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Em Marselha. Papa Francisco condena "globalização da indiferença" para com os migrantes

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Yara Nardi - Reuters

O Para Francisco já está em Marselha para uma visita de dois dias dedicada à crise migratória do Mediterrâneo. Esta sexta-feira, Francisco condenou a “indiferença que vai ensanguentando o Mediterrâneo”, afirmando que impedir o resgate de migrantes no mar é um “gesto de ódio”.

Em 2013, logo no início do seu pontificado, Francisco viajou para a pequena ilha italiana de Lampedusa onde prestou homenagem aos migrantes que morreram no mar e condenou a “globalização da indiferença”.

Dez anos depois, as palavras de Francisco são semelhantes perante uma crise migratória que se agravou.

Num discurso após uma cerimónia na basílica de Marselha, o Papa Francisco afirmou que “estamos perante uma cultura de indiferença” que “vai ensanguentando o Mediterrâneo”.


“Não podemos continuar a testemunhar as tragédias dos naufrágios causados pelo tráfico hediondo e pelo fanatismo da indiferença”, afirmou. “Devemos ser exemplares no acolhimento mútuo e fraterno”, apelou Francisco, denunciando mais uma vez o “imenso cemitério” em que se tornou o Mediterrâneo, onde “está sepultada a dignidade humana”.

“Perante uma tragédia destas, não servem as palavras, mas sim as ações”, insistiu o Papa, condenando “a paralisia do medo”.

O chefe da Igreja católica defendeu que os migrantes que correm o risco de se afogar no mar “devem ser resgatados”, afirmando que esse é “um dever da humanidade, um dever da civilização”. Impedir esses resgates é “um gesto de ódio”, disse Francisco.

Referindo-se ao aumento do desembarque de refugiados em Lampedusa, o Papa Francisco condenou a condição em que vivem muitos migrantes, considerando que revela “uma crueldade e uma terrível falta de humanidade”.

"Eles mantêm-nos em campos de concentração líbios e depois atiram-nos ao mar", acrescentou o Pontífice. “Não podemos admitir ver os seres humanos a serem tratados como moedas de câmbio, prisioneiros e torturados”, acrescentou.
Número de migrantes que chegam a Itália duplicou
Esta é a primeira visita de um papa à cidade de Marselha em 500 anos. A visita histórica de Francisco à segunda maior cidade francesa, onde convivem diversas comunidades e religiões, acontece numa altura em que uma nova vaga de chegadas de migrantes à ilha italiana de Lampedusa levou a União Europeia a adotar um plano de emergência para ajudar Roma a gerir os fluxos migratórios do Norte de África. Desde o início do ano, quase 130.000 migrantes chegaram a Itália, quase o dobro do número do mesmo período de 2022 e o triplo de 2021.

A situação mais crítica é vivida em Lampedusa, onde em apenas três dias, perto de dez mil migrantes chegaram à ilha, que tem cerca de seis mil habitantes.

Perante estes números alarmantes, a União Europeia adotou um plano de emergência para ajudar Roma a gerir os fluxos migratórios provenientes do Norte de África.

Isabel Martins da Silva, da ONG Meeru, que tem como missão apoiar famílias de migrantes, olha “com preocupação” para os discursos na União Europeia, defendendo que é preciso “um discurso focado na dignidade de cada pessoa”.

“Apresentam-nos soluções com um discurso muito securitário e não um discurso humanitário que assenta no resgate e proteção das pessoas”, explicou Isabel Silva em entrevista à RTP.


Francisco preside ainda à sessão de encerramento de uma reunião de bispos católicos do Mediterrâneo, mas a sua visita de dois dias tem como objetivo enviar uma mensagem muito além dos católicos, que abranja toda a Europa e norte de África.

Depois da oração na basílica de Marselha, Papa reza num monumento dedicado àqueles que morreram no mar - um número estimado em mais de 28 mil desde 2014, segundo a Organização Internacional para as Migrações.

No sábado, está prevista uma missa no estádio Orange Vélodrome, onde são esperadas 57 mil pessoas, e um encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, apesar de não ser uma visita de Estado.
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