Eleições na Geórgia. Kremlin "rejeita firmemente" acusações de interferência russa

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Irakli Gedenidze - Reuters

O Kremlin disse esta segunda-feira que "rejeita firmemente" as "acusações totalmente infundadas" de interferência russa nas eleições da Geórgia e fala numa "tentativa de desestabilizar" a Geórgia.

"Rejeitamos firmemente tais acusações. Não houve interferência. As acusações são completamente infundadas", disse o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, em resposta à presidente da Geórgia, que disse que o país foi “vítima de uma operação especial russa”.

“A Rússia não se envolveu de forma alguma, mas outros na Europa tentaram influenciar a eleição”, disse Peskov, que acusou partidos externos de estarem a tentar “desestabilizar a Geórgia”.


Segundo a comissão eleitoral da Geórgia, o partido “Sonho Georgiano”, próximo de Moscovo, alcançou no sábado um quarto mandato, ao conquistar 89 lugares no Parlamento, com 54 por cento dos votos. Quatro partidos da oposição pró-ocidental ficaram com um total de 61 lugares.

O resultado representa um duro golpe para a oposição pró-europeia, que considera que a vitória do partido no poder vai aproximar o país de Moscovo, afastando a adesão à UE, um objetivo tão importante para grande parte da população, consagrado na Constituição.

Monitores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) disseram no domingo que registaram incidentes de compra de votos, intimidação de eleitores e fraude eleitoral que poderiam ter afetado o resultado, mas não disseram que as eleições foram fraudulentas.

Os Estados Unidos juntaram-se aos apelos dos observadores internacionais e locais e pedem “uma investigação completa de todos os relatos de violações eleitorais".

"No futuro, encorajamos os líderes políticos da Geórgia a respeitar o Estado de direito, a revogar a legislação que prejudica as liberdades fundamentais e a resolver as lacunas no processo eleitoral", disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, num comunicado divulgado no domingo à noite.

Blinken salienta que os observadores notaram "um ambiente pré-eleitoral marcado pela utilização indevida de recursos públicos por parte do partido no poder, a compra de votos e a intimidação dos eleitores, que contribuíram para criar condições de concorrência desiguais e minaram a confiança pública e internacional na possibilidade de um resultado justo".

Horas antes, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, tinha também pedido às autoridades eleitorais da Geórgia para investigarem as irregularidades nas legislativas, indicando que a UE vai "avaliar a situação e determinar os próximos passos" nas relações com o país, na reunião em Budapeste, no início do próximo mês.

"A UE recorda que qualquer legislação que comprometa os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos georgianos e contrarie os valores e princípios em que a UE se baseia deve ser revogada", afirmou a Comissão Europeia numa declaração conjunta com o chefe da diplomacia europeia.
Kobakhidze garante que UE é “prioridade”
O primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, disse esta segunda-feira que a integração do país na União Europeia continua a ser "a prioridade" e acusa a oposição de estar a tentar derrubar a “ordem constitucional”.

“A nossa principal prioridade em termos de política externa é, naturalmente, a integração europeia”, disse Kobakhidzé aos jornalistas, afirmando que “espera um retomar das relações” com Bruxelas, após as fortes tensões dos últimos meses.

“Tudo será feito para garantir que a Geórgia esteja totalmente integrada na UE até 2030”, prometeu. A Geórgia recebeu o estatuto de candidato à União Europeia em dezembro do ano passado e as sondagens mostram que 80% dos georgianos querem fazer parte do bloco de 27 países.

A presidente da Geórgia, Salome Zourabichvili, disse no domingo que não reconhece os resultados das eleições parlamentares da Geórgia e apelou aos cidadãos para que saíssem esta segunda-feira à rua em protesto.

“Não aceito esta eleição. Não pode ser aceite, aceitá-lo seria aceitar a Rússia neste país, a aceitação da subordinação da Geórgia à Rússia”, afirmou, considerando que o país foi "vítima" de uma "operação especial" promovida pela Rússia.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, é esperado esta segunda-feira na Geórgia para uma visita oficial de dois dias. O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, deixou claro que Orbán “não representa a União Europeia”.

“Orbán vai hoje à Geórgia (…) sem dúvida para mostrar o seu apoio ao governo da Geórgia”, disse Borrell. “Mas o que quer que o senhor Orbán diga durante a sua visita, não representa a União Europeia”, acrescentou.

O primeiro-ministro húngaro, o único líder de um Estado-membro da UE que permanece próximo de Moscovo, foi um dos poucos líderes europeus a reagir ao resultado das eleições na Geórgia. Orbán felicitou o partido Sonho Georgiano pela sua “vitória esmagadora”.

c/ agências
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