Eleições na Hungria. Putin aplaude vitória de Orbán

O presidente russo, Vladimir Putin, congratulou Viktor Orbán pela vitória nas recentes eleições legislativas da Hungria e expressou confiança nos laços entre os dois países. O nacionalista húngaro selou a conquista do quarto mandato como primeiro-ministro. Com maioria absoluta.

Carla Quirino - RTP /
Zoltan Fischer - EPA

As eleições húngaras para o Parlamento culminaram em mais uma vitória do Fidesz, de Viktor Orbán. O partido arrecadou perto de 70 por cento dos votos, garantindo um quarto mandato a Orbán.

A coligação liderada por Peter Marki-Zay ficou muito atrás, com 28,1 por cento. A oposição ficou assim sem grande capacidade de manobra.
Do Kremlin chegaram votos de confiança e felicitações. Citado pela CNN, um porta-voz do Kremlin disse na segunda-feira que Vladimir Putin congratulou Orbán pela vitória, acrescentando: "Apesar da difícil situação internacional, o desenvolvimento da parceria bilateral atende plenamente aos interesses da Rússia e da Hungria".
Discursos de Orbán
As eleições húngaras tiveram como pano de fundo a guerra na Ucrânia. Durante a campanha eleitoral, os discursos de Orbán procuraram contornar o ataque de Putin à vizinha Ucrânia, evitando palavras de condenação de Moscovo.

Já no discurso de vitória Viktor Orbán não se coibiu de catalogar de "adversário" Volodymyr Zelensky, o presidente da Ucrânia.

"Lembrar-nos-emos desta vitória até o fim das nossas vidas porque tivemos que lutar contra uma enorme quantidade de opositores", afirmou Orbán, identificando vários inimigos políticos. Na lista estão a esquerda húngara, os "burocratas" de Bruxelas e a comunicação social internacional. "E o presidente ucraniano também. Nunca tivemos tantos adversários ao mesmo tempo”, destacou Orbán.
UE e os espinhos húngaros
"Temos uma vitória que pode ser vista da Lua e é certo que pode ser vista de Bruxelas", afirmou Viktor Orbán no discurso de vitória, na noite do passado domingo.

Aos 12 anos de poder somam-se agora mais quatro. A União Europeia considera que o Fidesz minou as instituições democráticas da Hungria e fala-se da construção de um Estado "iliberal" dentro das fronteiras do espaço comunitário.

A OSCE - Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, que avalia a democracia e os Direitos Humanos no Velho Continente, recomendou uma operação de monitorização internacional em larga escala do ato aleitoral de 3 de abril.

Esta atuação, pouco usual para com um Estado-membro da UE, foi desencadeada depois de a OSCE ter recebido informação de uma alegada "deterioração geral das condições para eleições democráticas". "A sobreposição generalizada entre as mensagens de campanha do partido de Orbán e as comunicações do Governo inclinaram o campo de jogo", disse Jillian Stirk, da OSCE.

Embora a Hungria tenha recebido mais de meio milhão de refugiados da Ucrânia e aderido  - parcial e relutantemente - às sanções da UE contra a Rússia, Orbán tem sido cauteloso nas críticas a Moscovo. "Orbán insiste que não deve haver nenhuma tentativa de bloqueio na venda de gás e petróleo russos para a Europa", sublinhou Nick Thorpe, da BBC.

"O mundo inteiro pode ver esta noite em Budapeste que a política democrata-cristã, a política conservadora e a política nacionalista venceram", acrescentou Orbán. "A nossa mensagem para a Europa é que não é o passado, mas o futuro. Este será nosso futuro europeu comum" rematou.

A Hungria está a ficar cada vez mais isolada na UE e na NATO, mas Orbán acredita que nenhuma das instituições está disposta a excluí-lo, diz a analista Katya Adle.

A leitura feita pela especialista em política internacional é que Orbán será um "espinho imprevisível" no xadrez europeu. A agenda de Putin e a forte dependência da energia russa poderá ter grande impacto no caminho da Hungria.
Tópicos
PUB