Eleições Espanha. PSOE volta a ganhar, mas esquerda perde força parlamentar

por Inês Moreira Santos - RTP
Fernando Villar/EPA

Espanha voltou às urnas pela segunda vez este ano. Os socialistas do PSOE ganharam as Eleições Gerais, este domingo, mas sem maioria absoluta e o Vox passou para terceira força política. Albert Rivera, líder do Ciudadanos, apresentou a demissão, depois de ter perdido 47 deputados.

Sem maioria absoluta e com perda de força parlamentar por parte da esquerda, as eleições deste domingo voltam a trazer um impasse político em Espanha. Mas Pedro Sánchez, líder do PSOE, já garantiu que vai haver um "governo progressista".

O PSOE ganhou com 28 por cento e perdeu três deputados, comparativamente às eleições do passado mês de abril, ficando com 120 deputados. O PP, com quase 21 por cento, reforçou-se como segunda força política e elegeu mais 21 deputados.

A novidade está nos 15,9 por cento do Vox que, com 52 deputados (mais 28 do que elegeu em abril), passa a ser a terceira força política.

Segue-se o Unidas Podemos, que alcançou os 12,84 por cento, embora tenha perdido sete deputados, e o Ciudadanos que, com 6,79 por cento, passou de 57 para 10 deputados.

O bloco de partidos da esquerda espanhola formado pelo PSOE, Podemos e Mais País (considerado extrema-esquerda) supera apenas em seis deputados o de direita formado pelo PP, Vox e Cidadãos. O bloco de partidos de direita aproxima-se agora do de esquerda, considerando que em abril estavam separados por dezasseis lugares.
PSOE precisa de "geringonça" à esquerda
Nas Eleições Gerais de abril, o PSOE venceu, mas também sem maioria absoluta. O PP perdeu alguma força parlamentar, o Ciudadanos era a terceira força política, seguindo-se o Unidas Podemos. Quanto ao Vox, considerado de extrema-direita, era a primeira vez que entrava no Parlamento.

Os resultados deste domingo levam a crer que se mantenha o bloqueio político e a dificuldade para formar Governo, com o primeiro-ministro em funções, Pedro Sánchez, enfraquecido com a ligeira diminuição do número de deputados do PSOE, de 123 para 120.

Após anunciada a vitória, Sánchez falou num "governo progressista" e admitiu que os socialistas espanhóis precisam de aliados para desbloquear a situação política. O líder socialista apela a todos os partidos que assumam essa "responsabilidade", excluindo a extrema-direita de qualquer solução política.
Pablo Iglesias, líder do Unidas Podemos, apelou ao PSOE que repense a proposta de coligação como solução para o impasse político e para fazer frente à extrema-direita. Pablo Iglesias disse que é uma "necessidade histórica" perante o reforço da extrema-direita espanhola, "uma das mais fortes e poderosas da Europa".

"O que em abril foi uma oportunidade, ter um Governo, uma coligação progressista, agora é uma necessidade. Agora faz falta um Governo com estabilidade suficiente e que garanta os direitos. A nossa proposta ao PSOE são os artigos sociais da Constituição espanhola para travar a extrema-direita, que é a consequência mais grave destas eleições. Apelamos ao PSOE para que respeite o resultado eleitoral".

Já o líder do PP, Pablo Casado, mostrou-se disponível para ajudar a desbloquer o impasse atual. No entanto, sublinhou que, com estes resultados eleitorais, "a bola está do lado" do presidente interino do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, e que o seu partido "aguardará o que (este) poderá apresentar".

Casado deixou claro que os interesses do PP são "incompatíveis" com a abordagem de Sánchez, embora tenha esclarecido que o partido "exercerá a sua responsabilidade e a sua alternativa". Deixando em aberto a sua posição, depois de confirmar que o PP obteve um "bom resultado", Casado considera que Espanha teve um mau resultado para a sua "governação e para o seu futuro" e que Sánchez foi "o grande derrotado" destas segundas eleições.

Sánchez não se mostrou muito recetivo ao apoio de Casado, e no seu discurso de vitória afirmou que os socialistas "sim ou sim vão formar um Governo progressista" e "trabalhar por esse Governo progressista liderado pelo PSOE”.
Acordo à esquerda ou impasse político mantém-se
Pedro Sánchez diz que o objetivo agora é "formar Governo" e por isso fez "um chamamento aos demais partidos para que, com generosidade e responsabilidade, ajudem a desbloquear este Governo progressists", uma vez que "os espanhóis mostraram que querem que no Governo participem várias formações políticas",

O primeiro-ministro em funções apela ao apoio de todos, "salvo àqueles que se distanciam da convivência e da democracia", para negociarem com os socialistas.

Mas na voz do líder do Vox, Santiago Abascal, os resultados provam que os espanhóis querem tornar "mais plural" o Congresso de Deputados, com "uma representação mais fidedigna do que pensa o povo espanhol". Os eleitores da extrema-direita foram "protagonistas da maior festa da democracia", disse Abascal.

A verdade é que a imprensa espanhola, embora destaque a vitória do PSOE, sublinha que o primeiro-ministro terá ainda mais dificuldade em formar Governo do que na consulta anterior.

Os violentos protestos das últimas semanas na Catalunha, na opinião de muitos, tiveram influência nos resultados das eleições deste domingo e fortaleceram o apoio da direita.

Cerca de 15 por cento dos votos foram para a extrema-direita, um resultado obtido à custa da tensão existente em torno dos movimentos independentistas da Catalunha, entende Marcos Farias Ferreira, professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

Enquanto Espanha não resolver o diferendo com a Catalunha, não deverá haver espaço para uma solução política e a extrema-direita poderá continuar a ganhar terreno.
Ciudadanos foi maior derrotado de domingo
O desastre eleitoral deste último escrutínio foi protagonizado pelo partido Ciudadanos. O partido perdeu cerca de 2,6 milhões de votos, passando de 57 lugares para apenas 10.

Esta segunda-feira, Rivera apresentou a sua demissão da liderança do Ciudadanos.

Desde as eleições de abril, o Ciudadanos era o terceiro partido com maior representação parlamentar. Mas com as eleições deste domingo, passou para sexta força política.

Rivera, após conhecidos os resultados, admitiu que era "um mau resultado, sem paliativos, nem desculpas".

"Perante estes maus resultados, acho que como líder político – e os líderes assumem sempre os maus resultados na primeira pessoa – é obrigatório convocar uma [reunião da comissão] executiva nacional urgente e extraordinária", disse no domingo.

Albert Rivera estava na liderança do partido desde a sua formação, há 13 anos.

Esta segunda-feira de manhã, anunciou a sua demissão e o abandono da vida política, não tomando posse do lugar no parlamento para o qual foi eleito no domingo.

"Decidi que me demito como presidente [do Ciudadanos], para que um congresso extraordinário decida o rumo a dar ao partido", disse Rivera numa declaração política sem direito a perguntas. "Não posso tomar posse do lugar de deputado apenas pelo salário", disse.

O até agora presidente do Cidadãos, comunicou que "deixa a política e a vida pública".
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