"Desejo de sangue". Militares australianos mataram dezenas de afegãos

por Alexandre Brito - RTP
Imagem de arquivo Reuters

Forças especiais australianas terão matado pelo menos 39 prisioneiros e civis desarmados no Afeganistão. Um relatório demolidor para os militares australianos, agora divulgado, revela a existência de um cultura de "desejo de sangue" e de "competição por mortes". Há relatos de comandantes que terão mesmo forçado jovens soldados a matar prisioneiros indefesos.

A Austrália já pediu desculpas ao Afeganistão pelo que aconteceu e anunciou de imediato que 19 militares, atuais e antigos, vão ser levados a tribunal pela morte de 39 pessoas.

Há muito tempo que estava em curso uma investigação sobre o que aconteceu no seio das Forças Especiais no Afeganistão entre 2005 e 2016. E o que descobriram foi uma "matança ilegal de civis e prisioneiros".

A investigação revelou que durante estes anos 39 pessoas foram assassinadas e outras duas cruelmente tratadas por um total de 25 elementos das Forças Especiais australianas. Desses, 19, pelo seu forte envolvimento, vão agora ser levados a tribunal.

No relatório lê-se que "em diferentes missões das Forças Especiais foi exigido a militares juniores, pelos comandantes das patrulhas, que matassem um prisioneiro de forma a conseguirem a primeira morte, numa prática conhecida como ´blooding` (sagramento).

Isto seria feito depois de o local da operação estar seguro e os prisioneiros serem consideradas "pessoas sobre controlo". Nesse momento, o comandante da patrulha levava um desses locais "sobre controlo" até um dos jovens militares. Dáva-lhe depois a ordem para o matar a sangue frio.

O relatório conclui que nenhuma destas situações foram realizadas no calor de uma batalha. 

Algumas das pessoas que foram assassinadas eram locais que, em momento algum, tiveram qualquer participação em hostilidades com os militares australianos. Outras eram prisioneiros que, uma vez detidos, estão protegidos pela lei internacional, pelo que a sua morte constitui um crime de guerra.

Após a morte, os supostos responsáveis ​​organizavam uma cena de combate para justificar a ação.

Estes factos foram escondidos durante anos devido a uma cultura de sigilo entre os militares.

O inquérito, que demorou quatro anos a estar concluído, foi conduzido pelo juiz estadual de Nova Gales do Sul, Paul Brereton. Examinou mais de 20 mil documentos e 25 mil imagens, e entrevistou 423 testemunhas sob juramento.

O relatório recomenda a Austrália a compensar as famílias das vítimas.
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