Em dia de ataque a escola palestiniana, ministro israelita reza para ver "inimigos espezinhados"

O ministro israelita da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, visitou esta segunda-feira a Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, onde disse ter rezado pela vitória de Israel, afirmando que os "inimigos devem ser espezinhados". A deslocação ocorreu no dia em que 52 pessoas morreram em vários bombardeamentos das forças do Estado hebraico na Faixa de Gaza.

Cristina Sambado - RTP /
Mohammed Saber - EPA

Que os nossos inimigos sejam espezinhados", afirmou o ministro israelita numa filmagem em hebraico difundida nas redes sociais, após a oração, citado pela agência espanhola Europa Press.


Ben Gvir disse ainda que esteve no Monte do Templo (nome dado pelos judeus ao local sagrado para os muçulmanos) para assinalar o Dia de Jerusalém tendo rezado pela vitória de Israel na guerra em Gaza e pelo regresso de todos os reféns.


“Subi ao Monte do Templo para o Dia de Jerusalém e rezei pela vitória na guerra (em Gaza), pelo regresso de todos os nossos reféns e pelo sucesso do novo chefe do Shin Bet, o major-general David Zini. Feliz dia de Jerusalém”, escreveu o ministro da Segurança Nacional nas redes sociais acompanhada de fotografias que o mostram na Esplanada das Mesquitas, conhecida pelos judeus como Monte do Templo.A deslocação do governante israelita ocorreu antes de uma manifestação anual que assinala a tomada de Jerusalém Oriental por Israel na guerra de 1967.

“Muitos judeus inundaram o Monte do Templo, que alegria assistir. Hoje, graças a Deus, já é possível rezar no Monte do Templo”, frisou Ben Gvir.

O ministro israelita da Segurança Nacional há muito que defende o direito dos judeus à oração no local, que é sagrado para muçulmanos e judeus. Ao abrigo de um acordo com décadas de existência, o complexo é administrado por um fundo islâmico jordano. Os judeus estão autorizados a visitar o local, mas não a rezar. A mesquita de Al-Aqsa é o terceiro local mais sagrado do Islão.


Foto: Ammar Awad - Reuters

Esperava-se que dezenas de milhares de judeus israelitas participassem na Marcha da Bandeira, uma manifestação anual em Jerusalém que atrai muitos ultranacionalistas israelitas.

A marcha provoca frequentemente tensões quando os ultranacionalistas entram nas zonas palestinianas da Cidade Velha murada de Jerusalém, a caminho do Muro das Lamentações, um dos locais mais sagrados do judaísmo.As visitas de altos funcionários israelitas ao recinto são sempre motivo de condenação por parte das autoridades palestinianas e jordanas, responsáveis pela aplicação das medidas que controlam as presenças de judeus na Esplanada das Mesquitas.

Ultimamente, a polícia palestiniana tolera um número limitado de orações por parte de judeus no local e que entram sob escolta.

A Esplanada das Mesquitas é "de facto" controlada por Israel após a tomada da Cidade Velha de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias (1967) - e foi o local do Primeiro e Segundo Templos judeus, destruídos e dos quais apenas resta o Muro das Lamentações, bem como a Mesquita de Al Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islão.

A Jordânia condenou a visita do ministro israelita Itamar Ben Gvir à Esplanada das Mesquitas, que é administrada pelo reino, mas cujos pontos de entrada são controlados por Israel desde a tomada de Jerusalém Oriental em 1967.

“As práticas deste ministro extremista e as suas incursões contínuas na Mesquita de Al-Aqsa não põem em causa o facto de Jerusalém Oriental ser uma cidade ocupada sobre a qual Israel não tem soberania”, declarou o Ministério dos Negócios Estrangeiros jordano em comunicado.

Israel capturou Jerusalém Oriental, incluindo a Cidade Velha, da Jordânia na guerra do Médio Oriente de 1967. Os palestinianos pretendem que Jerusalém Oriental seja a capital de um futuro Estado que incluiria a Cisjordânia e Gaza.

A maioria dos países considera Jerusalém Oriental um território ocupado e não reconhece a soberania israelita sobre o mesmo. Israel considera Jerusalém a sua capital eterna e indivisível.

Em 2017, o presidente dos EUA, Donald Trump, reconheceu toda Jerusalém como capital de Israel e transferiu a embaixada dos EUA de Tel Aviv para lá. No domingo, o embaixador americano Mike Huckabee, um cristão evangélico, felicitou Israel por aquilo a que chamou a reunificação da cidade há 58 anos.
Bombardeamentos israelitas matam 52 pessoas em Gaza
Pelo menos 52 pessoas foram mortas na segunda-feira por bombardeamentos israelitas em Gaza, de acordo com a Defesa Civil palestiniana, incluindo 33 numa escola que alberga pessoas deslocadas, onde o exército israelita afirmou ter visado “os principais terroristas”.Estes novos ataques mortais surgem quando Israel intensifica a sua ofensiva no território palestiniano devastado e faminto, apesar da crescente pressão internacional para silenciar as armas.

A Defesa Civil informou que 33 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas, a maioria das quais crianças, num “massacre” na escola Fahmi Al-Jarjaoui, na cidade de Gaza, e depois informou que 19 pessoas tinham sido mortas num bombardeamento israelita contra uma casa em Jabalia, na mesma região do norte de Gaza.

O exército israelita declarou ter atingido “os principais terroristas (...) num centro de comando e controlo” na zona da escola. O exército israelita acusa regularmente o Hamas de operar a partir de escolas ou estabelecimentos de saúde - que já atacou em várias ocasiões - mas o movimento islamita nega.

Ao início da tarde desta segunda-feira, o exército israelita emitiu uma ordem de evacuação para certas zonas de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, citando os disparos de rockets a partir deste sector a sul de Gaza.

"As organizações terroristas continuam a disparar foguetes a partir das vossas zonas. A região de Khan Younis é considerada uma zona de combate perigosa e foi avisada em várias ocasiões. Evacuem imediatamente para oeste (...)", declarou o porta-voz do exército israelita, Avichay Adree, em árabe, nas redes sociais.

A campanha, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que terminará com o controlo total de Gaza por Israel, reduziu a população a uma zona cada vez mais estreita nas zonas costeiras e em torno da cidade meridional de Khan Younis.

Antes, o exército israelita tinha comunicado três “projéteis” disparados da zona - um intercetado e os outros caídos em Gaza.

O Governo israelita afirmou ter atingido "mais de 200 alvos" nas últimas 48 horas, incluindo "terroristas (...) postos de atiradores furtivos e mísseis antitanque, e túneis".

Após uma trégua de dois meses, Israel retomou a sua ofensiva em meados de março e intensificou as suas operações militares em 17 de maio, com o objetivo declarado de eliminar o Hamas - cujo ataque a Israel em 7 de outubro de 2023 desencadeou a guerra -, libertar os últimos reféns e assumir o controlo da Faixa de Gaza.

O ataque de 7 de outubro causou a morte de 1.218 pessoas do lado israelita, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais. Das 251 pessoas raptadas na altura, 57 continuam detidas em Gaza, incluindo pelo menos 34 mortos, segundo as autoridades israelitas.

Mais de 53.977 pessoas, na sua maioria civis, foram mortas pela campanha de represália israelita, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados fiáveis pela ONU.
Menos de 5% das terras agrícolas de Gaza estão utilizáveis

Menos de cinco por cento das terras agrícolas de Gaza são atualmente aráveis e/ou acessíveis, agravando ainda mais o risco de fome no território palestiniano devastado, de acordo com uma nova avaliação por satélite publicada na segunda-feira pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).No final de abril, mais de 80 por cento das terras agrícolas tinham sido danificadas e 77,8 por cento já não estavam acessíveis, restando apenas 4,6 por cento de terras potencialmente aráveis (apenas 688 hectares), de acordo com uma análise realizada com a Unosat, o centro de satélites das Nações Unidas.

"Este nível de destruição não é apenas uma perda de infraestruturas - é um colapso do sistema agroalimentar de Gaza e das linhas de vida", afirmou Beth Bechdol, diretora-geralaAdjunta da Organização para a Alimentação e Agricultura, que produziu a avaliação juntamente com o Centro de Satélites da ONU.

Antes do início da guerra entre Israel e o Hamas, há mais de 19 meses, os agricultores de Gaza cultivavam uma série de culturas, incluindo citrinos, tâmaras e azeitonas, apesar de a região ser uma das mais densamente povoadas do mundo.

Agora, meio milhão de pessoas enfrentam a fome, de acordo com um monitor global da fome, devido às restrições israelitas à importação de alimentos após um bloqueio de 11 semanas.

O relatório concluiu que quase três quartos das casas foram danificados durante a guerra e mais de 80 por cento dos poços, de acordo com a avaliação baseada em imagens de satélite de alta resolução.

O relatório descreveu a situação como “particularmente crítica” na zona sul de Rafah e nas zonas do norte, onde quase todas as terras de cultivo são inacessíveis, segundo o comunicado.

c/ agências
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