Embaixador da Palestina em Angola admite que depois da África do Sul mais países cortem relações com Israel

por Lusa

 

O embaixador da Palestina em Angola disse hoje que mais países africanos podem seguir o exemplo da África do Sul e cortar relações com Israel, apesar de o Estado hebraico manter fortes relações económicas com muitos deles.

Em entrevista à Lusa, depois do Parlamento sul-africano aprovar uma moção para suspender as relações diplomáticas com Israel, Jubrael Shomali saudou novamente a posição assumida por Angola e considerou a decisão da África do Sul "muito importante" para consciencializar Israel para o que está a fazer em Gaza.

"É uma catástrofe, não só para os palestinianos, mas também para os israelitas que querem a paz", disse, a propósito do conflito que se reiniciou a 07 de outubro, admitindo que outros países possam seguir a África do Sul, como a Namíbia ou o Zimbabué.

"Mas penso que a maioria dos paises africanos preferem tomar posição através da União Africana", assinalou o diplomata, afirmando que a proximidade entre África do Sul e Palestina remonta ao "ícone" Nelson Mandela, "que disse que não haveria liberdade no mundo enquanto a Palestina não fosse livre".

Jubrael Shomali salientou que a maioria dos países africanos apoia a Palestina, por se tratar de "uma causa justa", mas também por que sofreram os efeitos da colonização e veem em Israel um Estado colonizador.

Quanto aos países que apoiam o lado israelita, considerou que "Israel tem trabalhado na frente económica e financeira" com muitos destes países, o que contribui para manter uma boa relação.

A título de exemplo, apontou os casos de Israel e Angola: "têm uma relação forte do ponto de vista económico, mas em termos políticos Angola apoia a Palestina", ou seja, a economia não é a chave para que Israel consiga conquistar o apoio dos países africanos.

Além disso, para a Autoridade Palestiniana, "é suficiente" a posição de Angola, já expressa em diversas ocasiões pelo Presidente da Republica, João Lourenço.

A última foi na quarta-feira, na abertura da Bienal de Luanda -- "Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz", em que João Lourenço reafirmou que a solução para o conflito assenta necessariamente na criação do Estado palestiniano, ao abrigo das várias resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a matéria.

"A posição de Angola é igual à da Palestina a nível internacional. Só queremos uma coisa, implementar as resoluções das Nações Unidas na Palestina", disse o diplomata à Lusa.

Jubrael Shomali disse acreditar que Israel está a perder apoio internacional, apontando as manifestações e marchas que têm ocorrido em todo o mundo, e mostrou-se otimista: "penso que agora o mundão vai querer ser sério quanto à solução do problema da Palestina, implementando os dois Estados.

"Já perdemos mais de 12 mil palestinianos, 6 mil eram crianças e 4 mil eram mulheres", em apenas 45 dias, lamentou o embaixador.

"É uma tragédia e Israel deve pagar a fatura, retirando-se da Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental", continuou.

Sobre as tréguas temporárias que foram negociadas para a libertação de reféns, sustentou que só se chegou a acordo por que Israel não conseguiu ainda conquistar nenhum objetivo militar.

"Depois de 45 dias de luta, de matança, de bombardeamentos, o que conquistaram em termos militares é zero e por isso é que concordaram, se não teriam continuado na sua missão", disse o embaixador.

"Falharam e vão continuar a falhar. O Hamas está nos túneis, por que é que estão a matar os civis?", questionou, frisando que "o grande objetivo" é empurrar os palestinianos para sul.

 

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