Donald Trump promete "destruir" o ISIS e "proteger a civilização"

Depois de se reunir com o Rei Abdullah II da Jordânia, Donald Trump disse em conferência de imprensa na Casa Branca que a destruição do auto-proclamado Estado Islâmico é a única "escolha" possível.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Donald Trump na Casa Branca Yuri Gripas - Reuters

"Iremos destruir o ISIS e iremos proteger a civilização. Não temos escolha" afirmou Trump, ao lado do Rei Abdullah II e referindo o grupo extremista pelo seu acrónimo.

Trump acrescentou que o rei da Jordânia tem sido um líder na luta para derrotar o autoproclamado Estado Islâmico "de uma vez por todas".

O principal alvo de Trump foi desta vez o Presidente sírio Bashar al-Assad.

O Presidente dos EUA iniciou a conferência de imprensa com a denúncia do alegado ataque com armas químicas na Síria há dois dias, que terá provocado a morte a 72 pessoas, incluindo 20 crianças.

Um "ataque químico atroz", contra "pessoas inocentes, mulheres, crianças pequenas e até mesmo pequenos e belos bebés", referiu Trump, descrevendo-o como "horrível" e "inenarrável".

"A sua morte foi uma afronta à humanidade. Estes atos odiosos pelo regime de Assad não podem ser tolerados", afirmou.

Donald Trump admitiu ainda que a sua "atitude face a Assad mudou" e, às perguntas dos jornalistas sobre a sua política sobre a Síria, respondeu "irão ver".

Na semana passada Washington disse que não iria procurar remover o Presidente Assad do poder, aproximando-se de Moscovo. O ataque parece ter mudado essa posição.
Dilema de Trump
A Administração Obama sempre preferiu a ação diplomática para resolver o conflito sírio, escolha criticada por Trump, que acusou o seu antecessor de estabelecer "linhas vermelhas" mas nada fazer, sobretudo para combater o grupo extremista Estado Islâmico. Em 2013, Barack Obama ameaçou iniciar uma campanha aérea para derrubar Assad, depois do Governo sírio ter sido acusado de bombardear com armas químicas um subúrbio de Damasco dominado por um grupo armado. Na altura, Obama disse que Assad tinha ultrapassado uma "linha vermelha" mas no último minuto desistiu da prometida campanha militar depois de Assad aceitar desfazer-se do seu arsenal químico num acordo conseguido através de Moscovo.

Para Trump, o ataque químico na Síria "ultrapassou várias linhas", numa referência às ameaças de Obama. A nova Administração ainda não apresentou nenhuma estratégia para o conflito.

As palavras da embaixadora norte-americana na ONU esta tarde, na reunião do Conselho de Segurança para analisar o alegado ataque químico, deixam antever uma atitude mais musculada do que a de Obama.

Nikky Haley disse que, "quando as Nações Unidas se mostram incapazes de agir de forma consistente no seu dever de agir coletivamente, há alturas na vida dos Estados em que somos compelidos a agir por nós próprios".

Nikky Haley, embaixadora dos EUA na ONU Foto: Reuters

Haley não mencionou a que tipo de ação ou a que Estado se referia mas as suas palavras abrem aparentemente a porta a uma ação unilateral dos EUA na Síria, à revelia da ONU.

O incidente deixa Trump perante o mesmo dilema do seu antecessor, desafiar Moscovo abertamente e envolver-se mais nos conflitos do Médio Oriente ou procurar um compromisso e aceitar que o líder sírio permaneça no poder.
Rota de colisão com Moscovo
O ataque a um dos últimos redutos dos grupos armados na Síria complica ainda as conversações de paz para o país. Um dos argumentos da Rússia esta tarde na reunião do Conselho de Segurança sublinhava precisamente que as acusações de um ataque químico por parte de Assad servem sobretudo os interesses dos rebeldes.

Os grupos armados de Idlib defendem-se das acusações russas dizendo que não têm "capacidade para produzir armas químicas". Referem que todos os habitantes podem testemunhar o ataque.

"Toda a gente viu o avião enquanto bombardeava com gás", referiu à Agência reuters o comandante do grupo rebelde Exercito Livre de Idlib, Hasan Haj Ali, denunciando a "mentira" russa.

"Também todos os civis na área sabem que não temos aqui posições militares nem locais para o fabrico" de armas, rematou.Washington acredita que as vítimas do ataque do início da semana na Síria foram atingidas por gás sarin largado pelos aviões das forças aéreas sírias e considera pouco credíveis as alegações russas de que Assad está inocente e de que as armas químicas estavam armazenadas num local pertencente aos rebeldes.

Um alto responsável da Casa Branca, sob anonimato, disse que a explicação russa não era credível. "Não acreditamos nela", afirmou, citado pela agência Reuters.

Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido apresentaram uma resolução ao Conselho de Segurança acusando o Governo sírio da responsabilidade do ataque com armas químicas.

O ministério russo dos Negócios Estrangeiros disse que a resolução era "inaceitável" e baseada em "informação falseada".

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que Moscovo iria apresentar o seu caso atribuindo a responsabilidade do ataque aos rebeldes.

A resolução apresentada contra Assad pede uma investigação ao sucedido e essa hipótese foi admitida por Moscovo, se se tratar de um "inquérito objetivo".
Oportunidade para Assad ou para os rebeldes?
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Marc Ayrault, explicou o ataque como um "teste" de Assad à Administração Trump, para ver se esta iria apoiar anteriores posições assumidas por Obama, exigindo que o Presidente sírio fosse afastado do poder.

A França exigiu a Washington que clarificasse a sua posição.

Outros analistas - como o jornal Washington Post - referem que a oportunidade do ataque químico não é útil a Assad, que tem a guerra praticamente controlada e que encontrava em Trump algum apoio às suas pretensões.

Lembram ainda que os redutos rebeldes em Idlib não têm grande valor militar e que não é a primeira vez que os rebeldes são acusados - tal como Assad - de usar armamento químico.

Anteriores ataques do género coincidiram sempre, como agora, com ocasiões importantes de conversações de paz para a Síria.
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