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Dissidências excluídas. "Dezenas de milhares" de prisioneiros perdoados no Irão

por Carlos Santos Neves - RTP
Ali Khamenei fotografado a 3 de fevereiro, em Teerão, durante uma cerimónia de oração com raparigas denominada "celebração dos anjos" Gabinete de Ali Khamenei via EPA

Detidos com dupla nacionalidade e acusados de “corrupção na Terra”, de “espionagem para agências estrangeiras” ou associação a “grupos hostis à República Islâmica” ficam excluídos de uma amnistia determinada este domingo pelo guia supremo do Irão, Ali Khamenei. O número de pessoas detidas na vaga de contestação ao regime ascende a 20 mil.

Entre os prisioneiros a serem amnistiados por ordem do ayatollah Ali Khamanei, avançou a agência estatal IRNA, figuram pessoas que participaram em protestos contra o Governo. Mas aqueles que estão acusados de crimes punidos com as penas mais severas – desde logo “corrupção na Terra”, que acarreta a pena de morte – ficam excluídos do perdão.O Irão viveu recentemente uma histórica vaga de contestação ao regime dos ayatollahs, na sequência da morte de Mahsa Amini, jovem de origem curda, às mãos da polícia da moralidade. Protestos reprimidos com mão de ferro.

A agência ativista HRANA, citada pela edição online do jornal britânico The Guardian, estima em 20 mil o número de pessoas detidas no contexto dos protestos, movimento que o poder iraniano atribui a influências externas.

Terão morrido 500 pessoas na repressão das marchas e manifestações, entre as quais 70 crianças. E pelo menos quatro foram enforcadas, segundo dados das estruturas judiciais do país.

A Amnistia Internacional acusa o regime iraniano de promover “falsos julgamentos destinados a intimidar quem participa na sublevação popular que tem abalado o Irão”.
“Muitos arrependem-se”
Em carta ao guia supremo, a solicitar a amnistia, o chefe de Justiça Gholam-Hossein Mohseni-Eje'i voltou à carga martelou a ideia de que “um número de pessoas, especialmente jovens, cometeu ações erradas e crimes em resultado da doutrinação e da propaganda do inimigo”.

“Dado que falharam os planos de inimigos estrangeiros e correntes anti-revolucionárias, muitos destes jovens arrependem-se agora das suas ações”, sustenta o mesmo responsável.A amnistia de Ali Khamenei é descrita como um tributo ao 44.º aniversário da revolução islâmica de 1979.

“Naturalmente, aqueles que não expressaram arrependimentos pelas suas atividades ou assumiram um compromisso escrito de não repetir essas atividades não serão perdoados”, sublinhou, por sua vez, Sadeq Rahimi, vice de Mohseni-Eje'i.

A organização Iran Human Rights, com sede na Noruega, adiantou na última semana que pelo menos uma centena de detidos podem vir a ser condenados à pena capital.
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