Mais de 30 mortos em ataque israelita a escola em Gaza

Pelo menos 36 pessoas morreram esta segunda-feira e mais de 50 ficaram feridas quando Israel bombardeou uma escola na cidade de Gaza. O estabelecimento de ensino aloja deslocados do conflito.

Cristina Sambado - RTP /
Dawoud Abu Alkas - Reuters

"O ataque à escola no bairro de Daraj também feriu mais de 55 pessoas", afirmou Fahmy Awad, chefe do serviço de emergência da Defesa Civil de Gaza.

A mesma fonte adiantou que a escola foi atingida três vezes enquanto as pessoas dormiam.

As equipas de socorro conseguiram controlar o fogo resultante dos ataques israelitas à escola Fahmi Al-Jarjaoui, no bairro de Al Daraj.

O número de mortos do "massacre na escola Fahmi Al-Jarjaoui, na cidade de Gaza", é de pelo menos 36, com dezenas de feridos, "principalmente crianças e várias mulheres", segundo a Defesa Civil.
Já de acordo com o exército israelita, o ataque à a escola Fahmi Al Jarjawi, na cidade de Gaza, tinha como alvo “os principais terroristas”.

O ataque visou “os principais terroristas que operavam num centro de comando e controlo do Hamas e da Jihad Islâmica instalado numa área anteriormente utilizada como escola (...) na zona da cidade de Gaza”, declarou o exército em comunicado.Israel culpa o Hamas pelas mortes de civis porque a organização opera em zonas residenciais.

No domingo, o Comité Internacional da Cruz Vermelha (ICRC, na sigla em inglês) em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, indicou que Israel matou dois trabalhadores da organização.

Israel intensificou suas operações militares no enclave no início de maio, dizendo que está tentando eliminar as capacidades militares e de governo do Hamas e trazer de volta os reféns restantes que foram apreendidos em outubro de 2023.

Apesar da crescente pressão internacional que levou Israel a levantar o bloqueio ao fornecimento de ajuda, face aos avisos de fome iminente, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse na semana passada que Israel iria controlar toda a Faixa de Gaza.

Israel assumiu o controlo de cerca de 77 por cento do enclave, quer através das suas forças terrestres, quer através das ordens de evacuação e dos bombardeamentos que mantêm os residentes afastados das suas casas, segundo o gabinete de imprensa de Gaza.

Também esta segunda-feira o exército israelita informou que foram disparados três “projéteis” de Gaza, um dos quais foi intercetado, e os outros dois “caíram” em território palestiniano.

A ofensiva já matou mais de 53 mil pessoas, muitas das quais civis, segundo as autoridades sanitárias de Gaza.
Ajuda chega a Gaza após bloqueio
O diretor de uma organização humanitária privada apoiada pelos Estados Unidos, encarregada de distribuir ajuda em Gaza através de um plano iniciado por Israel, demitiu-se no domingo, dizendo que não podia abandonar os princípios de humanidade, imparcialidade e independência.

Jake Wood, diretor executivo da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) nos últimos dois meses, afirmou domingo não acreditar ser possível implementar o plano da organização para ajudar Gaza, "respeitando rigorosamente os princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência".


Jake Wood não forneceu mais pormenores e o antigo marine norte-americano não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Numa declaração, a direção da organização afirmou estar “desiludida” com a partida de Wood, mas prometeu não se deixar dissuadir dos esforços para chegar a toda a população do enclave nas próximas semanas.A organização, com sede em Genebra e criada há poucos meses, anunciou em 14 de maio que pretendia distribuir cerca de 300 milhões de refeições durante um período inicial de 90 dias.

“Os nossos camiões estão carregados e prontos para partir”, disse, acrescentando que a GHF começaria a entregar ajuda direta em Gaza a partir de segunda-feira para chegar a mais de um milhão de palestinianos até ao final da semana.

Planeamos escalar rapidamente para servir toda a população nas próximas semanas”.

Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA disse que continua a apoiar os planos da Fundação Humanitária de Gaza para começar a entregar ajuda em breve e sublinhou que o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que os palestinos precisavam muito de ajuda.A assistência humanitária começou a chegar a Gaza nos últimos dias depois que Israel ceder à pressão internacional após ter imposto um bloqueio desde o início de março.

Já este mês, Jake Wood afirmou às autoridades israelitas, numa carta, que a fundação não partilharia qualquer informação pessoal identificável dos beneficiários da ajuda.

Wood também pediu a Israel que facilitasse o fluxo de ajuda suficiente “utilizando as modalidades existentes” até que a infraestrutura da fundação estivesse totalmente operacional.

Para Wood, era essencial aliviar a angústia e a pressão nos locais de distribuição durante os primeiros dias de funcionamento da fundação.
Um observatório mundial da fome alertou para o facto de meio milhão de pessoas, ou seja, um quarto da população de Gaza, estar a morrer de fome, onde Israel e o grupo militante palestiniano Hamas estão em guerra desde outubro de 2023.


Israel acusou o Hamas de roubar ajuda, que o grupo nega, e está a bloquear as entregas de ajuda humanitária a Gaza até que o Hamas liberte todos os reféns que foram feitos no seu ataque a Israel.

A Fundação Humanitária de Gaza, criada em fevereiro, tem sido muito criticada pelas Nações Unidas, cujos responsáveis afirmaram que os seus planos de distribuição de ajuda apenas fomentariam a deslocação forçada de palestinianos e mais violência.

Esse plano, inicialmente previsto para começar no final de maio, foi iniciado por Israel e envolve empresas privadas, em vez das Nações Unidas e os grupos de ajuda que há décadas se ocupam da ajuda aos palestinianos, que transportam a ajuda para Gaza para um número limitado dos chamados locais de distribuição seguros, que, segundo Israel, se situariam no sul de Gaza.Israel mobiliza-se para o “Dia de Jerusalém”
Esta segunda-feira, polícias israelitas concentraram-se junto às muralhas da Cidade Velha algumas horas antes de um desfile dos nacionalistas israelitas para assinalar o “Dia de Jerusalém”, que se realiza pelo segundo ano consecutivo, tendo como pano de fundo a guerra em Gaza.

Para os israelitas, o Yom Yerushalaim (Dia de Jerusalém em hebraico) comemora o que consideram ser a “reunificação” da cidade em 1967, depois de Israel ter conquistado a parte oriental da cidade.
Todos os anos, neste dia, milhares de nacionalistas israelitas, na sua maioria religiosos, marcham pelas ruas de Jerusalém, incluindo a Cidade Velha, ocupada e anexada por Israel, agitando bandeiras israelitas, dançando e cantando.

Já na manhã desta segunda-feira, grupos de jovens de todo o país reuniam-se junto à Porta de Jaffa, envergando t-shirts brancas, como é habitual nesta marcha, observou um jornalista da AFP.

A marcha deve levá-los ao Muro das Lamentações, em Jerusalém Oriental, o último vestígio do Segundo Templo, destruído em 70 D.C. pelos romanos, e o lugar mais sagrado onde os judeus podem rezar.

As autoridades locais podem impor o encerramento das empresas palestinianas dentro das muralhas da Cidade Velha.

Para muitos palestinianos, esta marcha sob forte vigilância é vista como uma provocação deliberada.


Todos os anos, a marcha é pontuada por incidentes, nomeadamente nas ruas da Cidade Velha, com alguns dos participantes a entoar slogans racistas.

Em 2024, dois jornalistas, entre os quais um fotógrafo palestiniano, foram agredidos por adolescentes que participavam na marcha.
Polícia intervém em força
Em 2021, o Hamas lançou uma saraivada de foguetes contra Jerusalém quando a marcha se dirigia para a Cidade Velha, ao que se seguiu uma guerra de 12 dias entre Israel e o movimento islamista palestiniano, bem como focos de violência em Israel entre judeus e árabes.

A polícia disse no domingo que estava a enviar “milhares” de agentes para toda a cidade para “garantir a segurança do público”.

A câmara municipal israelita de Jerusalém anunciou uma série de eventos que começaram, como em todas as festas do calendário judaico, na noite anterior.Uma bandeira israelita gigante foi desfraldada na esplanada do Muro das Lamentações no domingo à noite, enquanto milhares de visitantes percorriam as ruas da Cidade Velha.

O Governo israelita deverá reunir-se na segunda-feira no bairro palestiniano de Silwan, segundo um comunicado de imprensa do gabinete do primeiro-ministro.

Silwan, por baixo das muralhas da Cidade Velha, alberga um importante sítio arqueológico judaico, Ir David, onde a Bíblia situa a cidade do Rei David após a sua conquista de Jerusalém aos Jebuseus.

Desde junho de 1967, os colonatos israelitas, ilegais à luz do direito internacional, desenvolveram-se na parte oriental da cidade, sendo regularmente condenados a nível internacional.

Israel considera Jerusalém como a sua capital “unificada e indivisível”, o que a comunidade internacional não reconhece, nem a anexação da parte oriental da cidade, que os palestinianos pretendem que seja a capital do Estado a que aspiram.

No entanto, durante o seu primeiro mandato, o presidente Donald Trump transferiu a embaixada dos EUA para Jerusalém, depois de ter reconhecido a cidade como capital de Israel.

No domingo à noite, o embaixador norte-americano em Israel, Mike Huckabee, juntamente com a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, em visita ao país, assistiram brevemente às comemorações no Muro das Lamentações.

A marcha de segunda-feira terá lugar, pelo segundo ano consecutivo, num contexto de guerra na Faixa de Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023.

A guerra reacendeu as discussões no seio da direita israelita sobre a anexação do território palestiniano.

c/ agências
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