Demolição de mesquita gera confrontos entre autoridades chinesas e minoria étnica muçulmana

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Kyodo via Reuters Connect

Milhares de chineses entraram em confronto este fim de semana com a polícia de Yunnan, na província chinesa de maioria muçulmana, devido ao plano de demolição de uma mesquita. Os manifestantes do grupo da minoria étnica Hui acusam Pequim de levar a cabo uma repressão em que o governo central está a deitar mão das mesmas práticas usadas contra os uigures.

Dezenas de polícias armados entraram em confrontos com manifestantes da minoria étnica Hui que que se concentraram durante o fim de semana em frente à mesquita na cidade de Nagu, na província de Yunnan, de maioria muçulmana.

Vários vídeos publicados nas redes sociais mostram os manifestantes em confronto com os agentes da polícia. Segundo a AFP, foram feitas várias detenções .

Os residentes manifestavam-se contra o plano de demolição daquela mesquita do século XII, acusando o Governo de Xi Jinping de repressão.


Segundo os ativistas, nos últimos anos as autoridades chinesas têm levado a cabo uma operação de destruição ou remodelação de edifícios de arquitetura islâmica, tendo sido destruídas mais de mil mesquitas Hui em todo o país.

A mesquita Najiaying, na cidade de Nagu, é uma das últimas mesquitas de origem islâmica ainda intacta e nos últimos anos chegou mesmo a ser ampliada com a construção de novos minaretes.

No entanto, em 2020, um tribunal considerou estes acrescentos ilegais e ordenou que fossem removidos. Os trabalhos de demolição estavam agendados para arrancar este fim-de-semana, mas foram travados pelos protestos.

“Este é o nosso último pedaço de dignidade”, disse uma testemunha local à CNN. “É como demolir a nossa casa. Não podemos permitir que isso aconteça”.
“O pesadelo está agora a começar”
No domingo, a polícia emitiu um comunicado a anunciar que abriu uma investigação ao incidente e a ordenar “o fim imediato de todos as atos ilícitos e criminosos”, prometendo “punir severamente” aqueles que recusarem “render-se” até 6 de junho.

"Aqueles que se entreguem voluntariamente e confessem com sinceridade as violações e os crimes cometidos podem receber uma punição mais leve ou atenuada"
, anunciaram as autoridades, considerando o incidente como "perturbação grave da ordem de gestão social" e instando outras pessoas a "denunciarem ativamente" os manifestantes.

Na segunda-feira, a Internet foi cortada em muitos bairros de Nagu, enquanto vários drones vigiavam a cidade. Os altifalantes das ruas repetiam estas mensagens das autoridades instando os manifestantes a render-se.

“Parece que o nosso pesadelo está apenas a começar agora”, disse uma testemunha à CNN. “Estamos todos com medo. Não sabemos o que vai acontecer a seguir”, afirmou.
Quem são os Hui?
O povo Hui é um grupo étnico chinês muçulmano, integrado nos 56 grupos étnicos reconhecidos por Pequim. Os cerca de dez milhões de muçulmanos Hui estão concentrados principalmente no noroeste da China. Yunnan, que se situa no sudoeste do país, é o lar de cerca de 700 mil Hui.

Os Hui foram bem integrados na comunidade chinesa, dado que a sua cultura é semelhante à dos Han, o maior grupo étnico da China, que representa quase 92 por cento da população chinesa.

No entanto, os ativistas do povo Hui dizem que o grupo étnico se tornou no alvo mais recente da repressão do Partido Comunista Chinês ao Islamismo.

Pequim tem sido acusada de abusos sistemáticos dos Direitos Humanos contra muçulmanos uigures na província de Xinjiang, no noroeste do país. Estima-se que nos últimos anos um a dois milhões de uigures e membros de outras minorias muçulmanas tenham sido levados para campos de correção na região de Xinjiang.

As agências internacionais falam de detenções arbitrárias com tortura, violação e abuso sexual, como denuncia este relatório na NewLines Institute. O Ocidente vem há vários anos condenando o que considera ser o “genocídio uigur”.

O ano passado, as Nações Unidas publicaram um relatório onde acusam o Governo chinês de graves violações dos Direitos Humanos contra os uigures e que podem ser considerados um “crime contra a Humanidade”.
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