Dezenas de mortos no Hospital Al Shifa após retirada das tropas israelitas

por Cristina Sambado - RTP
AFP

As forças israelitas retiraram-se do Hospital Al Shifa de Gaza após uma operação de duas semanas, durante a qual mataram presumíveis atiradores palestinianos e apreenderam armamento e alegados documentos dos serviços secretos. O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza revelou esta segunda-feira que dezenas de corpos, alguns em decomposição, foram encontrados no complexo.

Esta segunda-feira, o exército israelita anunciou ter "terminado" as operações na zona hospitalar de Al Shifa, ao cabo de duas semanas.

"As tropas concluíram a atividade operacional na zona hospitalar de Shifa e abandonaram a área", declarou o exército em comunicado, acrescentando que "matou terroristas nos confrontos".

Israel já tinha afirmado 200 militantes do Hamas foram mortos em combates dentro e ao redor de Al Shifa. O exército também divulgou imagens de armas e dinheiro apreendidos no hospital que foram usados pelo Hamas e outro grupo militante, a Jihad Islâmica. O Hamas negou operar a partir de Al Shifa e de outras instalações de saúde.
Segundo a AFP, várias testemunhas revelaram que dezenas de ataques aéreos e projéteis atingiram a área ao redor do complexo de Al Shifa, o principal hospital da Faixa de Gaza.
O Ministério da Saúde do território - controlado desde 2007 pelo Hamas - indicou que "dezenas de corpos de mártires, alguns em estado de decomposição, foram encontrados no complexo e nos arredores do hospital".

Os militares israelitas “retiraram-se do complexo médico de Al Shifa depois de incendiarem os edifícios do complexo e colocá-lo completamente fora de serviço”, acrescentou o movimento islamita palestiniano.

“A escala da destruição dentro do complexo e dos edifícios ao seu redor é muito grande”.

O exército de Israel retirou-se "depois de queimar os edifícios do complexo e colocá-lo completamente fora de serviço", lamentou o Ministério. "A extensão da destruição no interior do complexo e nos edifícios que o rodeiam é muito significativa", acrescentaram as autoridades.

Segundo um jornalista da France Presse e testemunhas citadas pela agência de notícias, tanques e outros veículos do exército israelita deixaram esta manhã o complexo hospitalar, que tinham ocupado há duas semanas.

O jornalista da AFP acrescentou que o exército israelita disparou granadas para cobrir a retirada dos tanques e deixou o bairro de Al-Rimal para se dirigir ao sudoeste da cidade de Gaza.  Um médico disse à AFP que mais de 20 corpos foram recuperados, alguns dos quais foram atropelados pelos veículos militares israelitas em retirada.
No domingo, o Ministério da Saúde de Gaza tinha revelado que 400 pessoas morreram durante as duas semanas da operação militar do exército israelita no Hospital Al Shifa.

O exército de Israel mantinha há duas semanas uma operação militar dentro do hospital, onde disse estar a "travar combates corpo a corpo" com combatentes do Hamas, numa operação que resultou na morte de cerca de 200 supostos combatentes e foram interrogados 800 suspeitos, dos quais 500 disse serem membros do Hamas e do movimento islamita da Jihad Islâmica na Palestina. Hamas e Jihad Islâmica são considerados terroristas por vários países, incluindo Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Com vários milhares de habitantes de Gaza deslocados pela guerra, centenas procuraram refúgio no complexo de Al Shifa antes da operação israelita.

As autoridades de Gaza afirmaram que no interior da unidade hospitalar se encontravam 107 doentes "em condições desumanas, sem água, medicação, comida ou eletricidade", incluindo 30 pacientes com deficiência e cerca de 60 profissionais de saúde.

Ataques aéreos israelitas atingiram outras áreas da Faixa de Gaza na manhã desta segunda-feira, enquanto os combates decorriam em vários pontos críticos localizados em todo o território. Pelo menos 60 pessoas morreram em Gaza durante a noite, revelou o Ministério da Saúde.A guerra eclodiu em outubro quando o Hamas realizou ataques sem precedentes contra Israel, que resultaram em cerca de 1.160 mortes em Israel, a maioria civis, de acordo com um balanço da AFP com dados oficiais israelitas.

A campanha de retaliação de Israel matou pelo menos 32.782 pessoas, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

Os militares israelitas anunciaram na segunda-feira que 600 soldados foram mortos desde o início da guerra.

Durante os ataques de 7 de outubro, militantes palestinianos também capturaram cerca de 250 reféns israelitas e estrangeiros. Israel acredita que cerca de 130 permanecem em Gaza, incluindo 34 que são considerados mortos.

A guerra Israel-Hamas devastou grande parte da Faixa de Gaza, incluindo várias instalações de saúde, e provocou alertas de fome entre a população civil.

Uma resolução do Conselho de Segurança da ONU, de 25 de março, exigia um “cessar-fogo imediato” e a libertação de todos os reféns detidos por militantes, mas a resolução vinculativa não conseguiu conter os combates, incluindo dentro ou em torno dos hospitais.

O número um da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou numa publicação na rede social X que um ataque aéreo israelita no domingo atingiu "um acampamento" dentro do complexo hospitalar de Al-Aqsa, no centro de Gaza, provocando a morte de pessoas e ferindo 17.


Os militares de Israel negaram que o hospital tenha sido danificado, acrescentando no X que um de seus aviões "atacou um centro de comando operacional da Jihad Islâmica e terroristas posicionados no pátio do Hospital Al-Aqsa na área de Deir al Balah".


As tensões aumentaram entre Israel e o seu principal apoiante, os Estados Unidos, devido ao número crescente de mortes de civis e, especialmente, devido às ameaças israelitas de enviar forças terrestres para a populosa cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza.

c/ agências internacionais
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