SD sueco: um partido pró-nazi com pele de cordeiro

por RTP
Jimmie Åkesson é o atual líder dos Democratas Suecos, que obtiveram nestas eleições o melhor resultado de sempre do partido Reuters

O SD ("Democratas Suecos"), que sai das eleições de domingo como terceiro partido mais votado, tem feito um percurso típico - da seita ideológica inicial, ao partido de massas actual, que aprendeu a calar temporariamente tudo o que o prejudica aos olhos de um certo eleitorado.

Um dos mais emblemáticos dirigentes de primeira hora do SD, seu primeiro tesoureiro, Gustaf Ekström, foi durante a Segunda Grande Guerra membro das Waffen-SS, força militar que, como o nome indica, era controlada pelas SS de Heinrich Himmler.

Esta organização constituía uma espécie falange de voluntários internacionais ao serviço da Alemanha nazi. Em muitos dos países ocupados, afluíam a ela arrivistas e aventureiros que esperavam cair nas boas graças da "raça de senhores".

O voluntariado para as Waffen-SS tem, na Suécia, um significado ainda mais marcante, visto tratar-se de um país neutral, que nunca foi ocupado. Só ia mesmo quem queria - e Ekström quis, como militante que era do partido nacional-socialista sueco, o Svensk Socialistisk Samling. A partir de 1989, Ekström tornou-se dirigente do partido que tinha mais afinidades com esse seu passado - o SD.

O primeiro presidente do partido, Anders Klarström, vinha do Nordiska Rikspartiethad ("Partido do Reino Nórdico"), que por sua vez  provinha da Sveriges nationalsocialistiska kampförbund ("Liga de Combate Nacional-Socialista Sueca"). Tinha ligações estreitas com neo-nazis alemães (NPD) e os norte-americanos de David Duke (um dos actuais apoiantes de Donald Trump).

Contudo, a partir das eleições de 1994, impôs-se dentro do SD uma tendência para camuflar a ostentação ideológica e Klarström foi afastado da direcção. Sucedeu-lhe Mikael Jansson, que começou por proibir aos membros do partido envergarem uniformes nazis em actos públicos.

Em todo o caso, Jansson manteve a teia de ligações internacionais do SD a outros partidos de extrema-direita (FN em França, FP na Áustria, Republicanos na Alemanha, Aliança Nacional em Itália). Ao mesmo tempo que participava activamente na rede internacional Euronat, lançada pela FN francesa, expulsava do partido a ala nazi, mais renitente e mais causadora de embaraços, que logo criou os "nacional-democratas", um pequeno partido nazi.

Nos anos seguintes, o partido foi dirigido por um quadrumvirato, com Jimmie Åkesson, Björn Söder, Mattias Karlsson e Richard Jomshof. O chamado "gang dos quatro" prosseguiu a purga do partido, em que numerosos comentadores viram uma prolongada "Noite das Facas Longas".

A "Noite das Facas Longas" foi, em 2 de julho de 1934, o golpe de Estado dentro do partido nazi, em que Hitler o purgou dos populistas à frente das Secções de Assalto, liquidando Ernst Röhm, e também do mais vocal utilizador da demagogia socializante, Gregor Strasser
O partido adoptou mesmo, a partir de 2003, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, e retirou da bandeira o facho que era, até então, o seu símbolo.

A viragem retórica do SD deu os seus frutos, nomeadamente na espectacular adesão do deputado do Partido Moderado, Christer Andersson, que justificou a sua cambalhota de trânsfuga precisamente na nova razoabilidade do SD.

A partir de 2005, Jimmie Åkesson chamou a si toda a autoridade que antes estava partilhada pelo quadrunvirato, prosseguindo e acentuando a operação de cosmética parlamentarista: continuou a campanha de expulsão de skin-heads e adoptou um discurso de apropriação das regalias sociais obtidas nas décadas de prosperidade social-democrata.

Mas essa apropriação surge sempre como contraponto dos desenvolvimentos mais recentes: o SD coloca ao eleitorado o dilema de conservar o "Estado social" dos tempos de Olof Palme, ou acolher imigrantes, permanecer na União Europeia, tolerar a criminalidade. Propõe por isso fechar as fronteiras, mobilizar o Exército para impedir a imigração irregular, deportar  sem papeis, promover um referendo para conseguir o Brexit sueco, e acabar com os casamentos entre casais do mesmo sexo.

A pergunta-desafio que, no parlamento, Åkesson atirou á cara do primeiro-ministro social-democrata Löfven é, ao mesmo tempo, uma homenagem à social-democracia do tempo de abundância e uma crítica mordaz aos social-democratas e conservadores dos governos mais recentes: "Em que queres investir o dinheiro - no bem-estar ou na imigração?"
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