Erdogan carimba reeleição mas enfrenta Turquia mais dividida do que nunca

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Necati Savas - EPA

Recep Tayyip Erdogan foi reeleito presidente da Turquia à segunda volta, permanecendo assim mais cinco anos no poder. Erdogan inicia agora um inédito terceiro mandato no cargo, que já ocupa há 20 anos. Com um país mergulhado numa crise económica, Erdogan enfrenta uma Turquia mais dividida do que nunca, já que venceu estas eleições com apenas quatro pontos percentuais de vantagem.

Erdogan conquistou, no domingo, mais cinco anos à frente dos destinos do país.

“Os 85 milhões de cidadãos venceram hoje”, disse Erdogan perante a multidão que se juntou, na noite de domingo, em frente ao palácio presidencial. “A Turquia venceu! A nossa democracia venceu!”, proclamou.

“O resultado destas eleições mostrou, mais uma vez, que ninguém pode ter a coragem de mudar as liberdades e as conquistas deste país”, disse o presidente turco ainda antes de serem conhecidos os resultados oficiais.
No entanto, o resultado destas eleições mostrou também que a popularidade de Erdogan está em decréscimo, já que esta foi a primeira vez que o presidente foi obrigado a ir a uma segunda volta. Segundo os dados provisórios revelados pelo Conselho Eleitoral da Turquia, Erdogan venceu estas eleições com 52 por cento dos votos, enquanto o seu adversário terminou a segunda volta com 48 por cento.

Os quatro pontos percentuais que separam Erdogan de Kamal Kiliçdaroglu, líder do Partido Republicano do Povo, de centro-esquerda, são um prenúncio da Turquia profundamente dividida que o presidente defrontará, para além da crise económica que assola o país.

A Turquia é agora uma nação dividida e com uma economia em crise e os críticos dizem que Erdogan não tem solução para nenhum dos dois problemas.
O que esperar de Erdogan e do seu novo mandato?
O combate à inflação vertiginosa é, precisamente, uma das questões mais urgentes da Turquia neste momento, apontou Erdogan no seu discurso no domingo, considerando, no entanto, que este problema não será difícil de resolver.

“A questão mais urgente dos próximos dias é eliminar os problemas decorrentes dos aumentos de preços causados pela inflação e compensar as perdas de bem-estar”, disse o presidente. “A inflação também vai cair, vocês vão ver”, acrescentou.

Outra das prioridades para Erdogan é “reconstruir as cidades que desabaram nos terramotos de 6 de fevereiro e ajudar as pessoas a encontrar uma vida melhor”.

“É altura de deixarmos para trás as disputas da campanha eleitoral. Está na altura de nos concentrarmos nos nossos objetivos nacionais, nos nossos sonhos e de nos unirmos em torno dos objetivos que partilhamos”, apelou Erdogan

Mas o apelo à união soou vazio, já que Erdogan retomou de seguida a sua retórica agressiva, apelidando a oposição de “terrorista” e “defensora do lobby LGBT”.

As suas palavras na noite de domingo sugerem um Erdogan ainda mais nacionalista e absolutista e que os direitos humanos e a liberdade de expressão serão ainda mais visados nos próximos cinco anos.

Em entrevista à Antena 1, a socióloga Deniz Altuntas, professora da universidade Kadir, em Istambul, afirma que os discursos extremados por parte dos dois candidatos, Erdogan e Kiliçdaroglu, particularmente contra os sírios, vieram agravar ainda mais o problema da xenofobia. No domingo, o presidente turco anunciou ter chegado a um acordo com o Catar que permitirá que mais de um milhão de refugiados Sírios regresse ao seu país de origem.

Altuntas prevê também que os próximos anos serão ainda mais difíceis para as mulheres, uma vez que a coligação de Erdogan, que trouxe pela primeira vez um partido extremista islâmico para o Parlamento, o Hudapar, vai significar um retrocesso para os direitos das mulheres na Turquia.

Erdogan iniciou a sua presidência em 2014 e em 2018 tornou-se presidente e chefe de Governo. Erdogan lidera um sistema presidencialista, mantendo uma liderança vertical, nacionalista baseada no Islão político.
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