Empate entre esquerda e direita dita futuro incerto na Suécia

por Andreia Martins - RTP
Stefan Löfven, primeiro-ministro sueco e líder dos Sociais-Democratas, no discurso após a divulgação dos primeiros resultados. O partido continua a ser o mais votado, mas obteve o pior resultado do último século Reuters

Com um empate técnico entre as forças de centro-esquerda e a Aliança de centro-direita, as eleições de domingo traçam um cenário de incerteza e instabilidade em Estocolmo, numa altura em que o partido de extrema-direita regista um resultado histórico como terceira força política mais votada. Se por um lado os dois principais partidos já garantiram que não se vão coligar para a formação de um Governo, ambos também já descartaram a hipótese de um acordo com o partido anti-imigração.

Sem uma maioria, completamente fragmentado e com poucas soluções à vista para a potência escandinava. Os resultados das eleições deste domingo ditaram um cenário complexo no Riksdag, o Parlamento sueco. Se o bloco governamental centro-esquerda – Sociais-Democratas, Partido de Esquerda e Verdes - alcançou 40,6 por cento dos votos, o conjunto de forças da direita – que inclui Moderados, o Partido do Centro, Democratas Cristão e os Liberais - chegou aos 40,3 por cento, segundo os resultados preliminares divulgados pela televisão sueca SVT, quando já estão contados 99.8% dos votos.  

Na prática, estes resultados traduzem-se numa assembleia separada em duas fações principais: a força de esquerda liderada pelos Sociais-Democratas com 144 deputados e a aliança de direita, com a preponderância do Partido Moderado, com 143 deputados, num total de 349 deputados.

Entre as duas principais forças políticas estão os Democratas Suecos, partido de extrema-direita que alcançou um resultado histórico, ao ocupar a posição de terceiro partido mais votado, atrás dos Sociais-Democratas (28,4%) e dos Moderados (19,8).  


Ainda que não tenha sido a segunda força política mais votada como algumas sondagens indicavam, o partido de extrema-direita não ficou muito longe de ser a segunda formação política com mais votos, alcançando 17,6 por cento, o que significa que o partido terá 62 assentos no Parlamento sueco. Este resultado traduz-se num crescimento de quase cinco pontos percentuais face às eleições de 2014.

Este foi o melhor resultado de sempre para o partido, mas os números ficaram aquém do que era esperado pelo líder, que chegou a prever durante a campanha que os Democratas Suecos ficariam entre os 20 e os 30 por cento.  

Nenhuma das forças políticas obteve uma maioria, mas na Suécia é geralmente o líder do partido com mais votos tem a oportunidade de formar um Governo, sobretudo se mostrar que consegue formar uma coligação. No entanto, é precisamente no cenário de coligação que os resultados entre as duas maiores forças se complicam. O jornalista Ryan Heath refere na edição europeia da revista Politico que o IKEA, conhecida empresa de mobiliário de origem sueca, não fornece o manual de instruções necessário à construção de uma solução governativa e respetiva resolução deste quebra-cabeças pós-eleitoral.

Os dois partidos mais votados não mostraram vontade de se unirem numa grande coligação, mas ambos também descartaram a hipótese de um acordo com o SD, o partido de extrema-direita. Levanta-se a possibilidade de um governo minoritário, que estaria à mercê dos vários adversários. Para chegar a uma maioria, as forças políticas precisam de assegurar pelo menos 175 assentos parlamentares.   
SD preparado para dialogar "com todos os partidos"
Ainda que continue a ocupar o lugar de partido com mais votos, estes resultados representam uma pesada derrota para Stefan Löfven, atual primeiro-ministro sueco e líder dos sociais-semocratas, uma vez que o partido alcançou os piores resultados eleitorais do último século.  

“Gostaríamos de ter conseguido um resultado melhor, quanto a isso não há dúvidas. Mas apesar disso, os eleitores fizeram dos sociais-democratas o principal partido no Parlamento, claramente o maior partido. (…) Vou continuar a trabalhar serenamente como primeiro-ministro”, afirmou Löfven.


O líder dos sociais-democratas disse ainda que vai tentar dialogar com a oposição de centro-direita. “Uma coisa é certa, ninguém obteve a maioria. Por isso é natural propor uma colaboração entre os blocos”, afirmou.  

Num cenário político fragmentado, o ainda primeiro-ministro disse que a eleição foi o “enterro da política de blocos” que vigorava na Suécia e apelou ainda à “responsabilidade moral” dos partidos de centro-direita.  

No entanto, o líder dos Moderados, Ulf Kristersson, também prometeu encetar esforços para criar uma coligação e não pareceu muito inclinado para falar com o bloco oposto, liderado pelo primeiro-ministro.


“O povo sueco escolheu um novo Parlamento. A Aliança (de direita) é claramente maior do que o Governo. O Governo está esgotado. Nunca deveria ter existido e agora, deve demitir-se”, afirmou.  

Neste cenário, a extrema-direita poderá ser a charneira decisiva para a predominância de um dos dois principais blocos nas próximas semanas de negociação. “Vamos ter uma enorme influência no que vai acontecer na Suécia nas próximas semanas, nos próximos meses e nos próximos anos”, afirmou Jimmie Åkesson.


Desde logo, o líder da extrema-direita citou o líder dos Moderados, que prometeu na noite de domingo que irá substituir o Executivo. “Ulf Kristersson, como vai substituir o Governo? Vai escolher Stefan Löfven ou vai escolher Jimmie Åkesson? Queremos uma resposta imediata”, disse o líder dos SD.  

“Estou preparado para falar com todos os partidos, mas em particular convido Ulf Kristersson a discutir como governar este país de agora em diante”, disse o líder do SD.   

As eleições gerais na Suécia, país com uma população de 10 milhões de habitantes, contaram este domingo com uma afluência de 84,4 por cento. Os suecos foram às urnas eleger o novo Parlamento, com um total de 349 assentos, mas também para atribuir 6.300 cargos locais e regionais.  
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