Damasco atribui massacre de Houla a "grupos armados" rebeldes

Os resultados de um inquérito preliminar do governo sírio provam que o massacre de Houla, no fim de semana passado, foi executado por grupos armados anti-governamentais, interessados em provocar uma forte reação internacional de repúdio contra o governo sírio. A conclusão foi anunciada pelo responsável do inquérito, o general-brigadeiro Qassem Jamal Suleiman.

Graça Andrade Ramos, RTP /
O general-brigadeiro sírio Qassem Jamal Suleiman, nomeado pelo governo de Damasco para investigar o massacre de Houla, afirma que este foi executado por "grupos armados" anti-governamentais Youssef Badawi/EPA

Para Suleiman, o objetivo do massacre foi "levar a uma intervenção armada estrangeira na Síria" e as 108 vítimas eram "famílias que recusaram opor-se ao governo e estão em desacordo com os grupos armados". Muitos dos mortos eram mesmo familiares de um membro do parlamento sírio, acrescentou Suleiman.

As conclusões já foram consideradas uma "mentira evidente", pela ambaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, .
"Guerra civil catastrófica"
O governo sírio lamentou ainda as palavras do secretario-geral da ONU esta manhã em Istambul.

Ban Ki Moon afirmou que os massacres como o de Houla, que estão a ocorrer na Síria "podem afundar a Síria numa guerra civil catastrófica, uma guerra civil da qual o país poderá nunca recuperar".

Em Damasco, o ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Jihad Makdissi reagiu e lamentou que "o secretario-geral das Nações Unidas se tenha demitido da sua função de manutenção da paz e da segurança no mundo para se tornar num anunciador de guerras civis".

Jihad Makdissi garantiu ainda que o governo sírio quer que o plano de paz de Koffi Annan tenha sucesso e convidou por isso os grupos da oposição que não estão interessados numa intervenção estrangeira a negociar com o governo em Damasco.
Descarregamento de armas russas
Apesar das tréguas declaradas há mais de um mês e da presença de 300 observadores da ONU, no âmbito do plano de paz do enviado especial da ONU, Koffi Annan, a violência no país continua.

Todos os dias há notícias de combates e de bombardeamentos entre sinais de que a oposição começa a dispor de armamento tão potente como o exército regular.

Ambos os lados estão a ser armados por potências estrangeiras. E esta quarta-feira surgiram novas provas de que a Rússia é o maior fornecedor do regime de Bashar al-Assad.

Segundo o grupo Human Rights First o cargueiro russo "Professor Katsman aportou no porto sírio de Tartus, no dia 26 de maio de 2012", antes de rumar para a Grécia. Fontes oficiosas ocidentais confirmaram que o navio carregava armas para o governo sírio.
EUA criticam Rússia
A embaixadora norte-americana na ONU, Susan Rice, considerou "repreensível", embora não ilegal, este alegado carregamento de armas russas, acrescentando que é obviamente uma "enorme preocupação".

"Não é tecnicamente obviamente uma violação da lei internacional, mas é repreensível que armas continuem a ser fornecidas a um regime que está a usar uma força tão terrível e desproporcionada contra o seu próprio povo", afirmou Rice.

Horas antes, a secretária de estado norte-americana, Hillary Clintom tinha apontado o dedo ao apoio da Rússia ao regime de Bashar al-Assad, afirmando que "a sua política vai contribuir para uma guerra civil".

Susan Rice admitiu ainda uma possível ação internacional na Síria fora do quadro do plano de paz de Annan e da autoridade da ONU, se o Conselho de Segurança continuar a ser bloqueado pela Rússia e pela China.
Ação só com aval da ONU
A diplomacia americana não colheu no entanto apoios de outras potencias ocidentais.

A Chanceler alemã, Angela Merkel, na véspera de uma reunião com o Presidente russo Vladimir Putin, sublinhou a colaboração "construtiva" dada por Moscovo à adoção de medidas lançadas pelo Conselho de Segurança.

E, contrariamente à solução avançada por Susan Rice, a França garantiu continuar a apoiar o plano de Annan, sem descartar nenhuma opção desde que validada pela ONU, segundo o porta-voz do ministério francês dos Negócios Estrangeiros.

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, William Hague, revelou entretanto que a União Europeia está a preparar novas sanções contra o governo sírio, como forma de pressionar o regime a cumprir o plano de paz proposto por Koffi Annan.
Oposição síria pressiona
Os países ocidentais acusam Damasco de estar por trás do recente massacre de Houla, em que morreram 108 pessoas, na maioria mulheres e crianças.

Um responsável da ONU afirmou que uma parte dos mortos foram vítimas de estilhaços de obuses, o que implica a responsabilidade do governo sírio, e que outra parte foi executada com armas brancas, "o que indica provavelmente as milícias pró-regime". Testemunhas em vídeos de ativistas sírios acusam igualmente estas milícias.

A oposição síria exigiu esta tarde a duplicação do número de observadores da ONU no terreno. Quarta-feira afirmou que a partida do Presidente Assad é condição essencial para o diálogo.

Por seu lado o Exército Síria Livre ameaçou retomar os combates para "defender as populações" caso Damasco não dê sinais de compromisso com o plano de Paz "até às 12:00 de sexta-feira" (09:00 GMT).
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