O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deu esta quarta-feira por encetada a ofensiva militar contra combatentes curdos no nordeste da Síria. Os militares turcos, auxiliados pelos sírios, começaram a entrar esta quarta-feira à noite no nordeste da Síria, numa ofensiva terrestre. Donald Trump considerou ofensiva "má ideia" e ameaçou "destruir" economia turca.
#OperationPeaceSpring will neutralize terror threats against Turkey and lead to the establishment of a safe zone, facilitating the return of Syrian refugees to their homes.
— Recep Tayyip Erdoğan (@RTErdogan) 9 de outubro de 2019
We will preserve Syria’s territorial integrity and liberate local communities from terrorists.
De acordo com Erdogan, a operação “neutralizará as ameaças terroristas contra a Turquia e levará ao estabelecimento de uma zona segura, facilitando o retorno dos refugiados sírios para as suas casas”.De acordo com Al Jazeera, as Forças Democráticas Sírias (SDF) apelaram aos Estados Unidos e aos seus aliados para uma “zona de exclusão aérea” para proteger dos ataques.
"A ofensiva terrestre das forças turcas foi repelida pelos combatentes do FDS na região de Tal Abyad”, disse Mustefa Bali, no Twitter.
Ground attack by Turkish forces has been repelled by SDF fighters in Til Abyad. No advance as of now.
— Mustafa Bali (@mustefabali) 9 de outubro de 2019
A ONU já manifestou preocupação com a situação. António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas disse estar "muito preocupado" com estes acontecimentos, mas não condenou explicitamente a ofensiva lançada pela Turquia, segundo um porta-voz.
Juncker sublinhou que a União Europeia não irá ajudar a financiar a criação de uma “zona segura” no nordeste da Síria.
Fahrettin Altun, um porta-voz do Presidente turco, afirma que, “durante uma chamada telefónica com o presidente Recep Tayyip Erdogan, no domingo, o Presidente Trump concordou em transferir a iniciativa da batalha contra o Estado Islâmico para a Turquia”.
No domingo, Donald Trump anunciou a retirada das tropas norte-americanas do nordeste da Síria perante a ameaça iminente de uma intervenção militar turca no país.
Em comunicado, a Casa Branca anunciou que “as forças norte-americanas não apoiarão nem se envolverão ma operação”. “As [nossas] forças que derrotaram o Estado Islâmico já não estarão na região”, acrescenta.
Trump frisou ainda que nenhum soldado norte-americano estava presente na área que foi atacada pelo exército turco.
Assim como The Guardian salienta, uma das situações que gera maior alarme com o avanço da operação militar contra a Síria consiste no destino dos campos de detenção onde se encontram cerca de 90 mil prisioneiros e familiares ligados ao grupo terrorista, controlados pelas milícias curdas.
Autoridades de um dos centros de detenção relatam um aumento de um clima de tensão desde que surgiram os rumores sobre uma possível invasão turca. “Desde a semana passada, registamos o maior número de ataques contra guardas deste campo”, revelou uma das autoridades locais ao jornal britânico. “Se eles saírem, haverá caos”, ameaçou.
Depois de o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ter anunciado o início de uma nova operação militar no nordeste da Síria contra a milícia curda das Unidades de Proteção Popular (YPG), o presidente da Comissão Europeia ainda em funções, Jean-Claude Juncker, apelou ao fim da ofensiva lançada pela Turquia no norte da Síria, ameaçando que pode deixar de ser concedido qualquer financiamento europeu ao plano turco de criar "uma zona de segurança" no território sírio.
"A Turquia deve parar com a operação militar em curso. Não irá resultar. E se o plano da Turquia é a criação de uma zona de segurança, não espere pelo financiamento da União Europeia (UE)", afirmou Jean-Claude Juncker, diante do Parlamento Europeu reunido em Bruxelas.
"A Turquia tem problemas de segurança na sua fronteira com a Síria, que devemos entender. No entanto, exorto a Turquia, bem como outros atores, a agirem com contenção. Uma incursão irá agravar o sofrimento dos civis, que já está além do que as palavras possam descrever", reforçou Jean-Claude Juncker.
"Na sequência da operação militar turca no nordeste da Síria, a União Europeia reafirma que uma solução sustentável para o conflito sírio não pode ser alcançada militarmente”, decalrou a chefe da diplomacia europeia num comunicado.
Mogherini apelou para que “a Turquia cesse a ação militar unilateral” em curso, slaientando que “as novas hostilidades armadas no nordeste do país prejudicam ainda mais a estabilidade de toda a região, aumentam o sofrimento dos civis e provocam novos deslocamentos” de pessoas.
"A zona de segurança que iremos criar permitirá o regresso de refugiados sírios ao seu país", acrescentou o líder turco.
O secretário-geral frisou, no entanto, que "o importante é evitar ações que possam desestabilizar ainda mais a região, aumentar as tensões e causar mais sofrimento humano". Jens Stoltenberg acrescentou ainds que a Turquia deve agir com "contenção" e que qualquer ação deve ser "proporcional".
O secretário-geral da NATO pretende discutir esta ação militar com o líder turco na próxima sexta-feira, em Istambul.
A organização humanitária afirmou estar "profundamente preocupada com os danos que esta escalada pode causar numa população que já está a sofrer" e lembrou que 11,7 milhões de sírios ainda precisam de ajuda humanitária.
No nordeste sírio, "centenas de milhares de pessoas em campos de refugiados, detidas ou em diversas localidades, estão novamente em risco de conflito", alertou o diretor do CICV para o Médio Oriente, Fabrizio Carboni.
Segundo a Cruz Vermelha, há pelo menos 100 mil pessoas a viver em campos de refugiados ou deslocados no nordeste da Síria, como o acampamento de detenção de Al Hol, na província de Idlib, que concentra quase 70 mil pessoas.
Os curdos - que anteriormente contavam com o apoio dos EUA - consideram a saída das tropas norte-americanas na fronteira com a Síria uma “facada nas costas”. Em comunicado, as Forças Democráticas Sírias prometem “escudos humanos” para impedir o avanço das tropas turcas.
Várias vozes dentro do próprio partido Republicano censuraram, igualmente, a decisão da Administração Trump. A antiga embaixadora dos EUA, Nikki Haley, acusou Trump de ter abandonado os curdos.
“Devemos proteger sempre os nossos aliados se esperamos que também eles nos protejam. Os curdos foram fundamentais na nossa luta bem sucedida contra o Estado Islâmico na Síria. Deixá-los morrer é um grande erro”, escreveu Haley num tweet.
O Presidente dos EUA recusa, no entanto, as acusações de que a retirada das tropas norte-americanas se traduza numa abertura do caminho a uma ofensiva militar da Turquia aos curdos e diz não ter abandonado os curdos.
“Podemos estar num processo de saída da Síria, mas não abandonámos de qualquer forma os curdos, um povo especial com combatentes magníficos”, escreveu Donald Trump no Twitter.
Num outro tweet, Trump ameaçou destruir a economia da Turquia: “Se a Turquia fizer algo que eu, em minha grande e incomparável sabedoria, considere estar fora dos limites, destruirei e obliterarei totalmente a economia da Turquia (já fiz isso antes!)”.
Na segunda-feira, o Pentágono afirmou que “infelizmente, a Turquia decidiu agir unilateralmente” e que as forças norte-americanas foram removidas “para garantir a segurança”.