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Dez perguntas para perceber o que se passa na Síria
Há seis anos que a Síria está em guerra. O conflito opõe rebeldes moderados, jiadistas e um regime que se recusa a sair do poder. Entra-se agora numa nova fase, com o ataque das forças norte-americanas à base aérea do regime de Damasco. Mais do que nunca, a questão síria é o ponto nevrálgico da nova guerra fria entre Washington e Moscovo.
1. Qual é a origem da Guerra Civil da Síria?
A guerra da Síria começou como revolta no contexto da Primavera Árabe. Algumas cidades levantaram-se contra o Presidente Bashar Al-Assad enquanto outras manifestaram apoio ao Presidente. O movimento foi aproveitado por interesses externos à Síria e pela al Qaeda no país, que procurava há muito derrubar o Governo.
Muito rapidamente transformou-se num conflito brutal e sangrento. Em março de 2011 estava instalada uma Guerra Civil na Síria, um conflito que se prolonga até aos dias de hoje.
Seis anos de guerra são responsáveis por cerca de 400 mil mortos e pelo êxodo de mais de 4,5 milhões de pessoas.
2. O que motivou a revolta popular contra o Governo sírio?
Há quase 50 anos que a Síria é governada pelo partido Baath de raiz socialista e laico. O país é liderado por Bashar al-Assad desde julho de 2000, mas antes disso, era o pai do atual Presidente da Síria, Hafez Al-Assad, a comandar os destinos do país. Nessa altura, a família Assad já estava no poder há 30 anos.
Antes de ser substituído pelo filho, Hafez Al-Assad proibiu a criação de partidos de oposição e a participação de qualquer candidato de oposição numa eleição.
A revolta teve ainda contornos religiosos. A maioria da população é muçulmana sunita, enquanto Assad pertence à minoria xiita alauíta. Os sunitas pretendem ascender ao poder, no que são apoiados pela Arábia Saudita e seus aliados das Monarquias do Golfo. Procuraram por isso aproveitar a Primavera Árabe para derrubar o Governo.
O país têm ainda minorias curdas e cristãs, sobretudo a norte, que apoiam, com muitos sírios xiitas, o Presidente, visto como garante de laicidade e de equilíbrio contra a hegemonia sunita e contra grupos jiadistas ligados à al Qaeda.
O país é também produtor de petróleo e de gás natural, cujo controlo interessa aos poderes ocidentais, à Rússia, ao Irão e à Arábia Saudita.
3. As personagens da guerra
No campo de batalha temos múltiplas frentes:
- Governo/Estado Islâmico: Forças Armadas sob comando de Bashar al-Assad contra o principal grupo jiadista, que atua em diversos pontos do país e também no Iraque.
- Estado Islâmico/Grupos jiadistas e forças laicas: Os jiadistas do autoproclamado Estado Islâmico consideram inimigos todos aqueles que não se aliam ao seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. Por isso combatem todos os grupos armados sírios incluindo outros grupos jiadistas.
- Curdos/Estado Islâmico: Os curdos no território sírio ocupam uma região semiautónoma no norte e nordeste do país. Tornaram-se um parceiro fundamental da coligação liderada pelos Estados Unidos no combate ao grupo Estado Islâmico. Formaram, com combatentes cristãos sírios e árabes, o exército Forças Democráticas da Síria que tenta conquistar Raqa ao Estado Islâmico.
A oposição síria que quer derrubar Assad é extremamente fragmentada.
Em setembro de 2013 existiam cerca de 100 mil combatentes a lutar contra o regime Assad, repartidos por mais de mil grupos armados, na sua maioria de cariz jiadista ou extremista islâmico. Operam de forma independente sob coordenação da ex-Frente al-Nusra, considerada a al Qaida na Síria.
O Exército Livre da Síria opera sob comando da Oposição síria no exílio. Alguns grupos de "rebeldes" são considerados “moderados” e têm o apoio do Ocidente, principalmente pelos Estados Unidos, França e Reino Unido.
5. Ocupação territorial
A guerra alastrou-se um pouco por toda o país. Ainda assim, os territórios mais fustigados têm sido a capital Damasco e a cidade de Alepo.
Enquanto alguns dos grupos de rebeldes tentam a todo o custo acabar com a ditadura de Assad e erguer um novo Governo, este diz estar a combater os terroristas que tentam desestabilizar o país.

6. Quais são os principais intervenientes internacionais?
Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que abandonasse o poder como pré-condição para a paz.
Donal Trump, ainda candidato presidencial, afirmava por sua vez que derrubar o Presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico e que Assad era apenas um aliado nessa batalha. Ainda assim, após o ataque químico ocorrido na última terça-feira, o discurso do Presidente norte-americano mudou.
A Turquia, por sua vez, também se opõe ao regime Assad e apoia alguns grupos de rebeldes.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, crucial para a defesa dos interesses de Moscovo na região. Os russos têm vetado várias condenações a Assad no Conselho de Segurança da ONU.
A China, que tem tentado manter-se neutra neste conflito, tem vetado moções de censura ao lado de Putin. Também o Irão apoia o Governo sírio.
7. O ataque químico em causa
O ataque alegadamente com armas químicas ocorreu na província de Idlib, no noroeste do país, na passada terça-feira. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, o ataque químico na Síria terá provocado quase uma centena de mortos e terá sido perpetrado por um avião sírio.
8. Quem é o responsável pelo ataque químico?
Não se sabe. A Rússia diz que o bombardeamento sírio atingiu um armazém de armas químicas pertencente ao grupo armado que domina a região. Os EUA responsabilizam o Governo de Assad. Até agora, tem sido uma constante troca de acusações, mas não é certo quem é de facto o responsável pelo uso de armas químicas.
9. Por que estão os EUA envolvidos neste conflito?
Os Estados Unidos lançaram 59 mísseis Tomahawk sobre a Síria esta sexta-feira, como retaliação ao ataque químico da passada terça-feira e aviso contra futuros ataques semelhantes.
O bombardeamento foi ordenado pelo Presidente norte-americano que, até à data do ataque químico, citava Bashar al-Assad como um aliado na guerra contra o terrorismo. Na quarta-feira, Donald Trump assumia desde logo que o ataque com armas químicas tinha levado a uma "mudança de posição" relativamente ao conflito.
10. Em que consistiu o bombardeamento?
É o primeiro ataque direto americano contra o regime sírio desde o início da guerra. Os alvos terão sido aviões, abrigos, depósitos de munições e radares na base aérea de Shayrat de onde partiu o ataque contra a província de Idlib.
O governador de Homs diz que a base atingida pelos Estados Unidos era utilizada para combater o Daesh - o acrónimo árabe pelo qual é conhecido o autoproclamado Estado Islâmico no Médio Oriente.
A decisão de Donald Trump pode também colocar em causa a luta contra o terrorismo, ao abrir brechas numa eventual colaboração com a Rússia com esse objetivo.
Washington garante que a Rússia foi informada previamente. Em comunicado, o Pentágono afirma que a ação foi planeada de forma a minimizar os riscos para o pessoal russo e sírio no local.
Ainda não se sabe ao certo o número de vítimas mortais deste ataque. A agência estatal síria refere que morreram nove civis, dos quais quatro crianças. Encontravam-se em aldeias próximas da base aérea atingida.
A guerra da Síria começou como revolta no contexto da Primavera Árabe. Algumas cidades levantaram-se contra o Presidente Bashar Al-Assad enquanto outras manifestaram apoio ao Presidente. O movimento foi aproveitado por interesses externos à Síria e pela al Qaeda no país, que procurava há muito derrubar o Governo.
Muito rapidamente transformou-se num conflito brutal e sangrento. Em março de 2011 estava instalada uma Guerra Civil na Síria, um conflito que se prolonga até aos dias de hoje.
Seis anos de guerra são responsáveis por cerca de 400 mil mortos e pelo êxodo de mais de 4,5 milhões de pessoas.
2. O que motivou a revolta popular contra o Governo sírio?
Há quase 50 anos que a Síria é governada pelo partido Baath de raiz socialista e laico. O país é liderado por Bashar al-Assad desde julho de 2000, mas antes disso, era o pai do atual Presidente da Síria, Hafez Al-Assad, a comandar os destinos do país. Nessa altura, a família Assad já estava no poder há 30 anos.
Antes de ser substituído pelo filho, Hafez Al-Assad proibiu a criação de partidos de oposição e a participação de qualquer candidato de oposição numa eleição.
A revolta teve ainda contornos religiosos. A maioria da população é muçulmana sunita, enquanto Assad pertence à minoria xiita alauíta. Os sunitas pretendem ascender ao poder, no que são apoiados pela Arábia Saudita e seus aliados das Monarquias do Golfo. Procuraram por isso aproveitar a Primavera Árabe para derrubar o Governo.
O país têm ainda minorias curdas e cristãs, sobretudo a norte, que apoiam, com muitos sírios xiitas, o Presidente, visto como garante de laicidade e de equilíbrio contra a hegemonia sunita e contra grupos jiadistas ligados à al Qaeda.
O país é também produtor de petróleo e de gás natural, cujo controlo interessa aos poderes ocidentais, à Rússia, ao Irão e à Arábia Saudita.
3. As personagens da guerra
No campo de batalha temos múltiplas frentes:
- Governo/Estado Islâmico: Forças Armadas sob comando de Bashar al-Assad contra o principal grupo jiadista, que atua em diversos pontos do país e também no Iraque.
- Estado Islâmico/Grupos jiadistas e forças laicas: Os jiadistas do autoproclamado Estado Islâmico consideram inimigos todos aqueles que não se aliam ao seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. Por isso combatem todos os grupos armados sírios incluindo outros grupos jiadistas.
- Curdos/Estado Islâmico: Os curdos no território sírio ocupam uma região semiautónoma no norte e nordeste do país. Tornaram-se um parceiro fundamental da coligação liderada pelos Estados Unidos no combate ao grupo Estado Islâmico. Formaram, com combatentes cristãos sírios e árabes, o exército Forças Democráticas da Síria que tenta conquistar Raqa ao Estado Islâmico.
A oposição síria que quer derrubar Assad é extremamente fragmentada.
Em setembro de 2013 existiam cerca de 100 mil combatentes a lutar contra o regime Assad, repartidos por mais de mil grupos armados, na sua maioria de cariz jiadista ou extremista islâmico. Operam de forma independente sob coordenação da ex-Frente al-Nusra, considerada a al Qaida na Síria.
O Exército Livre da Síria opera sob comando da Oposição síria no exílio. Alguns grupos de "rebeldes" são considerados “moderados” e têm o apoio do Ocidente, principalmente pelos Estados Unidos, França e Reino Unido.
5. Ocupação territorial
A guerra alastrou-se um pouco por toda o país. Ainda assim, os territórios mais fustigados têm sido a capital Damasco e a cidade de Alepo.
Enquanto alguns dos grupos de rebeldes tentam a todo o custo acabar com a ditadura de Assad e erguer um novo Governo, este diz estar a combater os terroristas que tentam desestabilizar o país.
6. Quais são os principais intervenientes internacionais?
Na era Obama, os Estados Unidos culpavam Assad pela maior parte das atrocidades cometidas no conflito e exigiam que abandonasse o poder como pré-condição para a paz.
Donal Trump, ainda candidato presidencial, afirmava por sua vez que derrubar o Presidente sírio não era uma prioridade, mas sim derrotar o Estado Islâmico e que Assad era apenas um aliado nessa batalha. Ainda assim, após o ataque químico ocorrido na última terça-feira, o discurso do Presidente norte-americano mudou.
A Turquia, por sua vez, também se opõe ao regime Assad e apoia alguns grupos de rebeldes.
Já a Rússia apoia a permanência de Assad no poder, crucial para a defesa dos interesses de Moscovo na região. Os russos têm vetado várias condenações a Assad no Conselho de Segurança da ONU.
A China, que tem tentado manter-se neutra neste conflito, tem vetado moções de censura ao lado de Putin. Também o Irão apoia o Governo sírio.
7. O ataque químico em causa
O ataque alegadamente com armas químicas ocorreu na província de Idlib, no noroeste do país, na passada terça-feira. De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, o ataque químico na Síria terá provocado quase uma centena de mortos e terá sido perpetrado por um avião sírio.
8. Quem é o responsável pelo ataque químico?
Não se sabe. A Rússia diz que o bombardeamento sírio atingiu um armazém de armas químicas pertencente ao grupo armado que domina a região. Os EUA responsabilizam o Governo de Assad. Até agora, tem sido uma constante troca de acusações, mas não é certo quem é de facto o responsável pelo uso de armas químicas.
9. Por que estão os EUA envolvidos neste conflito?
Os Estados Unidos lançaram 59 mísseis Tomahawk sobre a Síria esta sexta-feira, como retaliação ao ataque químico da passada terça-feira e aviso contra futuros ataques semelhantes.
O bombardeamento foi ordenado pelo Presidente norte-americano que, até à data do ataque químico, citava Bashar al-Assad como um aliado na guerra contra o terrorismo. Na quarta-feira, Donald Trump assumia desde logo que o ataque com armas químicas tinha levado a uma "mudança de posição" relativamente ao conflito.
10. Em que consistiu o bombardeamento?
É o primeiro ataque direto americano contra o regime sírio desde o início da guerra. Os alvos terão sido aviões, abrigos, depósitos de munições e radares na base aérea de Shayrat de onde partiu o ataque contra a província de Idlib.
O governador de Homs diz que a base atingida pelos Estados Unidos era utilizada para combater o Daesh - o acrónimo árabe pelo qual é conhecido o autoproclamado Estado Islâmico no Médio Oriente.
A decisão de Donald Trump pode também colocar em causa a luta contra o terrorismo, ao abrir brechas numa eventual colaboração com a Rússia com esse objetivo.
Washington garante que a Rússia foi informada previamente. Em comunicado, o Pentágono afirma que a ação foi planeada de forma a minimizar os riscos para o pessoal russo e sírio no local.
Ainda não se sabe ao certo o número de vítimas mortais deste ataque. A agência estatal síria refere que morreram nove civis, dos quais quatro crianças. Encontravam-se em aldeias próximas da base aérea atingida.