Erdogan elogia relações com Washington mas deixa aviso a Trump

por Christopher Marques - RTP
Kevin Lamarque - Reuters

Recebido na Casa Branca, o Presidente da Turquia mostrou-se otimista quanto ao futuro das relações entre Ancara e Washington. Os dois líderes prometeram trabalhar juntos no combate ao terrorismo, mas Erdogan vincou a sua linha vermelha: as milícias curdas do YPG não são aceitáveis. Donald Trump preferiu não abordar publicamente os temas difíceis: nem Fethullah Gulen, nem o apoio às milícias curdas.

Num momento de tensão entre os dois países, Donald Trump recebeu Recep Tayyip Erdogan na Casa Branca. Os dois países estão juntos no combate ao autoproclamado Estado Islâmico, mas as relações entre as duas nações já foram mais pacíficas.

A Turquia está contra o apoio que Donald Trump decidiu dar às milícias curdas do YPG que estão a combater os jihadistas do Estado Islâmico.

Apesar de apoiar a luta contra o Estado Islâmico, Ancara considera que a milícia curda é um braço armado do PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, visto como um grupo terrorista pelas autoridades turcas, pela Europa e pelos próprios Estados Unidos.

Donald Trump preferiu deixar o tema de fora do encontro com a comunicação social que antecedeu a reunião na Casa Branca. Mas o Presidente turco vincou o que separa os dois países.

“Não há espaço para organizações terroristas no futuro da nossa região”, deixou claro. Erdogan acrescentou mesmo que as atividades do YPG “nunca serão aceites” por Ancara e que o apoio "vai contra o acordo global que alcançámos”.

Sem mencionar os pontos de desacordo, Donald Trump elogiou os contributos de Ancara no combate ao terrorismo. Garantiu que a Turquia pode contar com o apoio dos Estados Unidos e prometeu incrementar as trocas comerciais entre os dois países.

“Tivémos uma ótima relação e iremos torná-la ainda melhor”, prometeu. O homólogo turco anotou que esta visita se apresenta como “uma viragem histórica” nas relações entre os dois países.Gulen entre Trump e Erdogan

A separar os dois países está ainda a recusa norte-americana em extraditar Fethullah Gulen, que vive atualmente na Pensilvânia. Ancara acusa o clérigo turco de estar por detrás da alegada tentativa de golpe de Estado de junho de 2016. Ao lado de Donald Trump, Erdogan não deixou de assinalar o seu descontentamento perante a não extradição do clérigo turco.

Apesar das divergências e da aproximação de Ancara a Moscovo, Donald Trump foi dos únicos líderes internacionais a congratular Erdogan pela vitória no referendo constitucional. Através do referendo, o Presidente turco reforçou os poderes presidenciais e possibilitou um prolongamento da sua presidência até 2029, no que é visto como um novo passo para aproximar a Turquia de um regime autoritário.

A própria legitimidade do referendo é posta em causa, com os observadores internacionais a alertarem para as condições em que a campanha se realizou. Na teia turca junta-se ainda a violação dos Direitos Humanos, alimentada por prolongamentos sucessivos do Estado de Emergência.

Uma situação que tem servido para uma verdadeira purga de funcionários públicos, impor limites à liberdade de imprensa, prender jornalistas e limitar a independência do poder judicial. Os norte-americanos não estão alheios a esta realidade.

Um grupo de deputados democratas e republicanos escreveu a Donald Trump para que o Presidente norte-americano apele ao respeito pelos Direitos Humanos na Turquia.

Mas nem tudo são diferenças. Apesar das divergências, a Turquia apresenta-se como um importante aliado para os Estados Unidos, tal como o é para a Europa. Ancara é membro da NATO, sendo absolutamente vital para o combate ao autoproclamado Estado Islâmico.
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