira, especialmente as áreas onde mais se registam as tentativas ilegais de passagem, quer por terra quer por ar”, através da utilização de drones, esclareceram as autoridades.

A partir daí, grupos de ativistas e de habitantes locais decidiram continuar por si mesmos as buscas pela menina, que desapareceu num local com temperaturas de até 15 graus negativos durante a noite.

As tentativas trazem, no entanto, pouca esperança, uma vez que a zona da fronteira está interdita a ativistas que não habitem na área. “É desumano”, descreveu a ativista Zlonkiewicz. “Os pais estão devastados e apenas querem encontrar a sua filha. As autoridades deveriam começar uma operação profissional de resgate imediatamente”.

Kasia Koscieszafrom, do grupo Famílias sem Fronteiras, alertou que “a menina provavelmente está morta ou estará muito em breve”. “O mais dramático nesta situação é que, se fosse uma criança polaca, todo o país estaria à sua procura”, lamentou.

Desde agosto que uma crise migratória se tem desenrolado, sem fim à vista, na fronteira entre a Bielorrússia e a Polónia. Sem acesso a água potável, comida ou abrigo, as condições dos migrantes têm-se agravado ainda mais com as temperaturas negativas do inverno, mais agrestes na zona de floresta que separa os dois países.

A Polónia e as nações ocidentais, na sua maioria, acusam o Governo de Lukashenko de usar os migrantes como armas para se vingar das sanções de Bruxelas a Minsk por violações dos Direitos Humanos.
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