Eleições Europeias. Populistas "anti europeus" a caminho de grandes vitórias

por Cristina Sambado - RTP
Yves Herman - Reuters

Os partidos populistas “anti europeus” estão a caminho de obter grandes vitórias nas eleições europeias de junho, o que poderá alterar fortemente o equilíbrio do Parlamento para a direita e pôr em risco pilares fundamentais da agenda da UE, incluindo a ação climática, revelam as sondagens. França, Polónia e Áustria estão entre os nove países europeus onde se prevê que os partidos da direita radical consigam ficar no primeiro lugar.

As sondagens nos 27 Estados-membros da União Europeia, combinadas com o modelo de desempenho dos partidos nacionais nas anteriores eleições para o Parlamento Europeu, mostram que os partidos de direita radical estão em vias de terminar em primeiro lugar em nove países.

E em segunda ou terceira posição noutros nove países, incluindo a Alemanha, Espanha, Portugal e Suécia, o que poderá dar, pela primeira vez, origem a uma coligação de direita no Parlamento Europeu, composta por democratas-cristãos, conservadores e eurodeputados de direita radical.

A análise deve "servir de alerta para os decisores políticos europeus sobre o que está em jogo" nas eleições, afirmaram, ao jornal britânico Guardian, os cientistas políticos britânicos Simon Hix e Kevin Cunningham, coautores do relatório para o Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR).

Os investigadores afirmam que as implicações da votação são de grande alcance, argumentando que o próximo Parlamento Europeu poderá bloquear as leis sobre o acordo verde da Europa e adotar uma linha mais dura noutras áreas da soberania da União Europeia, incluindo a migração, o alargamento e o apoio à Ucrânia.

Segundo os cientistas políticos, os debates internos também poderão ser afetados reforçando o "eixo crescente de governos que tentam limitar a influência da União Europeia a partir do seu interior": Hungria, Itália, Eslováquia, Suécia e, se o PVV de Geert Wilders liderar o novo governo, os Países Baixos.O possível regresso de Donald Trump nos Estados Unidos e uma coligação de direita e centrada no interior do Parlamento Europeu podem resultar numa rejeição da "interdependência estratégica e (...) das parcerias internacionais em defesa dos interesses e valores europeus", alertam.

As projeções revelam que os principais grupos políticos no Parlamento Europeu - o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, os Socialistas e Democratas (S&D), de centro-esquerda, os Renovar a Europa (RE) e os Verdes (G/EFA) - vão perder deputados.

As sondagens e os modelos sugerem que a atual coligação de "centro-esquerda" (S&D, G/EFA e Esquerda) verá o seu número de deputados europeus cair de 36 por cento para 33 por cento do total, com a principal coligação de "centro-direita" (PPE, RE e ECR) a cair de 49 por cento para 48 por cento.

Os autores do relatório referem que o papel do partido húngaro Fidesz pode ser crucial: atualmente não inscrito, o partido do primeiro-ministro, Viktor Orbán, deverá conquistar 14 lugares e poderá - ao juntar-se à coligação nacional-conservadora ECR - tornar-se o terceiro maior grupo.

Se isso acontecer, o ECR e o ID juntos terão quase 25 por cento dos eurodeputados no hemiciclo, mais do que o PPE e o S&D. A atual "coligação" de partidos tradicionais (PPE, S&D e RE) deverá passar de 60 por cento para 54 por cento dos deputados ao Parlamento Europeu.

Os autores do relatório afirmam ainda que as maiores implicações da alteração da geometria do Parlamento Europeu serão na política ambiental, onde a S&D, a RE e a esquerda têm assegurado progressos. No entanto, a coligação "antipolítica climática" poderá impedir que isso aconteça.

O grupo da esquerda mais radical e, em particular, a direita populista, incluindo o Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e a extrema-direita Identidade e Democracia (ID), deverão emergir como os principais vencedores, com uma possibilidade real de entrar numa coligação maioritária pela primeira vez.

Da mesma forma, a aliança centrista e de centro-esquerda (RE, S&D, G/EFA, Esquerda, partes do PPE) que fez aprovar medidas de Estado de direito, incluindo a retenção de pagamentos orçamentais, contra a Hungria e a Polónia, pode já não existir, sugere o relatório.Os autores apelam aos decisores políticos para que examinem as tendências que estão a determinar os atuais padrões de votação na Europa e para que desenvolvam narrativas claras que abordem a necessidade de uma Europa global num clima geopolítico cada vez mais tenso e perigoso.

"As eleições de junho, para aqueles que querem ver uma Europa mais global, devem ter como objetivo salvaguardar e reforçar a posição da União Europeia", acrescentou Simon Hix, especialista em política comparada do Instituto Universitário Europeu de Florença.

"As campanhas devem dar aos cidadãos razões para otimismo. Devem falar dos benefícios do multilateralismo. E devem deixar claro, em questões-chave relacionadas com a democracia e o Estado de direito, que são eles, e não os que estão à margem da política, que estão em melhor posição para proteger os direitos europeus fundamentais”, rematou.
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